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Atropelo e desproteção do clube, sem fiscalização dos Conselhos

O que ocorreu na reunião do Conselho Deliberativo do Club de Regatas Vasco da Gama, realizada no dia 11 de junho de 2025, na sede náutica da Lagoa, representa mais um grave capítulo do processo de esvaziamento democrático e de atropelo promovido pela atual gestão.

Sem um debate mais extenso e com visível desrespeito à participação efetiva dos órgãos estatutários, a diretoria impôs a votação de um estatuto (elaborado por ela própria) da Sociedade de Propósito Específico (SPE), entidade que irá gerir patrimônio e decisões estratégicas que impactarão diretamente o presente e o futuro do Vasco.

Desde o início, o CASACA! e vários conselheiros alertaram: não se trata de decisão administrativa comum, mas de um movimento estrutural e complexo, que exige profundo debate, responsabilidade e, acima de tudo, a participação soberana dos sócios, legítimos donos da instituição.

É fundamental deixar registrado que, na Assembleia Geral Extraordinária anteriormente realizada, os sócios autorizaram tão somente a constituição da SPE, sem qualquer deliberação sobre o conteúdo de seu estatuto social. A gestão avançou na definição unilateral de cláusulas e regras, sem a necessária oportunização de debates aprofundados, elaboração de emendas, além do fato de que nenhuma comissão para a elaboração do estatuto foi convocada nos Conselhos.

É evidente que o Conselho Deliberativo do Vasco, quando aprovou a constituição de uma Sociedade de Propósito Específico, não estava abrindo mão de discutir os termos, a forma de controle e de fiscalização, uma vez que a empresa só existirá para satisfazer algo vinculado ao patrimônio do próprio Vasco e com apenas o clube como ÚNICO acionista. É óbvio, também, que, sendo a criação de algo não previsto no estatuto, o seguimento de tal criação, uma vez umbilicalmente ligado ao clube, teria de ser discutido de forma densa e passando por trâmites similares às criações surgidas de interesse do próprio clube. Ademais, o artigo 37 do Regimento Interno do Conselho Deliberativo é claro: “O Conselho Deliberativo, como poder supremo do Clube, resolverá qualquer dúvida ou questão não prevista no estatuto ou neste Regimento Interno.” A questão (estatuto da SPE), de alto interesse do Club de Regatas Vasco da Gama, está, portanto, prevista para ser discutida, considerando o Regimento Interno. E o procedimento similar ao adotado em reformas estatutárias e criação de códigos das mais variadas ordens seria o caminho natural a seguir no caso em tela.

No Conselho de Beneméritos, já haviam sido levantados diversos pontos sensíveis, que exigiam reflexão, tais como: a necessidade de elaboração de um Regimento Interno da SPE, com importante papel entre as competências das comissões dos Conselhos Deliberativo e de Beneméritos sobre o tema; a própria vinculação do Estatuto da SPE, mais do que a legislações específicas, também aos Poderes colegiados do clube, como órgãos de controle (inclusive de um percentual das verbas que foge ao controle do Poder Público e perfaz 20% do valor total do Potencial Construtivo, ou seja, R$ 100.000.000,00); e a absoluta falta de debate prévio, que permitisse aos interessados estatutariamente avaliar, com a devida profundidade, o tema de forma mais abrangente e segura ao clube.

Durante a própria sessão do Conselho Deliberativo do dia 11/06, diante da gravidade das lacunas e das inúmeras dúvidas levantadas, foram colocadas quatro propostas para apreciação, duas delas (a terceira e a quarta) oriundas de debate ocorrido no âmbito do Conselho de Beneméritos, em reunião anterior à do Conselho Deliberativo, ocorrida no fim da tarde do mesmo dia.

1️⃣ Aprovação direta (SIM) do Estatuto da SPE, como defendido pela gestão;

2️⃣ Rejeição total (NÃO) do Estatuto da SPE;

3️⃣ Aprovação condicionada à posterior elaboração de um Regimento Interno, conforme proposta encaminhada pelo Grande Benemérito Alexandre Bittencourt, incorporando as demandas levantadas pelas comissões dos Conselhos Deliberativo e de Beneméritos;

4️⃣ Remarcação da votação para o dia 17 de junho de 2025, como sugerido pelo Benemérito Sérgio Frias, permitindo o necessário debate plural, a apresentação de emendas e o devido amadurecimento da matéria.

Mesmo diante de propostas sensatas, que visavam proteger o Clube e respeitar seu processo institucional, a gestão e seu agrupamento político, fundamentalmente, optaram pelo caminho da mera anuência aos desejos da administração, ignorando as ponderações e os questionamentos apresentados.

O resultado da votação, considerando a manifestação de vários conselheiros de oposição, membros do corpo de Beneméritos e apenas um conselheiro da situação — fora da diretoria administrativa —, manifestando intenção prévia de não dar aceite à proposta do sim pura e simplesmente, deixa evidente o cenário de esvaziamento do debate.

