A era que desenha um crime contra a história do CRVG

A inacreditável derrota para o Vitória por 2 a 1 no Barradão, mesmo jogando com um homem a mais desde os 33 minutos do primeiro tempo, é apenas mais um capítulo agoniante, em uma sequência de vexames que marcam uma das gestões mais desastrosas da história do Vasco. Não bastasse perder de virada em Salvador, o clube já havia passado pelo constrangimento internacional de ser derrotado em casa pelo Puerto Cabello, da Venezuela, um time de segunda linha por lá, que jamais teria condições de competir com um Vasco minimamente estruturado. Esses resultados deploráveis não são coincidência e sim consequência direta da incompetência, do despreparo e da desorganização interna da direção.

Pedrinho, que assumiu a presidência prometendo resgatar a identidade do Vasco, mostrou-se até aqui um gestor perdido, incapaz de tomar decisões com firmeza, refém de relações pessoais e completamente desconectado das necessidades do clube. A permanência de Felipe Loureiro como diretor técnico foi o retrato mais claro dessa tragédia administrativa. Felipe se manteve até aqui no cargo, fundamentalmente por ser amigo de infância do presidente. Não tem preparo, não tem resultados, não tem justificativa alguma para continuar onde está. A manutenção de seu cargo, após as declarações dadas pós jogo frente ao Operário-PR, foram inadmissíveis. Não podemos esquecer que as derrotas seguidas e as inaceitáveis performances, principalmente nos últimos dois jogos, são reflexos da sua incapacidade em comandar o futebol do Vasco. Ao menosprezar um atleta em público, com todas as letras, num discurso concatenado e irresponsável, atingindo, por conseguinte, um ativo do clube, Felipe contribuiu diretamente para a desvalorização do elenco e para um provável estremecimento de sua relação com o plantel.

As decisões técnicas e administrativas têm sido, em sua maioria, desastrosas. Contratações de jogadores foram feitas sem critério, sem convicção, sem análise de elenco, que já é inchado. É visível o nível de improvisação e péssimo profissionalismo que toma conta da formação do conjunto de dentro e de fora das quatro linhas, afinal já vamos para o quarto treinador em um ano (excluindo da conta o interino Felipe). O resultado disso está em campo: um time frágil, sem padrão, incapaz de competir com clubes menores do futebol brasileiro e, pior, sendo superado por equipes do nível da que enfrentamos quarta-feira passada.

A gestão ainda tomou a injustificável decisão de vender o mando de campo do jogo contra o Palmeiras para Brasília. Isso afastou o Vasco de São Januário por quase um mês, tirou o time do calor da sua torcida e prejudicou ainda mais a já combalida relação entre ela e a direção. É uma atitude pequena, medíocre, que só evidencia o quanto esta diretoria não compreende, ou ignora, o valor simbólico e esportivo de sua própria casa. A situação foi tão esdrúxula que o próprio estádio Mané Garrincha, utilizado como mando de campo do Vasco, ficou todo em verde, homenageando o Palmeiras, time visitante da partida, após o jogo. Isso expõe ainda mais a falta de respeito ao clube. Foi, em síntese, uma tola opção de gestão.

No campo financeiro a situação é ainda mais alarmante. A gestão atual lançou o Vasco em um processo de recuperação judicial (antiga concordata), tentando renegociar uma dívida de aproximadamente R$ 900 milhões (a dívida fiscal que chega a R$500 milhões não entra na recuperação judicial), anunciando há dias como receita do ano passado 473 milhões e após fechar um contrato, apenas concernente a cotas de TV e placas publicitárias (com algumas plataformas ainda não negociadas) de 1,2 bilhão para os próximos cinco anos.

A partir do momento que o Vasco entra em recuperação judicial, o clube passa a sinalizar ao mercado, que não possui condições mínimas financeiras de arcar com seus compromissos e se apresenta como um “mau pagador”, jogando nela, inclusive, débitos com instituições, que lhe disponibilizaram atletas, usufruídos atualmente pelo próprio clube. Essa situação não é bem vista externamente e pode afetar negócios futuros dos mais variados. A alternativa, irresponsavelmente buscada, ao invés de ser um sinal de reestruturação palatável, passa a ser um alerta negativo para quem quer transacionar com o Vasco. Não houve debate prévio, quando o assunto veio à torcida em reunião de Conselho, transmitida para o mundo todo. Não houve discussão. Não houve diálogo. A torcida/sócios, que deveriam ser informados com detalhes do significado dessa aventura, com justificativas sobre o passo a passo do processo, já veem o clube e a SAF imersos num contexto vulnerável, desnecessariamente, numa escolha que não teve sequer consulta formal ao quadro social.

A sensação é de absoluto abandono. A atual gestão transformou o Vasco num clube à deriva, onde decisões são tomada sem critério técnico, sem responsabilidade institucional, sem necessária ligação com a grandeza da camisa que se representa. A torcida que lota estádios, paga mensalidades na qualidade de sócios, compra produtos, é tratada como um estorvo, quando cobra, e não como a alma viva do clube (assim enxergada apenas em situações convenientes). Não há escuta, não há respeito, não há consideração. A atual diretoria age como se o clube fosse um quintal pessoal, como se tivesse o direito de dilacerar um patrimônio intangível, que é coletivo.

Nunca, em nenhuma era, o Vasco passou por uma crise política e institucional tão profunda, tão vergonhosa, tão devastadora. Nem nas piores administrações do passado se viu tamanha falta de rumo, tamanha desconexão com o que é ser Vasco. Essa gestão não fracassou apenas nos resultados: ela fracassou moralmente, institucionalmente, simbolicamente. Transformaram o Vasco num clube irreconhecível. O que está acontecendo não é apenas preocupante. É deplorável. É revoltante. E se não houver reação imediata, o clube seguirá ladeira abaixo, diante dos olhos de milhões.

Tiago Scaffo.

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