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Maratona exaustiva expõe Vasco e pressiona Carille enquanto diretoria ignora impacto esportivo

O Vasco da Gama vive um dos momentos mais desgastantes da temporada. Sob o comando de Fábio Carille, o time entra em uma sequência brutal de partidas entre o fim de abril e o encerramento de maio. Embora atue oficialmente como mandante em algumas dessas datas, o clube, por decisão da diretoria, abriu mão de São Januário em jogos importantes, ampliando o número de compromissos fora de casa. A logística adotada é alvo de críticas e eleva a pressão sobre elenco, comissão técnica e bastidores.

A maratona começa no dia 27 de abril, contra o Cruzeiro, em Uberaba (MG), pelo Brasileirão. No dia 1º de maio, enfrenta o Operário-PR em Ponta Grossa pela Copa do Brasil. Em seguida, mesmo como mandante, o Vasco abre mão de jogar em São Januário e encara o Palmeiras no Estádio Mané Garrincha, em Brasília (4/5), longe de sua torcida tradicional. A sequência continua com viagens internacionais e interestaduais: visita o Academia Puerto Cabello na Venezuela (7/5), o Vitória em Salvador (10/5) e o Lanús na Argentina (13/5). Só então retorna ao Rio para jogar em São Januário contra o Fortaleza, no dia 17, seguido pelo duelo de volta contra o Operário, no dia 20. Quatro dias depois, novo jogo sem ser o mandante: clássico contra o Fluminense no Maracanã (24/5). O mês se encerrará com dois jogos agendados, a princípio, para os dias 27 e 31 de maio: contra o Melgar, pela Copa Sul-Americana, e o Bragantino, pelo Campeonato Brasileiro, ambos em São Januário.

No total, entre 27 de abril e 31 de maio, o Vasco terá disputado onze partidas, sendo oito fora de casa, se incluirmos os mandos vendidos e o clássico no Maracanã, e apenas três em São Januário. O time se torna um verdadeiro visitante em sua própria temporada, pagando um preço alto por escolhas administrativas.

A decisão de vender mandos, como no caso do jogo contra o Palmeiras, tem sido duramente criticada por torcedores e especialistas. Justificada por interesses financeiros, essa prática compromete a competitividade da equipe. O Vasco abre mão do fator casa justamente em um dos períodos mais exigentes da temporada, com jogos decisivos em três frentes: Brasileirão, Copa do Brasil e Sul-Americana. Essa estratégia evidencia uma falta de planejamento esportivo e mostra despreparo da diretoria para equilibrar finanças com desempenho em campo. Ao colocar arrecadação imediata acima da estabilidade do time, a gestão isola jogadores e comissão técnica da atmosfera de apoio que só São Januário proporciona.

O técnico Fábio Carille, pressionado por resultados e pela desconfiança de parte da torcida, enfrenta o desafio de comandar o elenco em meio a viagens incessantes, pouco tempo de preparação e adversários qualificados. Embora tenha perfil experiente e pragmático, Carille ainda busca encaixe ideal e sofre com o desgaste físico e emocional de um grupo que mal consegue treinar entre os jogos. A Sul-Americana surge como principal esperança de título, mas a maratona imposta pela logística arriscada da diretoria pode cobrar caro nas rodadas finais da fase de grupos, especialmente diante de rivais diretos como Lanús e Melgar.

Maio pode definir o rumo da temporada do Vasco. A escolha da diretoria de abrir mão de São Januário em meio a um calendário já sufocante expõe o elenco a um risco técnico enorme. A maratona como visitante é mais do que uma sequência dura: é o reflexo de uma gestão que priorizou o caixa imediato e negligenciou a base do futebol competitivo, o apoio da torcida, o descanso dos atletas e a força do mando de campo.

Tiago Scaffo.

Entre a Xenofobia e o Racismo: A Origem Histórica da Resistência Vascaína

Muita gente tenta reescrever a história do Club de Regatas Vasco da Gama, mas os fatos continuam sendo claros: o Vasco foi, sim, pioneiro na luta contra o racismo e a exclusão social no Brasil. E isso tem tudo a ver com sua origem, e com o preconceito que seus próprios fundadores sofreram.

Fundado por imigrantes portugueses pobres no fim do século XIX, o Vasco nasceu de um grupo social marginalizado. Sim, os portugueses eram vítimas de xenofobia no Brasil. Não é “racismo reverso”, é perseguição histórica contra imigrantes, especialmente no Rio de Janeiro, onde os lusitanos eram alvos constantes de piadas, estereótipos e exclusão social. As elites locais viam com desconfiança e desprezo qualquer instituição popular com raízes portuguesas.