Os votos no Conselho Deliberativo foram assim divididos:

Abstenção: 0 (zero);

Favoráveis à aprovação direta do Estatuto da SPE: 14 votos no plenário presencial e 72 votos no plenário virtual, totalizando 86 votos;

Favoráveis à rejeição total: 5 votos no plenário presencial e 0 voto no virtual, totalizando 5 votos;

Favoráveis à proposta de Alexandre Bittencourt (aprovação com Regimento Interno obrigatoriamente construído com participação das comissões oriundas dos Conselhos de Beneméritos e Deliberativo do Vasco): 1 voto presencial e 6 votos virtuais, totalizando 7 votos;

Favoráveis à proposta de Sérgio Frias (adiamento para o dia 17/06 e abertura para emendas e debates, considerando, também, como positivos os pontos inerentes à construção do Regimento Interno, levantados imediatamente acima): 9 votos presenciais e 12 votos virtuais, totalizando 21 votos.

Após os votos favoráveis à aprovação direta, a quarta proposta foi a que recebeu a maior adesão do Conselho, deixando claro que havia significativa parcela de conselheiros cientes da complexidade da matéria e defensores de um debate mais profundo, com ampla participação dos Conselhos e cuidados diversos a serem tomados em defesa do Vasco, para além de administrações.

O Casaca! permanece firme na defesa consistente do Club de Regatas Vasco da Gama.

A diretoria passará. O Club de Regatas Vasco da Gama, sua história de luta, resiliência, zelo, cuidado e consequente proteção institucional, permanecerão.

Casaca!

Nota Oficial: AGE e SPE de 23/05/2025

Nas últimas 48 horas, o CASACA!, representado pelo Benemérito Sérgio Frias e com o respaldo integral de todo o grupo, foi diligente, visando a assegurar a proteção institucional do Club de Regatas Vasco da Gama no processo em curso de constituição de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE).

A ação se deu a partir da preocupação com riscos e implicações associados à formação de uma SPE vinculada ao Clube.

Diante disso, houve a mobilização imediata junto a figuras proeminentes do clube, representantes de poder e da Comissão de Patrimônio dentro do Conselho de Beneméritos, dialogando, debatendo e alertando a todos, com o objetivo de garantir que os princípios estatutários do Club de Regatas Vasco da Gama fossem respeitados.

Como resultado dessa atuação e da movimentação de outros, foram promovidas alterações relevantes tanto no texto do Estatuto da SPE (ainda em construção) quanto no edital de convocação da AGE.

Alterações no conteúdo do texto estatutário ocorreram ainda no dia 22 de maio, refletindo os esforços diretos em ajustar o processo às exigências de governança interna e proteção dos interesses do Clube relacionados à SPE.

Após amplo e intenso debate interno, o CASACA! informa que sua posição será favorável (VOTO SIM) à constituição da SPE, mas com ressalvas, considerando duas questões essenciais, posteriores à aprovação da SPE:

  1. Análise e aprovação do Estatuto da SPE pelo Conselho Deliberativo do Club de Regatas Vasco da Gama;
  2. Participação ativa e contínua das instâncias estatutárias do Clube, assegurando que qualquer iniciativa vinculada ao seu patrimônio ou operação respeite tal premissa.

Nesse sentido, comunicamos que iremos protocolar, ao longo da Assembleia Geral Extraordinária de hoje, documento requerendo que o Estatuto da SPE, enquanto em fase de construção, seja obrigatoriamente submetido à análise e deliberação dos Conselhos Deliberativo e de Beneméritos do clube. Tal providência reforça a coerência do posicionamento do grupo, sendo condição essencial para a manifestação favorável à constituição da SPE.

Reiteramos o compromisso com a institucionalidade e o cumprimento estatutário do CRVG.

CASACA!

Parabéns, Garotos do Vasco Sub-17! Campeões da Copa do Brasil e mostram caminho que a Diretoria precisa seguir

O Vasco da Gama reafirmou nesta terça-feira (6) a sua vocação histórica como clube formador ao conquistar, de maneira invicta, o seu primeiro título da Copa do Brasil Sub-17. Em uma decisão emocionante no Estádio Luso-Brasileiro, os Meninos da Colina empataram por 2 a 2 com o Bahia no tempo regulamentar, com gols de Andrey Fernandes e Cristofer, e venceram por 5 a 3 nos pênaltis, com uma defesa decisiva do goleiro Lucas Andrade. O título é simbólico: mostra que, mesmo em meio a dificuldades, o talento forjado em São Januário continua pulsando.

