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Credibilidade em Xeque

No final de 2019, houve uma falha na cobrança de vários sócios, o que foi admitido pelo próprio Club. A diretoria prometeu corrigir o erro e devolver os valores pagos a mais. Em tempos de informatização bancária, o que se espera? Que os programas identifiquem tais cobranças e possibilitem o estorno imediato. Mas não parece ter sido o caso.

Há poucos dias, em revisão de cálculos, notei inconsistências nos valores cobrados ao final do ano passado. De 2 parcelas de R$ 80 efetivamente devidas, foram debitadas 4 nesse valor (2 a mais). Imediatamente comecei a revisar estornos feitos à minha mulher, também sócia, mas nos referentes a ela não notei problemas.

Anotei dia e hora dos 4 pagamentos e enviei e-mail para o Sócio Gigante. O e-mail voltou. Então escrevi uma mensagem para o WhatsApp indicado no site. Fui prontamente atendido, com a promessa de estorno. Dias depois, 1 parcela de R$ 80 foi estornada. Com relação à outra, de mesmo valor, foi devolvida a fração 5/12 do valor – a fração 7/12 restante deverá ser estornada parceladamente até o fim de 2020.

Respeito ao Sócio

A mensalidade do sócio tem que ser tratada com total Respeito. Em períodos anteriores à informatização isso ocorria, o que causa mais indignação. Muitos sócios fazem o pagamento via cartão de crédito e estabelecem uma relação de Confiança com o Club.

Tenho títulos de sócio Benfeitor Remido e Proprietário Ouro. Pela remissão do primeiro, nem precisaria pagar o segundo. Mas o faço pelos mesmos motivos que todos: ajudar.

A eficiência nas cobranças há de ser insofismável. Caso contrário, perderemos novos e antigos sócios. Enfim, perderemos todos nós que amamos a Instituição.

Luiz Baptista Lemos
Conselheiro do C. R. Vasco da Gama

Orgulhosos de não sermos como vocês

“Orgulhosos de não sermos como vocês”
 
Esta é a frase usada pela torcida do Atlético de Madrid em jogos contra o rival Real Madrid, clube modesto que se tornou grande por ter recebido ajuda da ditadura de Franco. A influência na contratação de Di Stéfano, a construção do seu estádio em tempo recorde e com dinheiro público, o uso do clube como propaganda do regime e favores dos árbitros foram fundamentais para a transformação dos merengues em potência mundial. O presidente do Real na época era Santiago Bernabéu, ex-jogador do Real e soldado das tropas de Franco durante a guerra. Durante a ditadura liderada por Franco, o Real Madrid encerrou um jejum de 20 anos sem ganhar o Espanhol e faturou 14 troféus, além de suas primeiras seis copas europeias.
 
Dito isso, poderia ser usada pela torcida do Vasco nos jogos contra o urubu. Faz todo sentido, tendo em vista as similaridades de um clube da zona sul historicamente ajudado e favorecido contra aquele da zona norte, perseguido e atacado desde sua origem.
O Vasco não é apenas um clube de futebol com objetivo de conquistar títulos. É uma instituição centenária com compromisso social e de integração, que oferece aos seus garotos escola para forma-los para vida, e não containers para ceifa-las.
 
Estamos num patamar que dinheiro nenhum do mundo compra.
 
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Durante 1 ano a Globo simplesmente escondeu do noticiário principal a tragédia no Ninho do Urubu. Bastou o filhote da Gávea fazer pirraça e não assinar o contrato de transmissão que a mamãe do Jardim Botânico já tratou de retaliar. Agora é matéria dia sim outro também.
 
Nessa briga Globo x urubu, eu torço pela briga.
 
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Segundo o presidente Alexandre Campello, os xingamentos direcionados a ele nos jogos são “culpa da política” e não das péssimas atuações de um elenco limitadíssimo e sem salários.  E que a culpa de suas contas terem sido reprovadas também é da “política” e não do superávit fake, da solicitação de empréstimos sem aval do Conselho Deliberativo, dos salários atrasados, dos calotes que ameaçam a permanência do Clube no Profut (“estratégia” segundo ele em 2019) entre outros.
 
