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Análise: Carille pode virar escudo político da gestão Pedrinho em momento de turbulência no Vasco.

Por Tiago Scaffo

Com a SAF sob o controle total do associativo, o Vasco da Gama entrou oficialmente em uma nova era. Sem a 777 Partners, toda a responsabilidade pelas decisões (esportivas, financeiras e institucionais) agora recai sobre a gestão comandada por Pedrinho. E, junto com o poder, vieram os ruídos.

As últimas semanas têm sido marcadas por declarações desencontradas, falta de clareza sobre o planejamento, contratações e cobranças crescentes por parte da torcida. Em campo, os resultados ainda não apareceram como esperado. E, nos bastidores, cresce a leitura de que Fábio Carille pode acabar sendo usado como escudo político para desviar o foco das críticas que, inevitavelmente, começam a atingir a cúpula vascaína.

Carille chegou com o selo de técnico vencedor, experiente, e com carta branca para implementar seu estilo. Foi uma escolha da gestão. Recebeu apoio institucional e teve autonomia. A expectativa, naturalmente, era de que fosse o nome da reconstrução em campo.

Mas com o time ainda oscilando em vários jogos, sem padrão claro e com dificuldades ofensivas evidentes, o ambiente começa a mudar. E a velha fórmula do futebol brasileiro de empurrar o peso da crise para o treinador, começa a se desenhar também em São Januário.

A diretoria já ensaia o discurso: “fizemos nossa parte”. Ofereceu estrutura, estabilidade e respaldo. Se o desempenho não apareceu, a culpa não é da gestão, mas da comissão técnica.

É uma estratégia conhecida. Funciona no curto prazo, pois redireciona a pressão para o vestiário e compra tempo institucional. Mas também é arriscada: em um cenário onde SAF e clube associativo são uma coisa só, não há mais desculpas. Não existe mais a 777 para dividir a responsabilidade. Agora, é tudo com o Vasco e seus gestores.

Se a diretoria decidir seguir por esse caminho e empurrar Carille ao centro da crise, pode até aliviar o calor momentaneamente. Mas a torcida não esquecerá quem está com a caneta na mão e com o poder de decisão centralizado.

Carille pode não ser a solução definitiva em campo. Mas também não pode ser o bode expiatório de um clube que ainda tenta se entender fora das quatro linhas.

Vasco trai São Januário, recua diante da pressão e ainda se apoia em acordo desmentido pela dupla Fla-Flu: diretoria expõe fragilidade e despreza torcida.

A decisão da diretoria do Vasco da Gama de manter o clássico contra o Flamengo no Maracanã, mesmo após obter liminar judicial que autorizava a realização do jogo em São Januário, escancarou de vez a fragilidade institucional, a incoerência estratégica e a incapacidade de sustentar o discurso de enfrentamento que vinha sendo propagado até então. Liderados por Carlos Amodeo, CEO da SAF, e por Pedrinho, presidente do clube associativo, os dirigentes vascaínos optaram por recuar num momento chave e, pior, fizeram isso tentando justificar sua escolha com argumentos questionáveis e agora, oficialmente, desmentidos.

Durante dias, a diretoria do Vasco alimentou um discurso firme: o clássico seria em São Januário. A torcida, mais uma vez, fez sua parte. Comprou a briga, mobilizou-se nas redes sociais e nas ruas, exigiu respeito ao seu direito de mando e, por fim, recorreu à Justiça. O resultado foi claro: uma liminar favorável, conquistada por torcedores, garantiu ao clube o direito de jogar em sua casa. A expectativa era de que o clube, enfim, afirmasse sua autonomia.

Mas, em um movimento surpreendente e contraditório, o Vasco optou por manter o jogo no Maracanã. Em seguida, anunciou a adesão a um suposto acordo com o Consórcio do Maracanã (administrado por Flamengo e Fluminense) como justificativa para essa escolha. A diretoria tentou vender essa adesão como conquista, alegando que agora o clube teria garantias para utilizar o estádio em “igualdade de condições”. No entanto, a narrativa desmoronou horas depois, quando o Fluminense, por meio de nota oficial, desmentiu qualquer acordo com o Vasco para que este integrasse a gestão do consórcio.

“A posição do Fluminense segue a mesma: o Vasco não faz parte do consórcio”, afirma a nota publicada pelo clube tricolor, deixando evidente que, mais uma vez, o Vasco construiu sua justificativa em cima de um castelo de areia.

Como se não bastasse, o Flamengo também emitiu comunicado oficial reforçando que não há qualquer novo acordo ou entendimento com o Vasco em relação à gestão ou utilização preferencial do Maracanã. A nota reiterou que o estádio segue sob administração exclusiva do atual consórcio e que qualquer solicitação de uso será tratada caso a caso, como sempre foi. Ou seja, a tentativa da diretoria vascaína de apresentar uma suposta conquista institucional ruiu também diante da negativa do outro integrante do consórcio, evidenciando que a promessa de “igualdade de condições” não passa de retórica vazia.

Não bastasse abandonar a luta por São Januário no momento em que poderia vencer, a diretoria ainda tentou legitimar sua decisão com base em um acordo que sequer existe de fato ou, se existe, não conta nem com a anuência dos principais membros do consórcio.

A incoerência é gritante. A postura é indefensável. Pedrinho, que vinha sendo visto como uma figura política alinhada à tradição vascaína e ao sentimento da arquibancada, compactua agora com uma manobra que esvazia a identidade do clube e despreza sua torcida. Já Carlos Amodeo reforça a imagem de um gestor tecnocrata, alheio ao peso simbólico e histórico de jogar em São Januário um clássico de tamanha importância.

Não se trata apenas de onde o jogo será disputado. Trata-se do que o Vasco quis representar e do que decidiu se tornar. Ao optar pelo Maracanã, mesmo com amparo judicial para jogar em casa, o clube se colocou ao lado de quem sempre lhe impôs barreiras. Ignorou a vontade popular, desprezou a história e, ainda por cima, tentou camuflar sua rendição sob a promessa de um benefício institucional que sequer se concretizou.

A decisão, além de expor o desprezo pelo torcedor, alimenta uma narrativa de submissão aos interesses de Flamengo, Fluminense, da CBF, do BEPE e da imprensa esportiva que sempre tratou o Vasco como corpo estranho ao sistema. O que era para ser um ato de afirmação virou um gesto de capitulação.

O Vasco perdeu uma chance única de mostrar força, de ocupar seu espaço, de dizer: “aqui é nossa casa”. Em vez disso, preferiu agradar ao sistema e ainda tentou mascarar a escolha com promessas vazias. O clássico será no Maracanã, sim. Mas o que realmente estará em campo será a frustração de uma torcida traída e a certeza de que, quando teve a oportunidade de agir com grandeza, a diretoria vascaína preferiu se esconder atrás de um acordo que, segundo Flamengo e Fluminense, nem existe.

Tiago Scaffo

O dia seguinte

Difícil decisão do Conselho Deliberativo do Vasco naquele início de abril, em 1924.