A história do Vasco sempre foi construída com base em sua força nas divisões inferiores. De lá saíram nomes que marcaram época, como Roberto Dinamite, maior artilheiro do clube e do Campeonato Brasileiro, e Romário, que começou sua trajetória no Vasco antes de se tornar o melhor jogador do mundo pela FIFA em 1994 e ser peça-chave na conquista do tetracampeonato com a Seleção. Outros nomes como Philippe Coutinho, Alex Teixeira, Douglas Luiz, Paulinho, Alan Kardec, Ricardo Graça, Luan Garcia, Alan, Morais, Evander e Gabriel Pec também saíram da base cruzmaltina e ganharam o mundo.

É impossível falar dessa tradição sem citar Felipe Maestro e Pedrinho, revelados em São Januário e multicampeões no final dos anos 1990. Hoje, ambos ocupam posições de liderança no clube, Felipe como diretor técnico e Pedrinho como presidente. São dois ex-atletas que conhecem, como poucos, o valor da base e sua importância no resgate do Vasco. Justamente por isso, é incompreensível e frustrante que essa gestão esteja negligenciando a integração entre os talentos formados no clube e o elenco profissional.

A diretoria atual, apesar do discurso de reconstrução, insiste em repetir erros de outras administrações recentes ao priorizar contratações que pouco contribuem tecnicamente, ignorando o potencial dos jovens que vestem a cruz de malta desde cedo. Falta planejamento, convicção e, sobretudo, sensibilidade para perceber que a base é mais do que uma promessa: é um ativo estratégico, esportivo e financeiro. Ver Felipe e Pedrinho, figuras que simbolizam essa tradição, não atuando firmemente para promover essa conexão é decepcionante. Justamente quem viveu essa transição e sabe o peso de uma oportunidade no time principal deveria liderar esse movimento com convicção.

O título da Copa do Brasil Sub-17 é mais do que uma taça: é um sinal claro de que o caminho está traçado. Cabe agora à gestão reconhecer esse potencial e agir com coerência. A mescla entre juventude e experiência sempre foi uma receita segura no futebol. No Vasco, ela está sendo desperdiçada.

Valorizar a base não é o único caminho, mas certamente é um dos principais para que o Vasco volte a ser protagonista de sua própria história, e da história do futebol brasileiro. Os Meninos da Colina mostraram que estão prontos para dar o próximo passo. Resta saber se quem comanda o clube terá a grandeza de olhar para dentro e reconhecer que o verdadeiro futuro do Vasco já está sendo moldado, e como sempre, em São Januário.

Tiago Scaffo

De Ídolo a Alvo

O Vasco da Gama atravessa um dos períodos mais conturbados de sua história recente, marcado por decisões administrativas controversas, falta de planejamento e um distanciamento crescente entre a diretoria e sua apaixonada torcida. A gestão atual, liderada por Pedrinho, tem acumulado erros que comprometem não apenas o desempenho esportivo, mas também a credibilidade institucional do clube.

A ascensão de Pedrinho à presidência foi inicialmente recebida com simpatia por boa parte da torcida. Ex-jogador do clube e comentarista de TV, ele carregava consigo uma imagem positiva, associada a um período bom da história vascaína e reforçada por sua postura técnica, comentando futebol, uma vez na imprensa. No entanto, ao assumir a presidência, a relação simbólica com a torcida deu lugar à realidade dura das cobranças por resultados e gestão eficaz. A empatia inicial se transformou em frustração, sobretudo quando decisões fundamentais começaram a expor a falta de preparo e comando.

Em maio de 2024, já com o controle do futebol de volta ao clube, após a ruptura com a 777 Partners, a diretoria permitiu que o técnico português Álvaro Pacheco, contratado ainda na transição, assumisse o cargo. Sua estreia resultou em uma derrota inaceitável por 6 a 1 para o Flamengo, a maior sofrida pelo Vasco na história do clássico. Pacheco permaneceu apenas 30 dias no cargo, com um desempenho de três derrotas e um empate, sendo demitido em junho. Pedrinho demorou dois dias para se pronunciar após o vexame citado, agravando a sensação de omissão.

Ainda no final de 2024, houve a tentativa frustrada de contratar Renato Gaúcho, que recusou o convite por divergências salariais. Essa tentativa, seguida pela chegada de Fábio Carille já em 2025, escancarou a ausência de planejamento técnico. O elenco, por sua vez, teve nas contratações de atletas, com poucas exceções, performances até aqui não correspondidas quanto às expectativas, sendo amplamente alvo de contestação por parte da torcida.

