Jornal dos Sports (29/06/1948)
No ano de 1948, o “Expresso da Vitória” já tinha sua fama reconhecida dentro e fora das fronteiras brasileiras, e por este motivo, o Vasco recebia inúmeros convites para amistosos nacionais e internacionais. Todos queriam ver de perto aquela verdadeira “locomotiva”.
E sabedor da força de seu elenco, nos meses de maio e junho, o treinador Flávio Costa montou aquele que ficou conhecido como “Expressinho”, com jogadores reservas para a disputa do Torneio Municipal, enquanto os titulares excursionavam pelo Brasil e pelo mundo.
Porém, aquela equipe de suplentes estava longe de ser um alvo fácil para os adversários. Pelo contrário. O Vasco, que lutava pelo penta da competição, chegou ao fim do torneio invicto e empatado em número de pontos com o Fluminense, forçando as finais. E só não foi campeão direto, pois o tricolor das Laranjeiras ganhou no tapetão os pontos do empate frente ao Bonsucesso na penúltima rodada (o atleta Wilson Silva do clube suburbano havia atuado de maneira irregular).
O Vasco perderia a primeira partida da decisão por 4 a 0 e precisava vencer o jogo seguinte, forçando um terceiro confronto, a chamada “negra”.
A equipe titular, que havia vencido o Bahia por 2 a 0 em partida amistosa no dia 22 de junho com Barbosa (Mariano), Rômulo e Rafaneli; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Ademir, Dimas, Tuta (Maneca) e Chico, já havia retornado e poderia reforçar o Vasco neste segundo jogo decisivo. Porém, a diretoria cruzmaltina continuava apostando no time suplente, dando força para seus jogadores:
“Os reservas continuam merecendo toda confiança, e na interpretação dos dirigentes, o afastamento dos suplentes seria duro golpe na moral dos rapazes, que até aqui vinham defendendo magnificamente as cores do clube” (Jornal dos Sports, 27/06/1948)
No dia 28 de junho de 1948, o Vasco entrava em campo com Barcheta; Laerte, Wilson; Alfredo II, Moacir, Sampaio; Nestor, Ipojucan, Dimas, Ismael e Tuta. E com o chamado “Expressinho”, venceria a peleja por 2 a 1, gols de Dimas (36 do 1º tempo) e Nestor (5 do 2º tempo), forçando um terceiro jogo final.
A Noite (28/06/1948)
“Muita gente foi ontem ao estádio da Gávea, lá no longínquo campo dos ventos uivantes, convencida que assistiria a repetição daquele baile que o Fluminense dera ao Vasco na quarta-feira última. Acontece que o maestro Flávio Costa, não tendo gostado da desarmonia do último jogo, afinou o seu bando direitinho, e mandou-o ao gramado dentro da pauta para que o diapasão da música fosse outro. E foi mesmo.
No primeiro tempo, o bailarino Orlando não acertou o passo, e como os outros quatro do ataque acompanham o seu ritmo, acabaram sem saber o que deveriam fazer, principalmente “109” que não acertava o compasso. Os fans do tricolor ficaram desapontados vendo o Vasco jogar igualzinho e, às vezes, melhor, até aquele momento cruciante em que Dimas, aproveitando uma saída em falso de Castilho, marcou o primeiro goal dos vascaínos.
O jogo andava pela altura dos trinta e seis minutos e os tricolores pensaram que havia tempo para uma reaçãozinha. Como o relógio não pára, os nove minutos passaram, sem que o Fluminense conseguisse o emapte, o que seria injusto, pois os cruzmaltinos estiveram mais afinados em suas linhas, jogando com mais harmonia.
As coisas vão melhorar no segundo tempo, pensaram os super-campeões. Começou a segunda fase, e foi água na fervura. Aos cinco minutos Nestor e Ipojucan resolveram ensinar como se dança e embrulhando a defesa contrária em passes curtos, entraram na área. Foi só Nestor chutar e a bola entrou direitinho no goal sem que Castillo pudesse impedir sua trajetória até o fundo das redes. Aquilo não estava certo.
Os de Álvaro Chaves tinham ido à Gávea para dar um baile e o Vasco estava estragando a festa. Então eles resolveram acelerar o ritmo das jogadas e aos quinze minutos, em uma confusão na porta do goal de Barqueta conseguem acertar o pé e mandar a pelota aos fundos da rede.
Muitos abraços e grande alegria entre os tricolores, que pensaram logo no empate, e quem sabe, na vitória. Não passou porém de pensamento, porque Barqueta em duas ou três ocasiões demonstrou que não estava ali para inglês ver e agarrou tudo que chegou ao seu alcance.
Não era negócio para os vascaínos aquela reação dos comandados de Rubinho e o remédio para o mal é muito conhecido e foi aplicado de acordo com a praxe. Bola retardada ou para fora, na clássica cêra que, embora irritando a assistência, te salvo muita gente boa.
E assim a festança terminou com o score de 2×1 pró Vasco, contagem que além de assinalar a queda de um invicto, deu aos cruzmaltinos a possibilidade de mais um título, vencendo o Torneio Municipal.”
O penta não veio, mas o “expressinho”, formado por reservas que seriam titulares em qualquer outro clube do Brasil, se eternizou na história.
O Globo (28/06/1948)
Jornal do Brasil (28/06/1948)
Jornal dos Sports (29/06/1948)
Ficha do Jogo:
Torneio Municipal do Rio de Janeiro 1948
Data: 27/Junho/2008 – Local: Estádio da Gávea (C.R. Flamengo)
Árbitro: Alberto da Gama Malcher
Renda: Cr$ 176.684,00 – Público: 11.016 pagantes.
Gols: Dimas aos 36′, Nestor 50′ e Orlando Pingo de Ouro aos 60′
CR Vasco da Gama: Barcheta; Laerte, Wilson; Alfredo II, Moacir, Sampaio; Nestor, Ipojucan, Dimas, Ismael e Tuta. Técnico: Flávio Costa
Fluminense FC: Castilho; Pé de-Valsa, Haroldo; Mirim, Índio, Bigode; Cento e Nove, Simões, Rubinho, Orlando e Rodrigues. Técnico: Ondino Vieira.
Outras vitórias em 27 de junho:
River 1 x 2 Vasco (Carioca – 2ª Divisão 1920)
Vasco 5 x 1 Vila Isabel (Carioca 1926)
Vasco 3 x 1 Andarahy (Carioca FMD 1937)
AIK-SUE 1 x 1 Vasco (Amistoso 1961)
Bahia 1 x 2 Vasco (Amistoso 1965)
Vasco 5 x 0 Campo Grande (Carioca 1979)
Estrela do Norte-ES 0 x 3 Vasco (Amistoso 1982)
Internacional-RS 1 x 3 Vasco (Brasileiro 2004)