O clube sairá da AMEA ou não?

O presidente José Augusto Prestes quer defender os atletas do Vasco, mas isso está fora das leis da nova Liga, fora daquilo que é aceitável pelos clubes da elite carioca, não há apoio prévio da imprensa na empreitada e isso fará o campeão de 1923 ficar fora da festa, podendo sofrer inúmeros prejuízos. Um clube que esteve para falir nos seus primeiros anos de vida, poderia sucumbir de vez. Teria de contar apenas com sua torcida, contra tudo e todos fora isso.

Nas ruas o povo pobre, os imigrantes portugueses, os que lutam nas arquibancadas pelo clube (da maneira que fosse necessário) mostram-se revoltados, mas são engolidos pelo noticiário da imprensa escrita. Sua voz será ignorada, silenciada, até mesmo ridicularizada.

Alguns no Conselho Deliberativo tentam argumentar sobre o preconceito, mas é convidado à reunião um outsider, que o clube pensa em no futuro pagar para tomar decisões à base do pragmatismo, diante da tibieza do presidente Prestes, que declarou dias antes à imprensa seu entendimrento em favor dos atletas, os quais se pretende excluir, mas teme represálias do sistema.

As ponderações do Consultor Extraordinário Orientador (CEO) evidenciam em gráficos apresentados numa cartolina branca e letras das cores roxa e amarela as vantagens de o Vasco permanecer na Liga. Abrir mão do dinheiro das rendas dos grandes jogos, de estar na elite, ter de pagar sabe-se lá quanto ao Fluminense, dono do maior estádio do Rio,  para alugá-lo, e ainda correr o risco de ouvir um “não” tricolor, sem apoio prévio da imprensa, com o histórico recente de jornais que perseguiam o clube desde o ano anterior, elaborando matérias nas quais se afirmava que o Vasco perderia os pontos das vitórias diante de Botafogo e Flamengo em 1923, por incluir atletas fora dos padrões da Liga antecessora. Os argumentos são robustos.

Prestes se arqueia na cadeira, enquanto a grande maioria aplaude a apresentação do CEO. “Falta bom senso ao Vasco”, diz um. “Vamos ficar brigando contra tudo e todos?”, diz outro. “Danem-se os atletas. Trocamos 12 por outros 12.”, afirma um mais exaltado. “Tanta briga, tanta briga. Será que só o Vasco está certo e o resto errado?”. “Daqui a 100 anos ninguém vai lembrar disso”, encerrou um prócer, da época, qualquer.

O Vasco, então, decide ceder às pressões da AMEA, elimina os 12 “problemas”, mas o desfecho tem o douro da pílula, em palavras e frases concatenadas cuidadosamente por colunistas de jornais da época, que procuram amainar o sentimento do povo vascaíno. Afirmam ter sido acordado com o Fluminense o pagamento de metade do aluguel nos jogos em que o clube for mandante, tanto em 1924 como no ano seguinte, pontuam ter sido liberado o comércio de bolinhos de bacalhau no estádio das Laranjeiras, em dias de jogos, exploradas as vendas por comerciantes credenciados pelo Vasco e, o mais importante dos ganhos: torna-se desnecessário ao Vasco ter uma praça de esportes, um estádio, adequado às normas da AMEA.

Uma vez aquinhoado com tantas benesses o Vasco faz parte da Liga dali por diante, seguindo suas normas, seus condutores, adaptando-se ao sistema, com aplausos da imprensa em geral, que considera o clube da Rua Moraes e Silva mais simpático e um bom coadjuvante, apesar de alguns vascaínos serem menos cordatos às normas impostas. Estes e seus descendentes, entretanto, serão (felizmente na visão midiática) eterna minoria.

Sérgio Frias

PS: Evidentemente que o dito acima é uma ficção. A história mostrou qual foi a conduta do Vasco à época e suas consequências para o futebol brasileiro, bem como para o engrandecimento do clube.

Quando a vontade do Torcedor esbarra na Omissão da Diretoria

Em um episódio que (se confirmado) escancara o abismo entre a vontade da torcida e as decisões da cúpula administrativa, o Vasco da Gama parece ter optado por manter a partida contra o Flamengo, marcada para o dia 19 de abril, no Maracanã mesmo após obter, por meio de uma liminar judicial, o direito de realizar o confronto em São Januário, seu estádio histórico e legítimo mando de campo.

A decisão da juíza Regina Lúcia Chuqer de Almeida Costa de Castro Lima, em resposta a uma ação popular movida por dois torcedores vascaínos, Pedro de Menezes Reis e Marcus Vinicius Reis, autorizava de forma clara e objetiva a realização do clássico em São Januário. A liminar não só suspendia os efeitos da decisão do BEPE, como também permitia a presença da torcida cruzmaltina e, sob avaliação técnica fundamentada, até mesmo da torcida adversária. Trata-se de uma vitória simbólica e concreta, conquistada por vascaínos comuns em defesa de sua identidade e patrimônio esportivo.

No entanto, surpreendentemente (ou talvez nem tanto), a diretoria do Vasco (até aqui) preferiu ignorar esse triunfo popular e manteve o jogo no Maracanã, estádio administrado pelo Flamengo em consórcio com o Fluminense. Na prática, ao seguir com o clássico no Maraca, o clube se alinha às negativas do BEPE e da CBF, recusando-se a exercer o direito que lhe foi restituído pela Justiça. A pergunta que se impõe é: por quê?

O torcedor vascaíno que viu sua luta ser reconhecida nos tribunais tem todo o direito de se sentir traído. A escolha da diretoria simbolizaria não apenas uma renúncia ao mando de campo, mas também uma capitulação institucional diante de forças externas que, historicamente, limitam a autonomia do Vasco. A diretoria, que deveria ser a principal defensora do clube e de sua torcida seria omissa, cedendo espaço e narrativa ao rival e às autoridades que inicialmente vetaram o estádio cruzmaltino.

São Januário, além de representar o território vascaíno, é um símbolo de resistência, inclusão e história. Quando o clube opta por não jogar lá, mesmo podendo, reforça a ideia de que suas decisões estratégicas não são guiadas pelo interesse do torcedor, mas por conveniências políticas, pressões externas ou acordos obscuros que desconsideram a paixão de quem sustenta o clube diariamente.

É preciso reconhecer e exaltar a coragem dos torcedores que buscaram a Justiça e conquistaram o direito de ver seu time jogar em casa. São esses atos que mantêm viva a alma de um clube que nasceu da luta e da insubordinação. Já à diretoria, resta a reflexão: até quando o Vasco será refém das vontades alheias, mesmo quando a lei está ao seu lado?

O Vasco precisa resgatar sua alma histórica de clube que não se curva. Mas isso só será possível quando sua diretoria ouvir a voz da torcida, que como exemplo, nesse episódio lutou e venceu na Justiça pelo direito de jogar em São Januário. Ao ignorar essa conquista, a diretoria não apenas se omite mas trai a confiança de quem moveu a ação, enfrentou o sistema e defendeu o clube quando ele mais precisava. O torcedor vascaíno, mais uma vez é deixado (ao que parece) de lado por quem deveria representá-lo.