No plano econômico-financeiro, a gestão se mostrou desorganizada. O balanço patrimonial de 2023 foi apresentado com mais de três meses de atraso, revelando uma dívida de R$ 212 milhões. Posteriormente, em fevereiro de 2025, o clube ingressou com um pedido de recuperação judicial para reestruturar uma dívida estimada em R$ 1,4 bilhão. A medida, anunciada sem debate prévio com os sócios e nenhum na reunião que definiu a escolha pelo caminho da Recuperação Judicial (antiga Concordata) no Conselho Deliberativo, apesar de inúmeros questionamentos dos conselheiros não vinculados à situação. Pouco mais de um mês depois, foi apresentado pela empresa que fará a função de Administrador Judicial na Concordata um número de admissões do mês de maio em diante, superior a 100 funcionários (contra pouco mais de 30 demissões), enquanto o clube alegava dificuldades financeiras e se punha numa situação falimentar, em relação à SAF, no discurso de dentro da própria direção, fora as compras de direitos econômicos, que fizeram dessa gestão, no século, a que mais gastou com esse modelo de contratação, em considerando o Vasco tomando as rédeas do futebol, como sempre ocorreu em mais de 125 anos, dos seus quais 127 anos de vida.

Um episódio emblemático dessa desorganização financeira foi a dívida com o São Paulo pela contratação do zagueiro Léo. O Vasco adquiriu o jogador em 2023 por R$ 17 milhões, mas pagou apenas 45% do valor acordado. Mesmo sem quitar a dívida, o clube carioca vendeu o atleta ao Athletico-PR por R$ 12,5 milhões. Diante da inadimplência, o São Paulo acionou a CBF e a Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), e considerou recorrer à FIFA para solicitar sanções contra o Vasco, como o impedimento de registrar novos jogadores, enquanto o clube jogou na recuperação judicial o débito .

No campo institucional e organizacional, a gestão Pedrinho demonstrou fragilidade. Não houve posicionamento firme em episódios cruciais, como as polêmicas do Campeonato Carioca de 2025, a falta de pressão institucional frente à FERJ em arbitral prévio à competição, ou quanto à vontade exposta de atuar contra o Flamengo no Campeonato Brasileiro de 2025 em São Januário e a omissão posterior à fala. A condução administrativa ficou marcada por relações pessoais e escolhas questionáveis, como a manutenção de aliados próximos em cargos-chave e a ausência de reações firmes e explícitas em episódios que exigiam liderança, como o recente caso envolvendo o diretor técnico Felipe, com quem Pedrinho tem relação próxima.

Tudo isso resultou em um ambiente de crescente impaciência da torcida e desgaste da figura presidencial. A imagem de Pedrinho, antes blindada por sua história no clube, passou a ser diretamente associada ao fracasso técnico, à falta de direção institucional e à desconexão com os anseios do torcedor. A situação culminou em um episódio simbólico e grave: a agressão, em Brasília, de um torcedor que protestava pacificamente contra a diretoria, cometida por um segurança do clube. Longe de ser um fato isolado, esse ato violento representa o colapso da relação entre gestão e torcida, um reflexo direto de uma administração que, em vez de ouvir e dialogar, tem preferido o silêncio, o bloqueio nas redes sociais e a repressão.

Diante desse cenário, é imperativo que a diretoria do Vasco da Gama adote uma postura mais transparente, dialogando com sócios e torcedores e estabelecendo um planejamento estratégico claro e eficaz. A reconstrução da confiança passa por reconhecer erros, abandonar relações políticas personalistas e reafirmar um compromisso institucional com os valores históricos do clube. Só assim o Vasco poderá superar a crise atual e retomar o caminho das vitórias e conquistas, dentro e fora de campo.

Tiago Scaffo

A Perda da Essência: Do Futebol de Raiz ao Modelo Importado

Houve um tempo em que o Brasil ditava o ritmo do futebol mundial. Não apenas pela excelência técnica de seus jogadores ou pelos quatro títulos mundiais conquistados (até então), mas pela forma única com que o esporte era vivido e compreendido em território nacional. Antes da chegada da Lei Pelé, em 1998, que mais de duas décadas depois desembocaria na Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), em 2021, o futebol brasileiro operava sob uma lógica muito mais conectada com sua cultura e realidade socioeconômica do que com um ideal abstrato de gestão empresarial.

Nesse cenário anterior, clubes eram, em essência, associações civis sem fins lucrativos, regidas pelo direito privado e protegidas por uma lógica comunitária e cultural. Embora marcados por problemas de governança e clientelismo político, mantinham um vínculo orgânico com suas torcidas, seus territórios e suas histórias. O futebol funcionava como uma extensão da vida social, era memória, identidade e resistência.

A Lei nº 9.615/1998, conhecida como Lei Pelé, representou uma ruptura. Substituiu a antiga Lei Zico (Lei nº 8.672/1993) e impôs uma série de mudanças com o discurso da profissionalização do esporte. Uma das principais alterações foi o fim do “passe”, mecanismo que garantia aos clubes formadores alguma retenção sobre os atletas. Embora isso tenha favorecido os jogadores do ponto de vista contratual, criou um vácuo legal que facilitou a atuação de empresários e intermediários no mercado, acelerando o êxodo precoce de talentos. O Brasil, que antes exportava craques depois de consagrá-los, passou a fornecer matéria-prima bruta, sob medida para os interesses da Europa.