Na virada do século XIX para o XX, o Rio de Janeiro vivia um processo de “higienização” urbana e simbólica, influenciado por ideais eugenistas e racistas vindos da Europa. Nesse cenário, os portugueses, apesar da branquitude, eram vistos como “degenerados” pelas elites nacionais, acusados de serem sujos, rudes, atrasados e incapazes de contribuir para o “progresso” da nação. Intelectuais da época, como Nina Rodrigues e Oliveira Vianna, reforçavam essas ideias em textos pseudocientíficos que circulavam nos meios acadêmicos e políticos. Não por acaso, os portugueses eram retratados em charges como caricaturas grosseiras, chamados de “cascudos” ou “galinhas”, e associados à ignorância e ao atraso.

Nas zonas portuárias e nos bairros operários do Rio, brigas e episódios de violência envolvendo imigrantes portugueses não eram raros, muitas vezes provocados por brasileiros que os consideravam intrusos. O preconceito também se manifestava institucionalmente: havia resistência à participação de portugueses em associações, clubes e cargos de prestígio. Em jornais da época, eram comuns textos atacando a presença portuguesa em setores do comércio e da vida pública.

É nesse contexto que surge o Vasco: como espaço de acolhimento e resistência. Assim como outros clubes de imigrantes da época (espanhóis, judeus, italianos, alemães), o Vasco se construiu como um refúgio das classes populares, dos não aceitos pela elite. Só que ao contrário de outros, o Vasco ousou ir além: enfrentou de frente o racismo no futebol brasileiro.

O que começa como um grito contra a xenofobia rapidamente se transforma em uma causa ainda maior: uma luta humanitária por dignidade, inclusão e justiça social. A experiência de exclusão sofrida pelos fundadores portugueses moldou uma sensibilidade coletiva que enxergava os negros, os operários, os pobres, os nordestinos e todos os marginalizados não como rivais sociais, mas como aliados na mesma resistência. A Carta Histórica de 1924, que recusava ceder à pressão elitista para excluir jogadores negros e pobres, é só um dos frutos mais visíveis dessa ideologia nascida da dor e da solidariedade.

O episódio da Resposta Histórica de 1924 é simbólico: o clube foi pressionado a excluir jogadores negros, pobres e analfabetos. Recusou. Preferiu sair da liga do que trair seus princípios. Foi o único. Isso em uma época em que outros clubes simplesmente barravam atletas pela cor da pele ou pelo lugar de origem.

E não foi só isso. O Vasco tinha sócios negros no início do século XX, e um deles foi presidente do clube em 1904. Funcionários como Custódio Moura alfabetizavam jogadores, formando atletas-cidadãos. Isso era revolução social.

Esse histórico, no entanto, tem um preço. Desde o início, o Vasco foi vítima de preconceito institucional. Era o “clube dos portugueses”, “do povão”, o time dos negros, analfabetos, operários. Até hoje, a imagem do Vasco ainda é alvo de piadas, estigmas e desdém, tanto de torcedores rivais quanto de parte da mídia. O preconceito nunca sumiu: ele só se adaptou.

Na verdade, a perseguição que o Vasco sofreu, por ter negros, operários e pobres no time, e por manter suas raízes populares e portuguesas, não foi apenas fruto de intolerância racial ou social, mas também da incompreensão diante de um clube que já naquela época lutava por causas humanitárias, igualitárias e equitativas. O Vasco foi perseguido por ousar defender o óbvio: o direito de todos pertencerem. E essa luta, que começou como defesa contra a xenofobia, cresceu até se tornar um manifesto em nome da dignidade humana. Foi, e continua sendo, uma luta por causas lógicas, mas que, à época, pareciam revolucionárias demais para uma sociedade ainda presa ao elitismo e ao preconceito.

Assim, o Vasco não nasceu apenas como um clube esportivo, mas como um projeto de humanidade. Um símbolo de resistência que carrega, desde o início, a herança de lutar por quem nunca teve vez, porque seus fundadores também não tiveram. A luta do Vasco é, desde sempre, a luta dos de baixo. E por isso ela é eterna.

Tiago Scaffo.