Tiago Scaffo.

Tem que poupar é o CARILLE!

O torcedor vascaíno, que carrega esse clube no peito mesmo em seus piores dias, merece mais. Não dá para aceitar um técnico que prega cautela em meio ao caos. Que fala em “controle de carga” após três semanas inteiras de treinos, sem jogos, e decide deixar os melhores no banco como se o Vasco pudesse se dar ao luxo de jogar pontos fora no Brasileirão.

A partida contra o Corinthians foi a materialização da covardia. Um time sem identidade, sem garra e sem comando. E ainda com a cereja podre no bolo: uma entrevista pós-jogo onde Carille diz que “a decisão é minha, mas tenho que respeitar todos”. Respeitar quem, exatamente? O torcedor? O clube? A tradição? Não parece.

Se é para poupar, que se poupe a torcida desse tipo de futebol covarde. Que se poupe o Vasco da omissão de sua diretoria e da incompetência de quem deveria liderar. Está mais do que na hora de parar de aceitar o “menos pior” e exigir o mínimo de dignidade.

O Vasco não é spa para recuperação de técnico sem pulso. Que se poupe, sim… mas que se poupe o Vasco do Carille e do vexame de continuar arrastando esse time ladeira abaixo.

Fabricio Amaral

“De Eurico a Pedrinho: O Vasco que Enfrentava e o Vasco que se Cala.”

O Vasco vive hoje, em 2025, um momento que escancara a diferença entre liderar com firmeza e aceitar passivamente imposições externas. A recente decisão do BEPE de vetar a realização do clássico contra o Flamengo em São Januário, marcada para o dia 19 de abril, expõe não apenas a já conhecida perseguição ao estádio do Vasco, mas também a fragilidade da atual presidência diante de questões cruciais para o clube.

Pedrinho, presidente do Vasco, simplesmente acatou a negativa do BEPE. Não houve contestação pública. Não houve enfrentamento político. Nenhuma coletiva, nenhuma nota forte, nenhum esforço visível para reverter uma decisão que, mais uma vez, retira do Vasco o direito de jogar em sua casa — um estádio com condições estruturais aprovadas, tradição reconhecida e importância histórica indiscutível.

Essa postura contrasta fortemente com o que vimos em 16 de julho de 2017. Naquela data, Eurico Miranda, então presidente do clube, enfrentou de frente o Comandante do GEPE. Não se calou, não recuou, e apontou com clareza o absurdo de se responsabilizar o clube por uma falha de segurança pública. Para Eurico, o Vasco era inegociável — e ele não aceitava ver o clube tratado como culpado por problemas que competem ao Estado.

Hoje, o que vemos é o oposto: um presidente calado, omisso e distante diante de um ataque direto ao direito do Vasco de exercer seu mando de campo. A diferença entre as duas posturas é gritante. Eurico, com todas as suas polêmicas, tinha coragem. Pedrinho, com toda sua imagem simpática, demonstrou fraqueza.

Não se trata apenas de um jogo. Trata-se de defender a dignidade de São Januário, a autonomia do clube e o respeito ao torcedor. Aceitar esse veto sem brigar é dar um passo para trás. É permitir que decisões unilaterais se tornem regra. É abrir precedente para que o Vasco seja tratado como clube de segunda classe em sua própria casa.

O torcedor vascaíno exige — e merece — um presidente que lute pelo clube com a mesma intensidade com que canta nas arquibancadas. Em 2017, Eurico Miranda enfrentou o sistema. Em 2025, Pedrinho se calou. E a história há de registrar essa diferença.

Tiago Scaffo.

A Contribuição do Club de Regatas Vasco da Gama para a Inclusão Social no Futebol Brasileiro a partir de 1923

No contexto da sociedade brasileira do início do século XX, marcada por estruturas socioeconômicas excludentes e pelo racismo institucionalizado, o futebol refletia as desigualdades vigentes, sendo um espaço predominantemente elitista e reservado às camadas sociais mais abastadas. No entanto, em 1923, o Club de Regatas Vasco da Gama protagonizou um episódio de ruptura com esse paradigma, ao conquistar o Campeonato Carioca com uma equipe composta majoritariamente por atletas negros, mulatos e oriundos das classes trabalhadoras. Tal feito transcendeu o aspecto esportivo, gerando um impacto social significativo e consolidando o clube como agente de transformação no cenário esportivo nacional.

A repercussão da vitória vascaína gerou resistência por parte de clubes tradicionalmente ligados às elites cariocas, os quais buscaram impor restrições à participação de jogadores considerados “inadequados” em virtude de sua origem social ou racial. Diante dessa tentativa de exclusão, o Vasco posicionou-se de maneira firme por meio da célebre “Resposta Histórica”, um documento no qual rejeitava as imposições discriminatórias da liga esportiva e defendia os princípios da meritocracia e da igualdade de oportunidades. Tal posicionamento representou um marco na luta contra o preconceito no esporte brasileiro.

O resultado desse embate foi a gradual abertura do futebol aos setores populares, promovendo a inclusão de atletas antes marginalizados pelo sistema. O clube tornou-se, assim, um símbolo de resistência e de democratização do esporte, contribuindo para a consolidação do futebol como fenômeno cultural de massa no Brasil. Além disso, a atitude do Vasco da Gama serviu de referência para futuras mobilizações antirracistas no ambiente esportivo, evidenciando o potencial do futebol como instrumento de transformação social.

Dessa forma, a atuação do Club de Regatas Vasco da Gama em 1923 configura-se como um episódio emblemático na história do esporte brasileiro, cujas consequências extrapolaram o campo futebolístico e influenciaram positivamente o processo de inclusão social e racial no país. Seu legado permanece como referência ética e política, reafirmando a importância do esporte na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Tiago Scaffo

Gigante da e na Colina

Jogar clássicos estaduais em São Januário não apequena o Vasco, porque São Januário tem capacidade para receber clássicos estaduais.

Já o adversário, centro da polêmica presente, está apequenado há quase 100 anos, pois seu estádio próprio (via terreno doado pelo Poder Público) não tem capacidade para receber um clássico frente ao Vasco, em jogos oficiais, desde o surgimento do Maracanã, em 1950.

Por outro lado, o Maracanã não é do Flamengo, mas muita gente faz força para que assim seja visto, logo não é neutro, na prática, dadas as atuais condições vigentes, a partir da concessão dada a ele Flamengo e ao Fluminense, por longos anos.

Jogar no Maracanã para o Vasco só deve interessar quando num turno o rubro-negro tiver condições de visitante e noutro o Vasco as tenha, ou, então, com condições absolutamente iguais quanto à divisão de ingressos para as duas torcidas, para os dois clubes e demais acertos, que sejam convenientes ao Vasco.