Ao longo dos anos 2000, os clubes brasileiros, fragilizados financeiramente, enfrentaram crescente dificuldade de manter suas estruturas e plantéis. Em vez de revisitar e reformar o modelo associativo com base em critérios técnicos e culturais nacionais, optou-se por importar soluções jurídicas com base no modelo europeu. Esse processo culminou na aprovação da Lei nº 14.193/2021, que instituiu a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Inspirada parcialmente em estruturas de clubes-empresa europeus, especialmente da Inglaterra e da Alemanha, a SAF foi vendida como a panaceia para a crise dos clubes brasileiros. Contudo, a aplicação desse modelo em solo nacional desconsidera elementos estruturais: a ausência de regulação federativa eficiente, o pouco controle sobre o capital investido e a fragilidade institucional das entidades esportivas.

A imprensa esportiva brasileira teve papel determinante nesse processo. Longe de ser um espaço plural de debate, consolidou-se como agente ideológico da europeização. Programas e colunistas passaram a repetir, quase como mantra, que o futebol brasileiro era “atrasado” e que somente a lógica empresarial, com capital externo, CEOs e planilhas, poderia salvá-lo. Não houve espaço para questionar a viabilidade desse modelo em um país com tamanha desigualdade regional, ausência de cultura de compliance esportivo e enorme disparidade de receitas entre clubes.

Esse processo encontra um caso emblemático na trajetória recente do Vasco da Gama. Clube de origem popular e tradição inclusiva (tendo sido protagonista no movimento contra o racismo e o elitismo no futebol nos anos 1920 com a célebre Resposta Histórica), o Vasco foi um dos clubes que mais sofreu com a imposição de uma narrativa de crise crônica e incapacidade gerencial. A venda de 70% da SAF vascaína para a empresa norte-americana 777 Partners, em 2022, foi amplamente apoiada por segmentos da mídia como uma medida “inevitável” para a modernização do clube. Curiosamente, grande parte da torcida vascaína, mesmo ciente da histórica parcialidade da imprensa contra o clube, acabou aderindo ao discurso, aceitando a SAF como “única saída”. Trata-se de um caso evidente de como a mídia, ao longo do tempo, não apenas informou, mas moldou a percepção e o comportamento coletivo, mesmo em ambientes de resistência.

O modelo europeu, exaltado como padrão de sucesso, tampouco é homogêneo ou infalível. A Espanha é o exemplo mais explícito de distorção: enquanto Real Madrid e Barcelona seguem como associações com forte apoio estatal e privilégios fiscais, os demais clubes foram forçados a se tornarem sociedades anônimas. O resultado é uma liga profundamente desigual. A Alemanha, por sua vez, mantém a regra do “50+1”, que exige que os sócios do clube tenham a maioria do controle acionário, uma salvaguarda contra a perda de identidade e controle popular. Mas esses modelos são ignorados no debate nacional, que prefere importar versões adaptadas à conveniência de investidores.

Ao transformar clubes em produtos e torcedores em consumidores, o Brasil abdicou de sua liderança cultural no futebol. A essência comunitária do esporte foi sacrificada em nome de uma modernidade que, na prática, reproduz desigualdades, concentra poder e aliena o torcedor de suas próprias instituições. O país que outrora inspirou o mundo com sua irreverência e genialidade dentro de campo agora tenta desesperadamente copiar fórmulas que não respeitam sua alma.

Mais do que uma falha de gestão, trata-se de um erro de identidade. E talvez seja justamente por isso que o futebol brasileiro, apesar da abundância de talentos, vive um vazio simbólico. Perdemos a referência não porque fomos superados, mas porque abrimos mão de ser quem éramos.

Tiago Scaffo.

Palavras, apenas palavras, pequenas palavras ao vento: A fala que expôs o despreparo

As palavras de Felipe Loureiro, após o empate contra o Operário, pela Copa do Brasil, dizem muito mais sobre o momento do Vasco do que o desempenho em campo. Ao ser questionado por um jornalista na entrevista coletiva sobre a situação do zagueiro Manuel Capasso, o técnico interino e também diretor técnico do clube respondeu com desprezo: “Se você gosta dele, não tem problema, eu não gosto.” Foi desnecessário. Foi arrogante. Foi desrespeitoso.

A frase, por si só, já seria grave, mas torna-se ainda mais preocupante por ter vindo de quem ocupa duas funções centrais no futebol de um clube do tamanho do Vasco. Capasso pode estar fora dos planos, pode ter recusado propostas, pode estar envolvido em desentendimentos entre diretoria e empresário, nada disso justifica ser atacado publicamente dessa maneira. Ele é jogador do clube, e um dirigente de qualquer nível deveria saber que o respeito à instituição começa pelo respeito às pessoas que a representam.

Felipe expôs um ativo do clube com ironia. Expôs também um repórter que apenas fazia seu trabalho. E, mais uma vez, mostrou que prefere os microfones à gestão. É a vaidade se sobrepondo à função. E é justamente aí que mora o problema: o Vasco precisa de comando, não de ego.