A Criação da Flapress e o Impacto Negativo ao Vasco da Gama: Um Prejuízo que Vai Além das Quatro Linhas

A chamada Flapress não é apenas um termo cunhado por torcedores inconformados. É a manifestação de um fenômeno real, sustentado por interesses midiáticos que colocam o Flamengo em um pedestal, ao mesmo tempo em que rebaixam ou ridicularizam seus adversários históricos, principalmente o Club de Regatas Vasco da Gama. A parcialidade escancarada da imprensa esportiva brasileira, sobretudo da Rede Globo, ao longo das últimas décadas, é um ataque direto à isonomia do futebol nacional.

E ninguém enfrentou essa máquina com mais coragem e veemência do que Eurico Miranda. Presidente mais polêmico e combativo da história vascaína, Eurico travou uma verdadeira guerra contra a Rede Globo a partir dos anos 2000, denunciando publicamente a manipulação da narrativa esportiva, o favorecimento escancarado ao Flamengo e os prejuízos que isso causava ao Vasco dentro e fora de campo. Não se calou diante dos desmandos e não se rendeu ao poder financeiro e midiático da emissora, mesmo quando isso custou espaço, exposição e, em muitos momentos, visibilidade ao clube.

A briga com a Globo foi mais do que uma questão contratual, foi um embate político, institucional e simbólico. Eurico sabia que o Flamengo era utilizado como ferramenta de manipulação popular. Um clube com enorme massa torcedora, explorado como produto emocional para manter audiências, fidelizar públicos e, principalmente, controlar narrativas. O Flamengo se tornou, nas mãos da Rede Globo, uma verdadeira massa de manobra política e social, um “povo” uniformizado, conduzido por manchetes e transmissões que vendem heróis, escondem falhas e empurram uma ideia de hegemonia fabricada nos bastidores, não no campo.

Enquanto isso, o Vasco da Gama, clube de origem popular, pioneiro na luta contra o racismo no futebol, vencedor da Libertadores e protagonista de diversos momentos históricos, foi tratado com descaso. As conquistas vascaínas foram minimizadas; suas crises, ampliadas; seus méritos, ignorados. A Flapress, essa engrenagem midiática a serviço de um único clube, contribuiu diretamente para a deterioração da imagem do Vasco, afetando seu prestígio, sua relação com patrocinadores e até sua autoestima institucional.

Essa cobertura tendenciosa não é inocente. Trata-se de um projeto de poder. Quando a mídia deixa de informar para idolatrar, ela não apenas trai o jornalismo, ela manipula o esporte e reescreve sua história. O Vasco da Gama foi, e continua sendo, vítima dessa engrenagem. Sua torcida foi desrespeitada, sua história marginalizada, e sua luta silenciada.

Hoje, mais do que nunca, é necessário resgatar o legado de resistência de figuras como Eurico Miranda que nunca aceitou que o Vasco se ajoelhasse perante a narrativa imposta pela Rede Globo e seus aliados. A luta contra a Flapress é, portanto, uma luta por justiça, por equidade e pela soberania da verdadeira essência do futebol: a meritocracia dentro das quatro linhas.

Enquanto a imprensa seguir servindo a interesses escusos e tratando o Flamengo como uma ferramenta de manipulação emocional de massas, o futebol brasileiro continuará refém de uma farsa bem produzida, mas profundamente injusta. E o Vasco da Gama, assim como sua imensa e fiel torcida, seguirá resistindo.

Tiago Scaffo

Análise: Carille pode virar escudo político da gestão Pedrinho em momento de turbulência no Vasco.

Por Tiago Scaffo

Com a SAF sob o controle total do associativo, o Vasco da Gama entrou oficialmente em uma nova era. Sem a 777 Partners, toda a responsabilidade pelas decisões (esportivas, financeiras e institucionais) agora recai sobre a gestão comandada por Pedrinho. E, junto com o poder, vieram os ruídos.

As últimas semanas têm sido marcadas por declarações desencontradas, falta de clareza sobre o planejamento, contratações e cobranças crescentes por parte da torcida. Em campo, os resultados ainda não apareceram como esperado. E, nos bastidores, cresce a leitura de que Fábio Carille pode acabar sendo usado como escudo político para desviar o foco das críticas que, inevitavelmente, começam a atingir a cúpula vascaína.

Carille chegou com o selo de técnico vencedor, experiente, e com carta branca para implementar seu estilo. Foi uma escolha da gestão. Recebeu apoio institucional e teve autonomia. A expectativa, naturalmente, era de que fosse o nome da reconstrução em campo.

Mas com o time ainda oscilando em vários jogos, sem padrão claro e com dificuldades ofensivas evidentes, o ambiente começa a mudar. E a velha fórmula do futebol brasileiro de empurrar o peso da crise para o treinador, começa a se desenhar também em São Januário.