Seria muito mais digno da parte do presidente admitir que é despreparado política e administrativamente para conduzir um clube da grandeza do Vasco, pedir o boné e sair de fininho, ao invés de transferir uma culpa que é somente sua.
 
SV !
 
Rodrigo Alonso
 
 

O fio da meada

Passou despercebido por muitos o ocorrido em relação às verbas da CEF, referentes ao final de 2017, que servirão agora para pagar salários vencidos.

Na prática, valor de patrocínio obtido na gestão de Eurico Miranda, que não teve a verba recebida para pagar os salários do fim de 2017, porque travadas em função de não possuir as certidões positivas com efeito de negativas, após 30/09/2017, possibilitará, agora, que os salários atrasados mais recentes sejam pagos.

Observe-se que o valor a ser pago está atrelado ao pagamento do débito atual e não do valor concernente ao débito antigo, de 2017 (dezembro e décimo terceiro), que, esperamos já tenha sido sanado, pois muitos funcionários já não estão mais no clube e acionaram o Vasco na Justiça pelo não recebimento.

O que restou (após 300 demissões e a rotatividade normal de atletas e membros remunerados do futebol e outros esportes do clube) diminui em muito o valor a ser pago.
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2001/2002

Uma recapitulação rápida, que é a expressão da verdade e incomoda a muitos, principalmente aos que massificam distorções, é necessária ser feita.

A CPI do futebol, em 2001, com seus inúmeros relatórios, entendeu que o valor da dívida do clube girava, naquele início de ano, em torno de 150 milhões de reais. Note-se aí que era uma conta baseada em documentos obtidos e não necessariamente consideradas reservas de contingência, entre outros fatores.

De fato, em janeiro de 2001, o Vasco contava vários meses de salários atrasados e sofria com o calote dado pelo banco parceiro, que devia (e não pagou), durante a administração do presidente à época e no início da que se aproximava, 12 milhões de dólares.

Além disso, o clube trabalhava com recebíveis, assim como os demais grandes faziam, independentemente do valor recebido pelo parceiro, e iniciava o ano de 2001 com 18 meses de cotas de TV adiantadas.

A competitividade do mercado fazia com que todos os clubes grandes se adequassem à realidade da época e assim todos eles procediam.

O clube vivia em meio à uma ameaça de vir a perder o título brasileiro para o São Caetano na canetada, o que só não foi possível pela ação de Eurico Miranda, considerado presidente do clube para uns neste episódio ou presidente em outros episódios (queda do alambrado, camisa posta do SBT na partida final, vencida em “ritmo de festa”) para outros.

No início de 2001 a mudança da lei do passe, modificando completamente o cenário, atrapalharia a vida do Vasco e de outros grandes clubes, com grandes jogadores, pois todos estariam livres ao fim de seus contratos.

O torniquete financeiro aplicado contra o Vasco pela Rede Globo – a mesma que não pôs no fim de 2019 entre os fatos relevantes do ano o incêndio no Ninho do Urubu (diferentemente da forma como procedeu em relação à queda do alambrado de São Januário, que não matou ninguém) e após não acertar com o Flamengo valores para transmissão dos jogos do clube, começa a elaborar e divulgar matérias com as famílias das vítimas, após silêncio constrangedor durante um ano quase, em meio às atitudes das mais desarrazoadas dos dirigentes rubro-negros ao longo de 2019, consideradas pela opinião pública gélidas e pragmáticas, mas sustentadas pela forma como a própria Rede Globo tratou o episódio, desde o dia que aconteceu e no decorrer do ano, informando, mas não crítica voraz do ocorrido, com a exceção de Paulo César Caju, colunista de “O Globo”, curiosamente demitido no início do ano vigente pelo rubro-negro que desfilou com a camisa do Flamengo pela redação do jornal, numa atitude que fala por si só – levou o clube a não poder mais receber adiantamento das cotas de TV por 18 meses.