Em campo, mais do mesmo. O empate em 1 a 1 contra o Operário foi triste de assistir, salvo por um único momento de brilho: o lindo gol de Nuno Moreira que até aqui, a única contratação de 2025 que efetivamente deu certo. O restante foi um time sem identidade, sem intensidade, sem direção.

Fora de campo, o cenário é ainda mais revoltante. O torcedor vascaíno segue sendo o maior ativo do clube. É ele quem viaja, quem lota arquibancadas pelo Brasil, quem grita, chora, canta e nunca abandona. E o que tem recebido em troca? Desorganização, falas desrespeitosas, falta de resultados e promessas vazias. A diretoria parece alheia ao que vive a arquibancada. Não responde com futebol, não responde com transparência, não responde com respeito.

Felipe Loureiro precisa entender o que significa estar à frente do futebol do Vasco. Não é sobre vencer disputas verbais. É sobre reconstruir um departamento que vive um colapso técnico e institucional há anos. É sobre liderar com profissionalismo e compromisso, não com frases de efeito.

Porque, como já se ouviu, e é cada vez mais apropriado repetir: “Quem ganha a vida com a boca é cantor”. Felipe tem falado demais e entregue de menos.

O Vasco não aguenta mais palavras. Precisa de trabalho, e trabalho competente.

Tiago Scaffo.

A base ensina: a aula do Sub-17 no clássico

O Vasco venceu — e venceu com autoridade. No clássico mais simbólico do futebol carioca, o Sub-17 cruzmaltino mostrou, mais uma vez, como se joga contra o Flamengo: com entrega, talento e consciência coletiva. A vitória por 3 a 0, que garantiu a classificação para a final da Copa do Brasil Sub-17, não foi apenas um placar expressivo. Foi uma afirmação de identidade, de projeto e, principalmente, de vascainidade viva.

Kaique abriu o caminho. Diego Minete e Andrey Fernandes completaram o serviço. E mais importante do que os nomes ou os gols foi o que se viu no comportamento do time. Maturidade, coragem e respeito pela história que carregam no peito.

O resultado coroou uma sequência irretocável do Vasco Sub-17 contra o rival em 2025. Já são três vitórias em três clássicos no ano: 3 a 1 pela Taça Guanabara, 4 a 2 no jogo de ida da Copa do Brasil, e o 3 a 0 no jogo de volta. Um placar agregado de 10 a 3, que não deixa dúvidas sobre a superioridade cruzmaltina na categoria até aqui.

E é nesse momento que vale refletir: quem acredita que a solução do Vasco está na venda do futebol, se engana. A verdadeira saída para o clube está no próprio Vasco — como sempre esteve. Está na força de São Januário, nos muros da Colina que abrigam garotos sonhadores, nos corredores do Colégio Vasco da Gama, onde muitos desses atletas foram formados não só como jogadores, mas como cidadãos identificados com a história do clube.

O Vasco não precisa de promessas milagrosas, nem de administrações aventureiras que transformam o clube em trampolim para lucros rápidos de empresários ou empresas parasitas — como se viu na breve e desastrosa passagem da 777 Partners. O que o Vasco precisa é de valorização da base, de gestão comprometida com a essência do clube e de um projeto esportivo que respeite sua tradição.

Numa temporada em que o profissional ainda busca rumo e consistência, a base aponta a direção com futebol. Enquanto se discute paciência e projetos de longo prazo, o Sub-17 entrega o presente com competência. E mais: resgata o orgulho do torcedor, em momentos em que ele anda machucado.

Essa geração mostra que o futuro pode — e deve — ser diferente. Mas para isso, precisa ser cuidada com carinho, com responsabilidade e com a grandeza que o Vasco merece.

O recado foi dado em campo. O Vasco está vivo. E a sua essência pulsa forte na base.

Fabrício Amaral

Maratona exaustiva expõe Vasco e pressiona Carille enquanto diretoria ignora impacto esportivo

O Vasco da Gama vive um dos momentos mais desgastantes da temporada. Sob o comando de Fábio Carille, o time entra em uma sequência brutal de partidas entre o fim de abril e o encerramento de maio. Embora atue oficialmente como mandante em algumas dessas datas, o clube, por decisão da diretoria, abriu mão de São Januário em jogos importantes, ampliando o número de compromissos fora de casa. A logística adotada é alvo de críticas e eleva a pressão sobre elenco, comissão técnica e bastidores.