Se o Poder Público se vê incompetente para garantir o jogo em São Januário com a torcida rubro-negra na qualidade de visitante, isso não pode ensejar uma punição ao clube, impedindo-o de atuar em seu estádio.

Resta, neste caso, atuar com torcida única, embora o próprio Vasco jamais tenha declarado ser essa sua vontade precípua, tanto que em todos os confrontos na história, até hoje, houve a presença das duas torcidas.

Vale ressaltar ainda que o comportamento da torcida rubro-negra quando foram vices da Taça Guanabara de 1992 ou quando se desesperavam pela iminência do rebaixamento em 2005 mereciam punição ao clube da Gávea, o que não ocorreu, diferentemente do visto em relação ao Vasco no ano de 2017, ocasião na qual o alvo de alguns torcedores vascaínos, situados na arquibancada, não foi o Flamengo e sim o próprio Vasco, prejudicado por tais atitudes, quanto à presença de seus torcedores em São Januário por seis ocasiões, posteriores àquele jogo.

Lutar pelo direito de o Vasco atuar em casa nos clássicos estaduais, após a mutilação do Maracanã, no qual cabiam mais de 180 mil pessoas, contra menos de 70 mil hoje, faz todo o sentido para o clube, pois a proporção entre as duas praças esportivas diminuiu consideravelmente.

E, para fechar, o fato de o Vasco querer mandar seu clássico contra o Flamengo para São Januário não lhe tira o direito de, em querendo, atuar no Maracanã eventualmente, pois, relembrando, o Maracanã não é do Flamengo, o que pertence ao rubro-negro (por benesse obtida junto ao Poder Público) é o minúsculo estádio da Gávea, local, por sinal, no qual impera a supremacia cruzmaltina nos confrontos diretos, tal qual ocorre, evidentemente, em São Januário.

Sérgio Frias

O Vasco é dos Vascaínos

Uma vez que o atual presidente do Club de Regatas Vasco da Gama disse em coletiva ter como objetivo revender o futebol do clube, entendendo que o controle do futebol não deve ficar com o Vasco, mas com o investidor, é importante saber se essa é uma opinião isolada dele ou de toda a cúpula gestora do clube, pois os dizeres até aqui de outros não ratificam categoricamente tal posição.

A revenda em si poderia ser uma opção, mas jamais com o Vasco na mão de terceiros, ou seja, perdendo o controle acionário.

Manter a posição do Vasco como majoritária, porém, dá trabalho, traz desgaste, envolve cobrança, suscita críticas sobre resultados, sobre performance.

Dizer ao mercado que o Vasco está à venda, sem a preponderante condição de que caiba ao clube o controle acionário, também não é o simples a se fazer, pois diminui muito o números de interessados. O Athletico-PR pode vislumbrar assim, o Vasco não. O Corinthians, que deve 2,3 bilhões pode vislumbrar assim. O Vasco não…

O pensamento de Jorge Salgado em 2022, conceitualmente, é o mesmo que o do atual presidente do clube. A dívida aumentou? Pois é.

Os irresponsáveis todos que foram a favor nos conselhos e na mídia levaram a isso. Não questionaram, disseram que era o único jeito e a dívida aumentou em mais de 300 milhões de reais, com SAF e reclassificações de contas.

O Vasco não é gerido para buscar soluções de diminuição do problema, mas de passagem do problema para terceiros, sem desgaste e apontando dedos, quando os dedos todos a serem apontados são os da mesma rodinha do MUV, que em 13 dos últimos 16 anos geriu o Vasco, aumentando dívidas, terceirizando tudo que fosse possível terceirizar, choramingando, virando saco de pancadas do maior rival e com os olhinhos brilhando por uma solução mágica ou por uma austeridade burra, sem apresentar os resultados no futebol, que demonstrem ser no confronto direto o clube superior aos demais do Rio em vitórias, taças, títulos. Isso foi possível num triênio, mas houve desgaste, houve cobrança, houve trabalho, houve críticas e os resultados alcançados jamais foram repetidos.

Há insistência em não se enxergar a diferença de um Vasco, que tinha como dívida real a menor dos clubes grandes do Rio até o MUV chegar ao poder em julho de 2008, ou de um Vasco, que se recuperou após seis anos e cinco meses de arraso institucional, novamente mandando no futebol do Rio (vide resultados, taças {de 1º lugar} e títulos oficiais), diminuindo sua dívida global (o que nenhuma gestão do MUV e seus sucessores filosóficos fez), recuperando seu patrimônio, sua base e levando o Vasco à Libertadores.

De 2018 para cá, uma taça (de 1º lugar) em competição oficial conquistada e nenhum título de campeonato ganho.

A dívida, que havia chegado a quase 700 milhões de reais com o MUV (688 milhões) foi reduzida (nas contas dos financistas sucessores) para 645 milhões, na visão do Conselho Deliberativo para 589 milhões.

Jamais se perguntou como foi possível ao Vasco chegar a isso, considerando um clube sem crédito no fim de 2014, sem certidões, com dois anos praticamente de receitas das cotas de TV adiantadas, sem patrocínio firmado para o ano de 2015 (e sem poder obter a última parcela do de 2014), sem direito ao recebimento de valores concernentes a produtos licenciados e mensalidades (adiantados), sem ainda poder fazer um programa de sócio-torcedor independente naquele ano, com quase três meses de salários atrasados, sem um atleta sequer da base, pronto para uma venda de direitos econômicos por valor vultoso, terceiro colocado na Série B, sem ter liderado rodada alguma do campeonato, considerado quarta força do Rio entre os grandes e motivo de piada antes dos confrontos contra o principal rival.

O discurso cego, mistura de ódio a alguém com desdém ao clube, justificado por um profundo sentimento pelo clube, que muitos batiam no peito dizendo amar, mostrou-se falso como nota de treis, quando a primeira oportunidade para o Vasco se entregar foi tida como áurea, em 2022.

O desastre daquilo tudo pouco importou para muitos. A ordem é fazer de novo, no método tentativa e erro (mais cuidado, mais transparência, etc…), trazendo ao clube cada vez mais a sensação de que o gigante que é, o é apenas para poucos, pois a maioria vendilhona entende o Vasco como inviável, incapaz de lutar, de se recuperar, de enxergar seu potencial, por mais que provas do contrário tenham sido dadas ao longo do tempo, como ocorreu em 2019, em relação ao sócio-torcedor, por mais que se saiba do potencial crescente para obtenção de receitas futuras, por mais que o Vasco seja, de fato, um dos cinco gigantes do futebol brasileiro, com torcida nacional (aliás, o único dos cinco que se põe à venda).

O Vasco tem de comandar seu destino e não ter isso em mente significa desacreditar do próprio clube, se conduzido por sua gente, o que já seria, como premissa, ilógico para qualquer um pleitear comandá-lo.

Não imaginem que o discurso de revenda com entrega de controle acionário é aceito pela torcida, porque é aquilo que ela pensa, necessariamente.