Após o prazo, o Vasco retomou as relações comerciais com a emissora, questionando inicialmente o não pagamento por parte dela da verba inerente à Copa dos Campeões do Brasil de 2002, trazendo à empresa o desejo de voltar a conversar com o clube, tornando o acordo firmado no final daquele ano possível e feito.

Vamos esquecer a falta de mobilização dos vascaínos à época em defesa da instituição e a junção de uma grande parcela ao que dizia a Rede Globo e outras mídias massacrando o clube, alicerçados pelo movimento de oposição, chamado MUV. Mas não vamos esquecer que o Casaca!, existente desde 26/03/2000, se opôs de forma clara ao massacre, desde o princípio, por entender que a defesa do clube era precípua, fundamental, naquela situação.
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2003

No ano de 2003 o Vasco foi Campeão Estadual, chegou a trazer Edmundo, houve eleições, Eurico Miranda foi reeleito, mas a realidade vista em todos os clubes grandes do Brasil era de trabalho no vermelho e aumento das dívidas.
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2004/junho de 2008
A partir de 2004, o gestor à época, Eurico Miranda, por iniciativa própria, resolveu partir para um equacionamento financeiro do clube, algo tornado prioritário.

Era uma escolha difícil, mas o que era mais correto? Deixar a dívida aumentar e viver correndo de penhoras, esperar tudo explodir? Ou frear investimentos, manter a base forte, investir numa ou duas referências e manter o Vasco disputando, ainda com chances de conquistas (venceu uma Taça Rio e chegou à final do Campeonato Carioca {2004}, à final e semifinal da Copa do Brasil {2006 e 2008} naquele período e, ainda, não figurou em nenhuma rodada no returno de quaisquer campeonatos brasileiros dos pontos corridos na zona de rebaixamento, além de ter frequentado a zona da Libertadores em 29 rodadas {9 rodadas em 2006, 19 em 2007 e uma em 2008}, fora o fato de que não frequentava o Z4, até a troca de gestão, ocorrida em 01/07/2008, há 108 rodadas, além de jamais ter caído de divisão em sua história)?

O equacionamento das dívidas do clube não foi para inglês ver. O Vasco pensou em fazer e fez aquilo que nove anos depois (com um derramamento de dinheiro na Gávea), o Flamengo executou.

O clube diminuiu sua folha salarial, fez acordos e os cumpriu (só o de Romário foram 47 parcelas pagas), entrou no Ato Trabalhista, evitando penhoras, obteve certidões em 2005, enquanto Flamengo e Botafogo iam à imprensa chorar que seus clubes (sem certidões, evidentemente e entupidos de problemas fiscais) estavam à beira da falência e diziam que só a Timemania os salvaria.

O Vasco inaugurou e absorveu os custos do Colégio Vasco da Gama, desde 2004, fez amplas reformas em São Januário, manteve uma capacidade de público pagante de 24.500 pessoas, fora gratuidade, conseguiu em 2007 um novo Ato Trabalhista, em melhores condições do que o anterior, homologado em 17 de dezembro daquele ano (seria ratificado nas mesmas condições pela gestão seguinte em agosto de 2008), manteve durante mais de quatro anos salários em dia (compromisso de pagamento no dia 20 do mês subsequente), com alguns poucos atrasos ao longo do período, não tinha títulos protestados, fez acordo com o dono do Vasco Barra para se manter como locatário do local (e cumpria o acordo, discutindo na Justiça uma questão inerente ao IPTU e seu aumento brutal durante o período de locação), investiu na sua base, possuía esportes olímpicos e paraolímpicos, pagava suas contas e tinha um custo mensal, entre despesas fixas e variáveis na ordem de 3,5 milhões de reais mensais.
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Jun/Jul – 2008

Quando houve a troca de gestão, as falácias do MUV se tornaram verdade, pois já vinham expostas dessa maneira pela própria imprensa, e isso cegava (pela massificação) os vascaínos.