A maratona começa no dia 27 de abril, contra o Cruzeiro, em Uberaba (MG), pelo Brasileirão. No dia 1º de maio, enfrenta o Operário-PR em Ponta Grossa pela Copa do Brasil. Em seguida, mesmo como mandante, o Vasco abre mão de jogar em São Januário e encara o Palmeiras no Estádio Mané Garrincha, em Brasília (4/5), longe de sua torcida tradicional. A sequência continua com viagens internacionais e interestaduais: visita o Academia Puerto Cabello na Venezuela (7/5), o Vitória em Salvador (10/5) e o Lanús na Argentina (13/5). Só então retorna ao Rio para jogar em São Januário contra o Fortaleza, no dia 17, seguido pelo duelo de volta contra o Operário, no dia 20. Quatro dias depois, novo jogo sem ser o mandante: clássico contra o Fluminense no Maracanã (24/5). O mês se encerrará com dois jogos agendados, a princípio, para os dias 27 e 31 de maio: contra o Melgar, pela Copa Sul-Americana, e o Bragantino, pelo Campeonato Brasileiro, ambos em São Januário.

No total, entre 27 de abril e 31 de maio, o Vasco terá disputado onze partidas, sendo oito fora de casa, se incluirmos os mandos vendidos e o clássico no Maracanã, e apenas três em São Januário. O time se torna um verdadeiro visitante em sua própria temporada, pagando um preço alto por escolhas administrativas.

A decisão de vender mandos, como no caso do jogo contra o Palmeiras, tem sido duramente criticada por torcedores e especialistas. Justificada por interesses financeiros, essa prática compromete a competitividade da equipe. O Vasco abre mão do fator casa justamente em um dos períodos mais exigentes da temporada, com jogos decisivos em três frentes: Brasileirão, Copa do Brasil e Sul-Americana. Essa estratégia evidencia uma falta de planejamento esportivo e mostra despreparo da diretoria para equilibrar finanças com desempenho em campo. Ao colocar arrecadação imediata acima da estabilidade do time, a gestão isola jogadores e comissão técnica da atmosfera de apoio que só São Januário proporciona.

O técnico Fábio Carille, pressionado por resultados e pela desconfiança de parte da torcida, enfrenta o desafio de comandar o elenco em meio a viagens incessantes, pouco tempo de preparação e adversários qualificados. Embora tenha perfil experiente e pragmático, Carille ainda busca encaixe ideal e sofre com o desgaste físico e emocional de um grupo que mal consegue treinar entre os jogos. A Sul-Americana surge como principal esperança de título, mas a maratona imposta pela logística arriscada da diretoria pode cobrar caro nas rodadas finais da fase de grupos, especialmente diante de rivais diretos como Lanús e Melgar.

Maio pode definir o rumo da temporada do Vasco. A escolha da diretoria de abrir mão de São Januário em meio a um calendário já sufocante expõe o elenco a um risco técnico enorme. A maratona como visitante é mais do que uma sequência dura: é o reflexo de uma gestão que priorizou o caixa imediato e negligenciou a base do futebol competitivo, o apoio da torcida, o descanso dos atletas e a força do mando de campo.

Tiago Scaffo.

Entre vaias e empates, Vasco vira refém da lógica “tô dentro, tô fora”

O Vasco vive um ciclo vicioso de instabilidade. A cada jogo, uma nova dúvida sobre o comando técnico. A cada resultado adverso, um novo rumor. E o empate em 0 a 0 contra o Lanús, em São Januário, pela Copa Sul-Americana, foi mais um capítulo desse enredo que parece não ter fim. A torcida saiu vaiando — e com razão. Mas é importante dizer: o problema do Vasco não é (só) o treinador. O problema é a falta de convicção, de comando e de transparência no topo.

Fábio Carille não seria o meu treinador. Nem no início da temporada, nem agora. Mas ele está no cargo. E enquanto estiver, precisa ser respaldado — ou então, substituído com clareza, planejamento e responsabilidade. O que não dá é pra seguir nessa lógica de “se ganhar, fica; se perder, cai”, como se o clube estivesse jogando uma roleta russa a cada rodada. Não dá pra brincar de “tô dentro, tô fora”, como na música do grupo Os Morenos.

Se há confiança no trabalho de Carille, que ela seja pública e enfática. Se não há, que se tenha coragem de fazer o que precisa ser feito. Porque não dá pra seguir empurrando com a barriga, esperando a próxima derrota para tomar uma decisão. Essa instabilidade só afunda o ambiente interno e desgasta ainda mais a relação com o torcedor.

E enquanto isso, Pedro Paulo continua mais preocupado em bloquear torcedores nas redes sociais do que em liderar de fato. Falta comando. Falta projeto. Falta alguém que assuma a responsabilidade. O torcedor pode aguentar fases ruins, mas não aceita mais omissão. Chega de improviso. Chega de silêncio. O Vasco precisa se reencontrar com o futebol e, consequentemente com sua torcida — e isso começa com comando. Porque Carille, goste-se ou não, é o menor dos problemas e de fácil solução.