A lógica se dá porque desde que o clube retomou o controle acionário ele jamais foi incisivo quanto à manutenção disso, deixando brechas para que se pensasse o contrário.

Ou seja, o Vasco não se posicionou perante o mercado como dono do próprio nariz e aceitou o discurso daqueles que enxergam o Corinthians com 2,3 bilhões de dívida viável e o Vasco com 1,1 bilhão inviável.

O Vasco é dos vascaínos e a agressão a isso por 30, 300, ou 3.000.000.000 de moedas nada mais é do que vender a essência do Vasco – como fez Jorge Salgado e os que lhe apoiaram, direta ou indiretamente – independentemente da forma como se venda tal essência.

Sérgio Frias

“A mão do Eurico” – Um pouco do que não foi citado

Faltou Citar

Sobre um pouco daquilo que não foi citado no documentário de Eurico Miranda e é importante ser registrado mais à frente, numa outra oportunidade, baseado na biografia dele e nos fatos inequívocos expostos pela própria mídia e pela história não só do Vasco, como de seus principais adversários do Rio.

Não citaram que o jornalista de “O Globo”, responsável pela matéria “A mão do Eurico”, José Jorge, pediu desculpas ao próprio pela reprodução da mesma, ao identificar que não fora Eurico ou sua mão, protagonista do apagão.

Não citaram a passagem de Eurico Miranda como representante do basquete carioca em 1972, quando questionou os organizadores do torneio disputado em Recife por tentarem dar privilégios aos paulistas em detrimento dos demais estados participantes da competição, obtendo êxito naquilo que queria (a igualdade de tratamento entre todos) e o título de campeão, tido como quase impossível por muitos, conquistado pelos cariocas.

Não citaram que através de ação diligente iniciada por Eurico Miranda, em 1981, lutando pelos direitos do Vasco, os clubes passaram a receber do governo percentuais sobre a Loteria Esportiva, anos depois.

Não citaram as duas invasões de campo de torcedores do Flamengo, ocorridas no segundo jogo da decisão do Campeonato Carioca de 1981 frente ao Vasco, aos 37 minutos do segundo tempo, quando o placar que dava o título ao Flamengo se mantinha (0 x 0). Não foi, portanto, uma novidade ou fato insólito a invasão do ladrilheiro rubro-negro no terceiro jogo decisivo, logo após o Vasco diminuir o placar para 2 x 1.

Não citaram que nos 25 anos anteriores à chegada de Eurico Miranda como Vice-Presidente de Futebol do clube, o Vasco era o quarto clube dos grandes em títulos no Rio de Janeiro e que quando Eurico assumiu o cargo, em janeiro de 1986, o Bangu (que o Vasco não vencia desde 1982) se mostrava mais forte que o próprio Vasco, considerando o ano anterior (1985).

Não citaram que na primeira decisão do Vasco com Eurico Miranda à frente do clube (Taça Guanabara de 1986), houve vitória do Vasco sobre o Flamengo por 2 x 0, gols de Romário, com 121 mil pagantes no Maracanã, após ele desafiar a torcida do Flamengo e dizer que a do Vasco seria maior no estádio, promovendo o jogo e vendo, de fato, os vascaínos dividirem o Maracanã com seu principal rival, quanto à presença de público.

Não citaram o caso das papeletas amarelas em 1986, suposto esquema de corrupção em favor de árbitros que apitaram jogos do Flamengo, trazido a público de dentro do próprio Flamengo, pouco após o rubro-negro ter sido Campeão Carioca daquele ano.

Não citaram que Eurico Miranda, trabalhando nos bastidores e encarando adversários de ocasião, impediu o Vasco de cair de divisão no Campeonato Brasileiro, em 1986, quando tentou-se, fora de campo, fazer com que o Joinville ficasse com a vaga do Vasco, comportando-se parte da imprensa carioca à época mais favorável à tese do Joinville (que buscava a vaga fora das quatro linhas) que a do Vasco, norteada no resultado de campo das duas equipes.

Não citaram que Eurico Miranda foi o responsável pelo cruzamento dos módulos verde e amarelo no Campeonato Brasileiro de 1987, que possibilitou ao Sport ser o Campeão Brasileiro daquele ano e, com isso, que a Copa União não fosse considerada pela CBF como uma competição pirata.

Não citaram que o Vasco, quando ganhou o Bicampeonato Carioca, o fez após 38 anos da conquista anterior e que nas duas decisões (1987 e 1988) ex-rubro-negros trazidos por ele, Eurico, fizeram os gols dos respectivos títulos para o Vasco (Tita e Cocada).

Não citaram que Eurico Miranda, enquanto diretor de futebol da CBF, criou a Copa do Brasil.

Não citaram que Eurico Miranda, enquanto diretor de futebol da CBF, foi diligente no episódio da partida contra o Chile, válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1990, sabendo que havia possibilidade de o Brasil perder os pontos da partida pelo fato de um sinalizador de fumaça ter sido atirado em campo, na direção do goleiro Rojas (embora sem atingi-lo), tomando medidas para que os chilenos não saíssem do vestiário após abandonarem o campo e garantindo na mesma noite à imprensa que o Brasil estaria na Copa do Mundo, pois o Chile sofreria um W.O., o que, de fato, ocorreu.

Não citaram o tricampeonato do Troféu Ramon de Carranza, disputado na Espanha (1987/1988/1989), fato que nenhum clube no mundo, não espanhol, jamais conseguiu.

Não citaram que Eurico Miranda saiu da CBF porque Ricardo Teixeira lhe deu a opção de decidir entre a entidade e o Vasco e ele Eurico, de pronto, disse que sua opção seria o Vasco. “Não precisa perguntar duas vezes. Minha opção é o Vasco”.

Não citaram que Eurico Miranda refutou as ponderações de Antônio Soares Calçada para demitir o treinador Nelsinho no meio do Campeonato Brasileiro de 1989.

Não citaram a briga nos bastidores contra o Palmeiras no Campeonato Brasileiro de 1989 para que o Vasco chegasse à decisão do campeonato.

Não citaram que na queda de braço entre Vasco e CBF sobre a liberação dos atletas para a seleção antes da Copa do Mundo de 1990, prevaleceu a vontade do Vasco e não da entidade, considerando a entrevista dada por Ricardo Teixeira, mostrada no documentário.

Não citaram que na discussão de 1990 sobre o Campeonato Carioca, o Fluminense ficou do lado do Vasco (até ser eliminado em campo pelo próprio Vasco), que a arbitragem ficou no gramado esperando o Botafogo voltar à cancha (porque era a ordem da FERJ) na partida em que houve a dupla interpretação dos clubes de que eram campeões, que na decisão nos tribunais esportivos suprimiu-se instância para definir o Botafogo como campeão e que dar o título ao Botafogo foi um trabalho primordialmente midiático até o julgamento.

Não citaram que Eurico Miranda refutou a hipótese de o Vasco entregar o jogo com o São Paulo em 1992, diante da iminência de a vaga ficar com o Flamengo para ir à decisão do Campeonato Brasileiro, embora os jornais do dia do jogo sugerissem que era plausível Eurico fazê-lo.