A dívida deixada na ordem de 220 milhões de reais, com 3,8 milhões de euros para entrar em três parcelas, em favor da gestão que chegava, joias da base surgindo no time profissional, cerca de nove meses de receita adiantada da TV, já absorvida e sem que o Vasco tivesse que passar pela Rede Globo para obter mais adiantamentos, com o Clube dos Treze, responsável por negociar coletivamente com a emissora detentora dos direitos e distribuir as verbas, mantendo-se o Vasco no grupo que mais recebia cotas em nível nacional (junto a Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo) e estadual, referente à Campeonatos Cariocas (junto ao Flamengo), em todas as plataformas e com um contrato assinado até 2011.
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Jul 2008/DEZ 2014

O MUV ficou seis anos e cinco meses no Vasco e nesse período primeiramente aumentou na caneta, baseado em reservas de contingências (fundamentalmente) a dívida do Vasco para mais de 350 milhões de reais, claro que diferentemente do procedimento do que todos os outros grandes faziam e, pasmem, anunciou, através de um de seus próceres, que, em 2012, a dívida havia diminuído para 250 milhões de reais. No balanço seguinte, apresentado pelo próprio MUV, após algumas trocas de cadeira na direção, o balanço do mesmo ano marcou 410 milhões de reais de dívida e dois anos depois constatou-se ter chegado a 688 milhões.

Todo o tipo de irresponsabilidade se viu naquele período, desde rebaixamento das cotas de TV, até carro pipa se negando a fornecer água porque o clube não tinha mais crédito.

Os acordos que eram pagos pela gestão anterior, passaram a ser descumpridos aos borbotões pelos novos administradores, de uma questão fiscal controlada o clube ficou encalacrado, com verbas retidas, também pelo não cumprimento de acordos pretéritos, primordialmente, e caiu outra vez para a segunda divisão, sem qualquer perspectiva, a ponto de no ano seguinte ter disputado a Série B sem liderá-la em rodada alguma e com Eurico Miranda, o possível sucessor, obtendo empréstimos junto à FERJ (fez isso duas vezes), para que ao menos a gestão MUV pagasse salários (na grande maioria do tempo atrasados), impedindo a debandada de atletas em meio à competição.
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DEZ 2014/JAN 2018

O Vasco foi recebido em 2014 com salários atrasados, direitos de imagem idem, centenas de títulos protestados, sem crédito junto às empresas que forneciam os serviços mais comezinhos, com várias ações de cobrança na FIFA, dívida com entidades esportivas (FERJ e CBF) superiores a 20 milhões de reais, sem certidões, com as verbas de TV de 2015 e 2016 de praticamente zero (já postado o Vasco no quinto lugar nas cotas), com 30 toneladas de lixo a céu aberto em sua sede principal, há 11 anos sem ganhar um título Estadual, com 3 vitórias em 22 jogos dos tempos do MUV diante do Flamengo, freguês do Botafogo no mesmo período, perdendo todas as decisões de taça disputadas contra equipes cariocas ao longo daquele tempo, valendo-se de uma Copa do Brasil conquistada, na qual não enfrentou uma única equipe grande do futebol brasileiro, para não sair zerado em termos de títulos, com uma divisão de base alocada em Itaguaí, nas condições mais precárias, ginásio abandonado, parque aquático fechado, e pousada do almirante (para a base), resumida a praticamente nada, fora a estrutura edificada.

Houve recuperação patrimonial inquestionável, houve melhora esportiva inquestionável (títulos, títulos invictos, vaga para a Libertadores, campeão Sub 20, Sub 17), novas revelações, maior venda de um atleta no século, 11,5 milhões anuais em média de patrocínios, patrocínio de manga num dos anos por 7 milhões de reais, certidões com 25 dias de gestão, mantidas por 2 anos e 9 meses, verbas da CBC, fruto disso, volta de outros esportes, aumento da capacidade de São Januário, senhor absoluto dos clássicos estaduais, voltando a realizá-los em São Januário após uma década, baseado isso em várias obras feitas, também, no estádio, criação do CAPRRES, CAPRRES da base, CAPRRES olímpico, campo anexo, salários sendo pagos regularmente, com a exceção dos meses finais de gestão, mas uma preocupação fundamental e é aí que muito do ocorrido atualmente se explica:

A gestão de Eurico Miranda viu o clube como estava e se preocupou em pagar o que ficara para trás primeiro (salários, direitos de imagem, por exemplo) e ao invés de choramingar buscou novamente crédito, iniciou novo processo de acordos, usou do princípio da continuidade administrativa para gerir. Deu, portanto, exemplo. Não havia um Paulinho ou Talles Magno para negociar, não havia crédito, não havia certidões, não havia time, não havia perspectiva e passou a haver isso tudo.
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JAN 2018/FEV 2020

Teoria e prática 1

Antes de a chapa amarela rachar, o candidato que seria derrotado no Conselho Deliberativo disse, entendendo-se já presidente do Vasco, que aquele grupo não tinha nada, a não ser uma expectativa que o clube obtivesse 250.000 novos sócios, tal qual o Benfica e que seria feito um trabalho para isso. Esse é o primeiro problema. Assim como o MUV fizera antes de entrar em 2008, prometendo filas de investidores, muito dinheiro entrando, também fora essa a proposta do grupo que se autointitulava amarelo na indumentária.

Mas, com o racha da chapa, surgiu a alternativa de Alexandre Campello como opção. Consideremos que se um não tinha nada, o outro idem, afora ideias.

Logo, Campello assume o clube e tem em uma semana de gestão, 10 dias, um empréstimo de 11 milhões de reais, que fora costurado pelo gestor anterior junto a um empresário, em benefício do gestor que chegava e que seria facilmente abatido de um grande valor a ser recebido menos de 90 dias depois, referente ao garoto Paulinho. Com isso foi pago o salário de novembro do ano de 2017.

Em meados de abril a venda de Paulinho traz líquido para o Vasco, descontando o empréstimo, 45 milhões de reais.

O que faz a gestão? Não paga o que faltava em termos de salários e gratificação aos funcionários do clube, ignora execuções, não cumpre acordos (enquanto demitia já mais de 200 funcionários) e mantém o dinheiro parado num banco para pagar os meses seguintes, enquanto nada capta praticamente.

Para completar, apresenta um balanço (que insistiu em fazer), no qual não tem como desmentir a queda da dívida do Vasco, mas é usado como choramingo, porque o valor de débito (dito como premente) deixado era maior do que o referente à venda do Paulinho, sabendo-se perfeitamente que o fundamento era pagar acordos, salários, direitos de imagem daquele final de gestão, porque já se sabia que os impostos para trás não iriam ser pagos e outros valores postos como débitos eram negociáveis (uns mais outros menos, mas eram).

Ou seja, o administrador atual, agiu exatamente como o MUV fizera. Terá a desculpa que não pegou tudo em dia como o MUV pegou, mas também teve a vantagem de uma entrada de capital considerável com pouco tempo de gestão e mais de 100 milhões recebidos ao longo de 2018 (o hoje na moda chamado de “dinheiro novo”), fruto daquilo que fora pavimentaodo pela gestão antecessora, sendo 38 milhões via uma ação judicial deixada de bandeja para trazer ao Vasco (em outubro de 2018) verba relevante e fazer com que o clube obtivesse certidões, o que não ocorreu por um insucesso do próprio clube quanto ao destino da verba.

E de lá para cá?

Empréstimos conseguidos e “pendurados” no clube, 18 meses com salários atrasados, 10 meses sem pagar o Profut, descumprimento de inúmeros acordos, mais de 100 execuções em função das demissões ocorridas no decorrer da gestão e, claro, valores que ficou devendo o Vasco, a maioria referente ao ano de 2017, sendo grande parte disso nos últimos meses de gestão.
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JAN 2018/FEV 2020

Teoria e prática 2

Mas e o administrador anterior? O que fez? Ele assumiu o clube em 2001 com todos os problemas inerentes ao alto custo mensal absorvido pelo Vasco no final do século XX e vários contratos que se venceriam entre 2001 e 2002, assinados (a esmagadora maioria) até 2000 e se virou para gerir, dentro de numa nova realidade, na qual estava inserida a Lei Pelé, calote continuado do parceiro principal e torniquete financeiro global por 18 meses.