A diretoria já ensaia o discurso: “fizemos nossa parte”. Ofereceu estrutura, estabilidade e respaldo. Se o desempenho não apareceu, a culpa não é da gestão, mas da comissão técnica.

É uma estratégia conhecida. Funciona no curto prazo, pois redireciona a pressão para o vestiário e compra tempo institucional. Mas também é arriscada: em um cenário onde SAF e clube associativo são uma coisa só, não há mais desculpas. Não existe mais a 777 para dividir a responsabilidade. Agora, é tudo com o Vasco e seus gestores.

Se a diretoria decidir seguir por esse caminho e empurrar Carille ao centro da crise, pode até aliviar o calor momentaneamente. Mas a torcida não esquecerá quem está com a caneta na mão e com o poder de decisão centralizado.

Carille pode não ser a solução definitiva em campo. Mas também não pode ser o bode expiatório de um clube que ainda tenta se entender fora das quatro linhas.

Vasco trai São Januário, recua diante da pressão e ainda se apoia em acordo desmentido pela dupla Fla-Flu: diretoria expõe fragilidade e despreza torcida.

A decisão da diretoria do Vasco da Gama de manter o clássico contra o Flamengo no Maracanã, mesmo após obter liminar judicial que autorizava a realização do jogo em São Januário, escancarou de vez a fragilidade institucional, a incoerência estratégica e a incapacidade de sustentar o discurso de enfrentamento que vinha sendo propagado até então. Liderados por Carlos Amodeo, CEO da SAF, e por Pedrinho, presidente do clube associativo, os dirigentes vascaínos optaram por recuar num momento chave e, pior, fizeram isso tentando justificar sua escolha com argumentos questionáveis e agora, oficialmente, desmentidos.

Durante dias, a diretoria do Vasco alimentou um discurso firme: o clássico seria em São Januário. A torcida, mais uma vez, fez sua parte. Comprou a briga, mobilizou-se nas redes sociais e nas ruas, exigiu respeito ao seu direito de mando e, por fim, recorreu à Justiça. O resultado foi claro: uma liminar favorável, conquistada por torcedores, garantiu ao clube o direito de jogar em sua casa. A expectativa era de que o clube, enfim, afirmasse sua autonomia.

Mas, em um movimento surpreendente e contraditório, o Vasco optou por manter o jogo no Maracanã. Em seguida, anunciou a adesão a um suposto acordo com o Consórcio do Maracanã (administrado por Flamengo e Fluminense) como justificativa para essa escolha. A diretoria tentou vender essa adesão como conquista, alegando que agora o clube teria garantias para utilizar o estádio em “igualdade de condições”. No entanto, a narrativa desmoronou horas depois, quando o Fluminense, por meio de nota oficial, desmentiu qualquer acordo com o Vasco para que este integrasse a gestão do consórcio.

“A posição do Fluminense segue a mesma: o Vasco não faz parte do consórcio”, afirma a nota publicada pelo clube tricolor, deixando evidente que, mais uma vez, o Vasco construiu sua justificativa em cima de um castelo de areia.

Como se não bastasse, o Flamengo também emitiu comunicado oficial reforçando que não há qualquer novo acordo ou entendimento com o Vasco em relação à gestão ou utilização preferencial do Maracanã. A nota reiterou que o estádio segue sob administração exclusiva do atual consórcio e que qualquer solicitação de uso será tratada caso a caso, como sempre foi. Ou seja, a tentativa da diretoria vascaína de apresentar uma suposta conquista institucional ruiu também diante da negativa do outro integrante do consórcio, evidenciando que a promessa de “igualdade de condições” não passa de retórica vazia.

Não bastasse abandonar a luta por São Januário no momento em que poderia vencer, a diretoria ainda tentou legitimar sua decisão com base em um acordo que sequer existe de fato ou, se existe, não conta nem com a anuência dos principais membros do consórcio.

A incoerência é gritante. A postura é indefensável. Pedrinho, que vinha sendo visto como uma figura política alinhada à tradição vascaína e ao sentimento da arquibancada, compactua agora com uma manobra que esvazia a identidade do clube e despreza sua torcida. Já Carlos Amodeo reforça a imagem de um gestor tecnocrata, alheio ao peso simbólico e histórico de jogar em São Januário um clássico de tamanha importância.