Não citaram que os grandes clubes cariocas foram obrigados a disputar todos os clássicos no Campeonato Carioca de 1992 em São Januário e que o Vasco neste ano foi Campeão Carioca Invicto, o que não ocorria há 43 anos.

Não citaram que Eurico Miranda defendeu o ex-atleta rubro-negro Junior, que dera uma cabeçada no árbitro Jorge Travassos no último jogo do Campeonato Carioca (Vasco x Flamengo) em 1992, para que ele não sofresse uma grande punição e pudesse, com isso, encerrar sua carreira, sem qualquer entrave, no ano seguinte, como de fato ocorreu no primeiro semestre de 1993.

Não citaram que Eurico repudiava a venda de Edmundo ao Palmeiras em 1993 e que o presidente do clube à época, Antônio Soares Calçada, ameaçou renunciar caso ela não fosse concretizada.

Não citaram que na conquista do Bicampeonato pelo Vasco em 1993 foi a primeira vez na história em que o clube derrotou o Fluminense numa decisão de Campeonato Carioca e que em todas as decisões de taça ou campeonato disputadas contra o adversário no período de Eurico como Vice de Futebol e presidente do clube, o Vasco venceu todas. Foram nove ao todo. E que antes disso (antes da chegada de Eurico à vice-presidência de futebol) o Vasco havia perdido, diante do mesmo adversário, sete decisões consecutivas.

Não citaram a tentativa infrutífera dos rivais cariocas de boicotar o campeonato no ano do tri (1994) e a que ponto chegou a rivalidade do Flamengo com o Vasco, no jogo seguinte ao falecimento de Dener, partida na qual, inclusive, o Vasco foi prejudicado pela arbitragem e sofreu sua única derrota na competição.

Não citaram as preocupações de Eurico Miranda com a família de Dener, logo após o falecimento do atleta, quando se preocupou com a quitação de apartamento para a mãe do ex-atleta, entre outras assistências à família e que após o imbróglio jurídico foi na gestão do próprio Eurico, como presidente do Vasco, que os valores acertados em juízo foram finalmente satisfeitos, após calote das últimas seis parcelas de pagamento por parte da gestão antecessora a dele.

Não citaram que Eurico conseguiu fazer reconhecer oficialmente, com status de Libertadores, o título Sul-Americano de 1948, isso em 1996, garantindo a participação do Vasco na Supercopa Libertadores de 1997 (e outras que porventura fossem disputadas), competição da qual só participavam equipes que tivessem conquistado a Taça Libertadores.

Não citaram o caso da “Liga Barbante” que os demais clubes do Rio quiseram implementar em 1997, sem sucesso.

Não citaram que o mesmo Edmundo, liberado para disputar a decisão do Campeonato Brasileiro de 1997 contra o Palmeiras, após ter sido julgado, obteve efeito suspensivo para atuar na final do Campeonato Brasileiro de 1994 pelo próprio Palmeiras, diante do Corinthians, mesmo julgado e posto na condição de impedido de jogar, diferentemente do ocorrido em 1997.

Não citaram como Eurico Miranda conseguiu que o Vasco atuasse até a decisão da Taça Libertadores de 1998 em seu estádio.

Não citaram o título carioca conquistado pelo Vasco no ano do centenário, nem o papelão dos rivais no campeonato, inclusive com vergonhosos WOs, frutos da fuga de Flamengo e Botafogo quando da ocasião em que deveriam enfrentar o Vasco.

Não citaram que no jogo do título carioca do ano do centenário (1998), em Bangu, a partida só não acabou sem acréscimos da arbitragem porque Eurico Miranda foi a campo e pressionou o árbitro para isso, após as luzes terem sido apagadas, o que aparentemente faria com que o árbitro encerrasse a partida sem descontos.

Não citaram que o Projeto Olímpico veio a partir de um consenso entre as partes envolvidas de que fortaleceria a marca, facilitando a que a VGL obtivesse novos patrocínios e receitas para o clube, o que por sinal era sua função à época.

Não citaram a conquista do Torneio Rio- São Paulo de 1999, mas apenas uma fala de Eurico numa rádio (para afrontar setores da imprensa paulista) a respeito da competição.

Não citaram que no balanço patrimonial do clube em 1999 todo o valor investido em esportes olimpicos e correlatos somava apenas 22% do montante, enquanto o referente ao futebol chegava a 67%.

Não citaram que o mesmo critério utilizado para o Vasco disputar o Campeonato Mundial de 2000 valeu para o Palmeiras ser escolhido como representante brasileiro para disputar o de 2001 na Espanha, que chegou a ser anunciado pela FIFA em fevereiro daquele ano para ser realizado em agosto, mas que depois não foi para frente.

Não citaram que o parceiro contratual do clube desde 1998 deixou de pagar o Vasco em julho de 2000.

Não citaram o porquê de Eurico Miranda ter sido contra a Lei Pelé e as consequências de tal lei para o futebol brasileiro, primordialmente para os clubes, desembocando nas SAFs, criadas via legislação, em 2021.

Não citaram o real motivo de a Globo ter se indisposto com o Vasco, quando o clube não aceitou atuar em jogos encavalados, referentes a Campeonato Brasileiro e Copa Mercosul, no fim de 2000, causando prejuízos e embaraços à emissora, após o Vasco instar o Sindicato dos Atletas Profissionais de Futebol para que fosse à Justiça, a fim de impedir que o clube se visse obrigado a atuar em até cinco partidas no incrível espaço de 14/12 a 23/12.

Não citaram que a Globo tratou como antecipação de receitas um valor que na verdade foi emprestado com aval do parceiro do Vasco, que garantia poder ocorrer tal empréstimo pois o quitaria, algo não concretizado.

Não citaram que o Vasco denunciou o contrato em 14/02/2001 e no imbróglio com o parceiro ganhou em primeira instância o direito de receber U$12 milhões e que no acordo feito em 2002, embora a VGL cobrasse quase 80 milhões de reais do clube, aceitou-se fazer acordo, ficando elas por elas.

Não citaram que o Vasco não tinha como buscar patrocínio entre 2001 e 2002 porque a marca estava presa, tanto que nova fornecedora de material esportivo foi fechada logo após o fim do torniquete financeiro, em agosto de 2002. E que em 2004 o clube obteve patrocínio durante a temporada (utilizado, na prática, para ajudá-lo a obter certidões positivas com efeito de negativas no ano seguinte) e pontual (no último jogo do Campeonato Brasileiro), que em 2007 o clube teve patrocínio durante o período da luta de Romário por marcar seu milésimo gol (BMG) e que em 2008 o clube obteve novo patrocínio (MRV), válido até fevereiro de 2009 e, finalmente, que a grande preocupação do Vasco na primeira década do século foi a de se manter na elite dentre os clubes recebedores das cotas de TV, maior receita dos clubes na ocasião (com raríssimas exceçoes), o que conseguiu, de fato, durante todo aquele período em que Eurico Miranda esteve à frente do clube.