Fabricio Amaral

Entre a Xenofobia e o Racismo: A Origem Histórica da Resistência Vascaína

Muita gente tenta reescrever a história do Club de Regatas Vasco da Gama, mas os fatos continuam sendo claros: o Vasco foi, sim, pioneiro na luta contra o racismo e a exclusão social no Brasil. E isso tem tudo a ver com sua origem, e com o preconceito que seus próprios fundadores sofreram.

Fundado por imigrantes portugueses pobres no fim do século XIX, o Vasco nasceu de um grupo social marginalizado. Sim, os portugueses eram vítimas de xenofobia no Brasil. Não é “racismo reverso”, é perseguição histórica contra imigrantes, especialmente no Rio de Janeiro, onde os lusitanos eram alvos constantes de piadas, estereótipos e exclusão social. As elites locais viam com desconfiança e desprezo qualquer instituição popular com raízes portuguesas.

Na virada do século XIX para o XX, o Rio de Janeiro vivia um processo de “higienização” urbana e simbólica, influenciado por ideais eugenistas e racistas vindos da Europa. Nesse cenário, os portugueses, apesar da branquitude, eram vistos como “degenerados” pelas elites nacionais, acusados de serem sujos, rudes, atrasados e incapazes de contribuir para o “progresso” da nação. Intelectuais da época, como Nina Rodrigues e Oliveira Vianna, reforçavam essas ideias em textos pseudocientíficos que circulavam nos meios acadêmicos e políticos. Não por acaso, os portugueses eram retratados em charges como caricaturas grosseiras, chamados de “cascudos” ou “galinhas”, e associados à ignorância e ao atraso.

Nas zonas portuárias e nos bairros operários do Rio, brigas e episódios de violência envolvendo imigrantes portugueses não eram raros, muitas vezes provocados por brasileiros que os consideravam intrusos. O preconceito também se manifestava institucionalmente: havia resistência à participação de portugueses em associações, clubes e cargos de prestígio. Em jornais da época, eram comuns textos atacando a presença portuguesa em setores do comércio e da vida pública.

É nesse contexto que surge o Vasco: como espaço de acolhimento e resistência. Assim como outros clubes de imigrantes da época (espanhóis, judeus, italianos, alemães), o Vasco se construiu como um refúgio das classes populares, dos não aceitos pela elite. Só que ao contrário de outros, o Vasco ousou ir além: enfrentou de frente o racismo no futebol brasileiro.

O que começa como um grito contra a xenofobia rapidamente se transforma em uma causa ainda maior: uma luta humanitária por dignidade, inclusão e justiça social. A experiência de exclusão sofrida pelos fundadores portugueses moldou uma sensibilidade coletiva que enxergava os negros, os operários, os pobres, os nordestinos e todos os marginalizados não como rivais sociais, mas como aliados na mesma resistência. A Carta Histórica de 1924, que recusava ceder à pressão elitista para excluir jogadores negros e pobres, é só um dos frutos mais visíveis dessa ideologia nascida da dor e da solidariedade.

O episódio da Resposta Histórica de 1924 é simbólico: o clube foi pressionado a excluir jogadores negros, pobres e analfabetos. Recusou. Preferiu sair da liga do que trair seus princípios. Foi o único. Isso em uma época em que outros clubes simplesmente barravam atletas pela cor da pele ou pelo lugar de origem.

E não foi só isso. O Vasco tinha sócios negros no início do século XX, e um deles foi presidente do clube em 1904. Funcionários como Custódio Moura alfabetizavam jogadores, formando atletas-cidadãos. Isso era revolução social.

Esse histórico, no entanto, tem um preço. Desde o início, o Vasco foi vítima de preconceito institucional. Era o “clube dos portugueses”, “do povão”, o time dos negros, analfabetos, operários. Até hoje, a imagem do Vasco ainda é alvo de piadas, estigmas e desdém, tanto de torcedores rivais quanto de parte da mídia. O preconceito nunca sumiu: ele só se adaptou.

Na verdade, a perseguição que o Vasco sofreu, por ter negros, operários e pobres no time, e por manter suas raízes populares e portuguesas, não foi apenas fruto de intolerância racial ou social, mas também da incompreensão diante de um clube que já naquela época lutava por causas humanitárias, igualitárias e equitativas. O Vasco foi perseguido por ousar defender o óbvio: o direito de todos pertencerem. E essa luta, que começou como defesa contra a xenofobia, cresceu até se tornar um manifesto em nome da dignidade humana. Foi, e continua sendo, uma luta por causas lógicas, mas que, à época, pareciam revolucionárias demais para uma sociedade ainda presa ao elitismo e ao preconceito.

Assim, o Vasco não nasceu apenas como um clube esportivo, mas como um projeto de humanidade. Um símbolo de resistência que carrega, desde o início, a herança de lutar por quem nunca teve vez, porque seus fundadores também não tiveram. A luta do Vasco é, desde sempre, a luta dos de baixo. E por isso ela é eterna.

Tiago Scaffo.