Não se trata apenas de onde o jogo será disputado. Trata-se do que o Vasco quis representar e do que decidiu se tornar. Ao optar pelo Maracanã, mesmo com amparo judicial para jogar em casa, o clube se colocou ao lado de quem sempre lhe impôs barreiras. Ignorou a vontade popular, desprezou a história e, ainda por cima, tentou camuflar sua rendição sob a promessa de um benefício institucional que sequer se concretizou.

A decisão, além de expor o desprezo pelo torcedor, alimenta uma narrativa de submissão aos interesses de Flamengo, Fluminense, da CBF, do BEPE e da imprensa esportiva que sempre tratou o Vasco como corpo estranho ao sistema. O que era para ser um ato de afirmação virou um gesto de capitulação.

O Vasco perdeu uma chance única de mostrar força, de ocupar seu espaço, de dizer: “aqui é nossa casa”. Em vez disso, preferiu agradar ao sistema e ainda tentou mascarar a escolha com promessas vazias. O clássico será no Maracanã, sim. Mas o que realmente estará em campo será a frustração de uma torcida traída e a certeza de que, quando teve a oportunidade de agir com grandeza, a diretoria vascaína preferiu se esconder atrás de um acordo que, segundo Flamengo e Fluminense, nem existe.

Tiago Scaffo

Quando a vontade do Torcedor esbarra na Omissão da Diretoria

Em um episódio que (se confirmado) escancara o abismo entre a vontade da torcida e as decisões da cúpula administrativa, o Vasco da Gama parece ter optado por manter a partida contra o Flamengo, marcada para o dia 19 de abril, no Maracanã mesmo após obter, por meio de uma liminar judicial, o direito de realizar o confronto em São Januário, seu estádio histórico e legítimo mando de campo.

A decisão da juíza Regina Lúcia Chuqer de Almeida Costa de Castro Lima, em resposta a uma ação popular movida por dois torcedores vascaínos, Pedro de Menezes Reis e Marcus Vinicius Reis, autorizava de forma clara e objetiva a realização do clássico em São Januário. A liminar não só suspendia os efeitos da decisão do BEPE, como também permitia a presença da torcida cruzmaltina e, sob avaliação técnica fundamentada, até mesmo da torcida adversária. Trata-se de uma vitória simbólica e concreta, conquistada por vascaínos comuns em defesa de sua identidade e patrimônio esportivo.

No entanto, surpreendentemente (ou talvez nem tanto), a diretoria do Vasco (até aqui) preferiu ignorar esse triunfo popular e manteve o jogo no Maracanã, estádio administrado pelo Flamengo em consórcio com o Fluminense. Na prática, ao seguir com o clássico no Maraca, o clube se alinha às negativas do BEPE e da CBF, recusando-se a exercer o direito que lhe foi restituído pela Justiça. A pergunta que se impõe é: por quê?

O torcedor vascaíno que viu sua luta ser reconhecida nos tribunais tem todo o direito de se sentir traído. A escolha da diretoria simbolizaria não apenas uma renúncia ao mando de campo, mas também uma capitulação institucional diante de forças externas que, historicamente, limitam a autonomia do Vasco. A diretoria, que deveria ser a principal defensora do clube e de sua torcida seria omissa, cedendo espaço e narrativa ao rival e às autoridades que inicialmente vetaram o estádio cruzmaltino.

São Januário, além de representar o território vascaíno, é um símbolo de resistência, inclusão e história. Quando o clube opta por não jogar lá, mesmo podendo, reforça a ideia de que suas decisões estratégicas não são guiadas pelo interesse do torcedor, mas por conveniências políticas, pressões externas ou acordos obscuros que desconsideram a paixão de quem sustenta o clube diariamente.

É preciso reconhecer e exaltar a coragem dos torcedores que buscaram a Justiça e conquistaram o direito de ver seu time jogar em casa. São esses atos que mantêm viva a alma de um clube que nasceu da luta e da insubordinação. Já à diretoria, resta a reflexão: até quando o Vasco será refém das vontades alheias, mesmo quando a lei está ao seu lado?

O Vasco precisa resgatar sua alma histórica de clube que não se curva. Mas isso só será possível quando sua diretoria ouvir a voz da torcida, que como exemplo, nesse episódio lutou e venceu na Justiça pelo direito de jogar em São Januário. Ao ignorar essa conquista, a diretoria não apenas se omite mas trai a confiança de quem moveu a ação, enfrentou o sistema e defendeu o clube quando ele mais precisava. O torcedor vascaíno, mais uma vez é deixado (ao que parece) de lado por quem deveria representá-lo.

Tiago Scaffo.