Não citaram que entre 1998 e 2002 o Vasco adquiriu uma rua inteira, comprando 56 imóveis, incorporando tudo ao seu patrimônio, no complexo de São Januário.

Não citaram que a Globo foi convencida a conversar com o Vasco em 2002, porque o clube não deu unanimidade quanto à redução que pretendia a emissora fazer no contrato seguinte de cotas de TV (os outros clubes todos, devedores dela, pressionados, aquiesciam) e que ela pagou cotas ao Vasco no mesmo ano, embora a narrativa fosse a de que o clube já havia antecipado tudo até 2003.

Não citaram que a força de Eurico Miranda o fazia comandar as negociações das cotas de TV e que a Globo teve nele, na esmagadora maioria das vezes, um aliado, tendo sido ele, na prática, o maior parceiro dela nesse quesito.

Não citaram a conquista do Campeonato Carioca de 2003, ano em que o Vasco obteve também a Taça Guanabara e a Taça Rio.

Não citaram que a participação do Vasco na Copa Sul-Americana de 2003 se deu porque o clube fez valer seu direito, citando o título Sul-Americano de 1948 para que fosse incluído no critério de pontos do ranking e, por conseguinte, inserido o clube na competição, como de fato ocorreu, junto a outros, em mudança do número de participantes feita pela entidade logo depois.

Não citaram, embora falassem en passant do assunto, que foi Eurico Miranda quem criou o Colégio Vasco da Gama, dentro do complexo de São Januário, em 2004, com funcionários do setor trabalhando às expensas do clube.

Não citaram as mais variadas comprovações em fatos, matérias, publicações, de que a situação financeira do Vasco era muito melhor que a dos três outros grandes do Rio. Exemplo: Lamentomania Carioca em 2005 (Jornal “O Globo”).

Não citaram que em maio de 2005, através da revista Consultor Jurídico, comprovou-se que o Vasco era entre os clubes do Rio o que menos tinha ações trabalhistas contra si. Eram 286, contra 534 do Flamengo, 662 do Fluminense e 723 do Botafogo.

Não citaram que em 2002 (CSA na Copa do Brasil), 2005 (Brasiliense no Campeonato Brasileiro) e 2007 (Grêmio no Campeonato Brasileiro) os desejos do Vasco foram satisfeitos nos bastidores e mesmo dentro de campo, com participação de Eurico Miranda ou do corpo jurídico do Vasco nos episódios.

Não citaram que quando foram consolidadas as dívidas fiscais via Timemania, incluindo as equacionadas, o tamanho da dívida fiscal do Vasco era metade daquela consolidada pelo Flamengo e menor do que as consolidadas por Fluminense e Botafogo.

Não citaram que quando o clube assinou seu segundo Ato Trabalhista, em dezembro de 2007 (o primeiro, cumprido, fora iniciado em 2004), os percentuais da receita a serem separados para satisfazer os débitos eram menores mensalmente e anualmente que os estipulados para Fluminense e Botafogo, os outros dois grandes signatários do mesmo Ato, durante todo o período previsto do acordo.

Não citaram a incrível coincidência de o Vasco ter sido prejudicado pela arbitragem no balanço dos pontos em quase todos os Campeonatos Brasileiros do século XXI antes da saída de Eurico Miranda do clube em 30/06/2008 (2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006 e ao longo das oito primeiras rodadas da competição em 2008), bem como em momentos decisivos da Copa do Brasil de 2003 e 2008, na decisão do Campeonato Carioca de 2001, de 2003 (quando foi campeão) e de 2004 e em disputas diretas eliminatórias no próprio Campeonato Carioca, em 2005 e 2008.

Não citaram que quando Eurico saiu do Vasco, em 30/06/2008, o clube era o terceiro colocado no ranking da CBF (melhor do Rio).

Não citaram que quando Eurico saiu, em 30/06/2008, o Vasco, no século XXI, não perdia no confronto direto para nenhum grande do Rio.

Não citaram que quando Eurico saiu do Vasco o clube estava há 108 rodadas fora da zona de rebaixamento, jamais havia estado na referida zona no segundo turno da competição, desde 2003, e jamais precisara, matematicamente, dos pontos das duas últimas rodadas de quaisquer dos certames para se manter na primeira divisão. Isto num século em que cinco grandes haviam caído de divisão até ali (Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Grêmio e Palmeiras). E que do Rio de Janeiro era o que menos vezes havia frequentado a zona de rebaixamento, longe, muito longe, de Flamengo e Botafogo nesse quesito. O documentário sugere, inclusive, que a gestão de Roberto Dinamite começou muito bem, como se ela tivesse sido iniciada em 2009 e não em 01 de julho de 2008, quando pegou o Vasco, recém semifinalista da Copa do Brasil (foi eliminado pelo Sport, campeão daquela edição, nos pênaltis), em nono lugar no Campeonato Brasileiro (com salários em dia) e o levou à 18ª colocação, após o fim da competição, após trocar de técnico duas vezes, negociar dois titulares, além do terceiro principal artilheiro da equipe e trazer nove outros atletas para o clube.

Não citaram que poucos dias após a posse de Roberto Dinamite, próceres daquela gestão foram chamados ao escritório de Eurico Miranda para que ele lhes explicasse como deveriam fazer para buscar antecipação de receitas das cotas de TV, via Bic Banco e com aval do Clube dos Treze, o que a direção do clube, de fato, fez mais de uma vez ao longo do segundo semestre de 2008.

Não citaram que o gasto mensal do Vasco, entre despesas fixas e variáveis, à época da saída de Eurico Miranda (junho de 2008), era em torno de 3,5 milhões de reais (no mês de julho de 2008 a gestão sucessora recebeu 3 milhões de reais pela primeira parcela da venda de Phillippe Coutinho) e que quando Eurico Miranda voltou a gerir o clube, cerca de seis anos e cinco meses depois, o gasto mensal do clube, entre despesas fixas e variáveis, com o Vasco vindo da segunda divisão, passava de 10 milhões.

Não citaram, ainda, que quando o Vasco estava na lanterna da competição, em 2008, a dez rodadas do fim da competição, Eurico Miranda anunciou no programa Casaca! no Rádio, veiculado na Rádio Bandeirantes do Rio de Janeiro, que se dispunha a assumir o futebol, com amplos poderes, e evitar o rebaixamento, o que foi rejeitado pela gestão naquele momento, por medo de isso vir a se consumar e trazer ao dirigente os holofotes que tanto incomodavam a muitos.

Não citaram que nas cotas de TV em âmbito nacional, até Eurico sair, o Vasco não ganhava um centavo a menos que nenhum outro clube e que um contrato com validade até 2011 foi deixado assinado nesses termos.

Não citaram que como oposição, em 2011, Eurico Miranda buscou alertar e tentou mesmo se mexer para que a direção do Vasco não fosse partícipe da ideia de implodir o Clube dos Treze, em benefício daquilo que queria o Flamengo, no final o grande beneficiado mesmo, junto ao Corinthians, após a negociação ter sido feita de maneira individual por cada clube com a Globo e não coletiva, como era até ali.

Não citaram que como oposição Eurico Miranda se mexeu e conseguiu da FERJ em 2013 que o Vasco mantivesse o direito de permanecer com sua torcida do lado direito do Maracanã em qualquer ocasião e que isso só não foi possível porque Roberto Dinamite, a posteriori, resolveu assinar um termo no qual dava ao Fluminense tal direito, a troco de nada, como se fosse algo desimportante.

Não citaram que como oposição Eurico Miranda ajudou o Vasco, via FERJ, a pagar salários em plena Série B no ano de 2014.

Não citaram que na conquista do Campeonato Carioca de 2015 o Vasco quebrou um tabu de jamais ter vencido o Botafogo em decisões e que há 50 anos não derrotava o adversário numa decisão direta de competição.

Não citaram os inúmeros prejuízos de arbitragem sofridos pelo clube no Campeonato Brasileiro de 2015 (14 pontos ao todo, o que é um recorde na história da competição para qualquer clube na era dos pontos corridos).

Não citaram com um mínimo de profundidade o título invicto de 2016, ocasião na qual o Vasco disputou mais clássicos em comparação a qualquer outra conquista invicta da história do clube.

Não citaram a maior sequência invicta da história do clube, em jogos oficiais, obtida entre novembro de 2015 e junho de 2016, superando as marcas neste quesito de Atlético-MG, Flamengo, Internacional-RS e Palmeiras, e que o último jogo dela se deu no aniversário do próprio Eurico, em 07/06/2016, quando em Joinville a torcida vascaína cantou um “Parabéns a você” em homeagem a ele, após o fim da partida.

Não citaram a reconstrução do patrimônio do clube em sua última gestão, após a passagem do Tsunami do MUV no clube, bem como o fato de que pela última vez o Vasco, exatamente naquele período, obteve certidões positivas com efeito de negativas, em relação às dívidas fiscais, o que se manteve por quase três anos.

Não citaram que apesar de ter recebido a dívida do clube mais do que dobrada do acumulado dela em 110 anos de Vasco, Eurico a reduziu em seu triênio último à frente do Vasco, admitido isso pela gestão que o sucedeu, responsável pelo balanço patrimonial de 2017 apresentado.

Não citaram que enquanto Eurico Miranda deixou como crédito para o clube em 2008 o valor da venda de Phillippe Coutinho, além de uma joia da base com 100 milhões de reais de multa rescisória (Alex Teixeira) e em 2018 deixou tudo pronto para uma possível negociação do atacante Paulinho (hoje destaque do Atlético-MG) à Europa, com valores na ordem de 57 milhões de reais a serem usufruídos pela gestão sucessora, que fez a negociação, ele, Eurico, quando recebeu o clube para geri-lo novamente, em dezembro de 2014, não tinha um atleta sequer da base com potencial para uma grande venda.

Não citaram que Eurico Miranda deixou o Vasco na Taça Libertadores de 2018, mesmo com o clube impedido de atuar com torcida em São Januário por seis jogos no Campeonato Brasileiro. Nele, por sinal, o Vasco teve seis gols irregulares marcados contra si (validados), apenas um pênalti a favor e oito contra, sendo que não foram marcados a seu favor sete outras penalidades máximas, existentes.

Não citaram que no referido triênio o Vasco ganhou mais campeonatos oficiais (dois) do que todos os grandes cariocas (juntos).

Não citaram que no referido triênio o Vasco conquistou mais taças oficiais (quatro), do que todos os outros do Rio (juntos).

Não citaram que no referido triênio o Vasco disputou quatro decisões de taça e venceu todas.

Não citaram que no referido triênio, pela primeira vez na história, o Vasco eliminou o Flamengo, em confronto direto, de três competições consecutivas, sendo campeão em duas delas.

Não citaram que com Eurico Miranda na presidência do clube no século XXI, jamais qualquer outro clube carioca foi Campeão Brasileiro ou Sul-Americano, fato ocorrido nas gestões do Vasco em que estiveram à frente do clube seus adversários políticos deste século.

Não citaram que de cadeira de rodas e tudo, Eurico ainda ia buscar verba junto a entidades para ajudar o Vasco, ao longo de 2018.

Não citaram as ajudas que Eurico deu a muitos clubes, incluindo os principais rivais, mas citaram um pedido dele a Eduardo Viana, presidente da FERJ, de que as cotas do Campeonato Carioca de 2001 (em reunião realizada a 13/02 daquele ano) fossem divididas proporcionalmente com o Vasco incluído, porque a Globo se recusava a pagar o que o Vasco entendia ser seu por direito (o tempo comprovou que, de fato, era), tratando-se a questão por jornais da época como uma “vaquinha”, ou algo do gênero, sem ter sido citado no documentário as razões pelas quais Flamengo e Botafogo justificavam não aceitar aquilo (grave crise financeira, dito pelo Flamengo e estado de humilhação pública, dito pelo Botafogo, por não cumprimento de obrigações básicas por parte do próprio alvinegro). Vale lembrar que 11 meses depois, o Fla-Barra virou Vasco-Barra, após calote rubro-negro dado ao dono do local e consequente despejo em julho de 2000. Em janeiro de 2002 o espaço passou a ser alugado e utilizado pelo Vasco. Anos mais tarde, na gestão de Roberto Dinamite no Vasco, o clube foi despejado do local por não pagamento do acordado e cumprido até o fim da gestão de Eurico Miranda, em junho de 2008.

Não citaram que Eurico Miranda é o dirigente com maior número de títulos oficiais conquistados em toda a história do clube. Em 25 anos e meio como vice-presidente de futebol ou presidente do clube foram 18 campeonatos oficiais: uma Copa Libertadores, uma Copa Mercosul, três Campeonatos Brasileiros, dois Interestaduais (João Havelange de 1993 e Rio-São Paulo de 1999), nove Campeonatos Cariocas (1987, 1988, 1992, 1993, 1994, 1998, 2003, 2015, 2016) e duas Copas Rio (1992/1993). Além disso, 20 conquistas de taças (turnos): Taça Guanabara (1986, 1987, 1990, 1992, 1994, 1998, 2000, 2003, 2016), Taça Rio (1988, 1992, 1993, 1998, 1999, 2001, 2003, 2004, 2017), Terceiro Turno (1988 e 1997). Fora isso, o Vasco ainda obteve, com ele à frente do futebol, 11 títulos internacionais, dois interestaduais e um estadual, totalizando 52 títulos. Não bastasse tudo que foi exposto, ainda fez reconhecer, como já dito antes, o título Sul-Americano Invicto de 1948, 48 anos depois, colocando o emblemático Expresso da Vitória como primeiro Campeão Sul-Americano oficial do continente.

Sérgio Frias