“De Eurico a Pedrinho: O Vasco que Enfrentava e o Vasco que se Cala.”

O Vasco vive hoje, em 2025, um momento que escancara a diferença entre liderar com firmeza e aceitar passivamente imposições externas. A recente decisão do BEPE de vetar a realização do clássico contra o Flamengo em São Januário, marcada para o dia 19 de abril, expõe não apenas a já conhecida perseguição ao estádio do Vasco, mas também a fragilidade da atual presidência diante de questões cruciais para o clube.

Pedrinho, presidente do Vasco, simplesmente acatou a negativa do BEPE. Não houve contestação pública. Não houve enfrentamento político. Nenhuma coletiva, nenhuma nota forte, nenhum esforço visível para reverter uma decisão que, mais uma vez, retira do Vasco o direito de jogar em sua casa — um estádio com condições estruturais aprovadas, tradição reconhecida e importância histórica indiscutível.

Essa postura contrasta fortemente com o que vimos em 16 de julho de 2017. Naquela data, Eurico Miranda, então presidente do clube, enfrentou de frente o Comandante do GEPE. Não se calou, não recuou, e apontou com clareza o absurdo de se responsabilizar o clube por uma falha de segurança pública. Para Eurico, o Vasco era inegociável — e ele não aceitava ver o clube tratado como culpado por problemas que competem ao Estado.

Hoje, o que vemos é o oposto: um presidente calado, omisso e distante diante de um ataque direto ao direito do Vasco de exercer seu mando de campo. A diferença entre as duas posturas é gritante. Eurico, com todas as suas polêmicas, tinha coragem. Pedrinho, com toda sua imagem simpática, demonstrou fraqueza.

Não se trata apenas de um jogo. Trata-se de defender a dignidade de São Januário, a autonomia do clube e o respeito ao torcedor. Aceitar esse veto sem brigar é dar um passo para trás. É permitir que decisões unilaterais se tornem regra. É abrir precedente para que o Vasco seja tratado como clube de segunda classe em sua própria casa.

O torcedor vascaíno exige — e merece — um presidente que lute pelo clube com a mesma intensidade com que canta nas arquibancadas. Em 2017, Eurico Miranda enfrentou o sistema. Em 2025, Pedrinho se calou. E a história há de registrar essa diferença.

Tiago Scaffo.

A Contribuição do Club de Regatas Vasco da Gama para a Inclusão Social no Futebol Brasileiro a partir de 1923

No contexto da sociedade brasileira do início do século XX, marcada por estruturas socioeconômicas excludentes e pelo racismo institucionalizado, o futebol refletia as desigualdades vigentes, sendo um espaço predominantemente elitista e reservado às camadas sociais mais abastadas. No entanto, em 1923, o Club de Regatas Vasco da Gama protagonizou um episódio de ruptura com esse paradigma, ao conquistar o Campeonato Carioca com uma equipe composta majoritariamente por atletas negros, mulatos e oriundos das classes trabalhadoras. Tal feito transcendeu o aspecto esportivo, gerando um impacto social significativo e consolidando o clube como agente de transformação no cenário esportivo nacional.

A repercussão da vitória vascaína gerou resistência por parte de clubes tradicionalmente ligados às elites cariocas, os quais buscaram impor restrições à participação de jogadores considerados “inadequados” em virtude de sua origem social ou racial. Diante dessa tentativa de exclusão, o Vasco posicionou-se de maneira firme por meio da célebre “Resposta Histórica”, um documento no qual rejeitava as imposições discriminatórias da liga esportiva e defendia os princípios da meritocracia e da igualdade de oportunidades. Tal posicionamento representou um marco na luta contra o preconceito no esporte brasileiro.

O resultado desse embate foi a gradual abertura do futebol aos setores populares, promovendo a inclusão de atletas antes marginalizados pelo sistema. O clube tornou-se, assim, um símbolo de resistência e de democratização do esporte, contribuindo para a consolidação do futebol como fenômeno cultural de massa no Brasil. Além disso, a atitude do Vasco da Gama serviu de referência para futuras mobilizações antirracistas no ambiente esportivo, evidenciando o potencial do futebol como instrumento de transformação social.

Dessa forma, a atuação do Club de Regatas Vasco da Gama em 1923 configura-se como um episódio emblemático na história do esporte brasileiro, cujas consequências extrapolaram o campo futebolístico e influenciaram positivamente o processo de inclusão social e racial no país. Seu legado permanece como referência ética e política, reafirmando a importância do esporte na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Tiago Scaffo