Teve ele uma visão mais ampla dos problemas que todos os clubes passariam a viver no final da década e foi equacionando o clube, procurando manter o Vasco no primeiro plano da principal receita entre os clubes, investindo mais na base e cumprindo compromissos, mantendo crédito.

Mas, poderiam questionar que ele fazia parte da administração anterior e que era natural a continuidade administrativa.

E em 2014? Após seis anos e cinco meses de ferrenhos adversários no poder? Por que tomou a mesma iniciativa? Por que fez prevalecer o princípio da continuidade administrativa, mesmo tendo recebido o clube sem qualquer perspectiva?

Se ele fez isso, todos os que se dizem de boa fé tem de seguir os passos dele. E tem de seguir os passos dele porque os outros exemplos são péssimos, são a antítese de um princípio caro ao Vasco, que pode afundar o clube em problemas financeiros maiores, políticos, administrativos, de credibilidade e, por conseguinte, institucionais.
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JAN 2018/FEV 2020

Teoria e prática 3

O balanço assinado por Alexandre Campello em abril de 2018, rechaçado pelo Conselho Deliberativo, foi, em novembro de 2018, posto para a apreciação daquele poder, como opção a outro, apresentado por Eurico Miranda e sua equipe de trabalho do triênio 2015/2017.

Na reunião foi aprovada a prestação de contas/balanço de Eurico Miranda e dito para que fosse considerasse como norte, a partir dali.

O que fizeram os responsáveis pelo balanço de 2018? Simplesmente ignoraram decisão do Conselho Deliberativo e iniciaram os números do balanço de 2018, ignorando, também, tais retificações necessárias.

Qual era o caminho natural do Conselho Deliberativo? Reprovar.

Qual era o caminho natural da situação a ser percorrido antes? Não insistir no erro.

O resultado disso, considerando ainda relatório da BDO, com vários pontos obscuros, parecer em maioria do Conselho Fiscal queixando-se das mais diversas negações de apresentação de documentos, entre outros erros técnicos (exemplo, o superávit apresentado) levaram à reprovação.

Na atual gestão, outras deliberações do Conselho Deliberativo não estão sendo respeitadas (vide falta de cumprimento de ofícios e falta de documentos requisitados pelo Conselho Fiscal), mas se não houver freio o clube desce na banguela e cada vez a situação institucional fica mais difícil.

Conclusão:

A lição que fica a qualquer gestor futuro (e foi dada, na prática, em dois momentos distintos de gestão, por Eurico Miranda) é que o princípio da continuidade administrativa deve ser respeitado e as decisões do Conselho Deliberativo idem.

Se o gestor tem o mérito (que o tempo e experiência no clube dão) de conseguir exercer um poder de coesão interna entre os poderes, como Cyro Aranha conseguiu, Eurico Miranda conseguiu e outros ex presidentes conseguiram, isto se dá quando se adquire confiança em quem gere.

Não é só de fora para dentro, com discurso, que se consegue isso e sim com perfil agregador enxergado de dentro, a partir de serviços prestados ao clube e respeito à institucionalidade, seus poderes e seu homens, na teoria e na prática.

Sérgio Frias

Dirigentes Sub

O ocorrido na noite de ontem foi uma das páginas mais infelizes escritas pelo Vasco na história do clássico contra seu principal rival.

Não se deve crer que o clube poupou jogadores para a disputa da partida diante do Boavista, por mais que o atual treinador queira justificar algo nesse sentido.

Não se quer crer que o Vasco optou pela solução dos reservas para “equilibrar” o confronto em favor do rival e não se pode conceber que tenha escalado uma equipe claramente desentrosada para entrar em campo no lugar da principal, por algum receio de que viesse a ser derrotado pelo Flamengo.

Ora, o Flamengo já perdeu para um time todo reserva do Botafogo (1997), empatou com outro do Vasco com 10 suplentes (1998) e já deu lá seus inúmeros vexames históricos, mas nunca deixou se levar pela lógica do Vasco numa disputa oficial.

E nenhuma vez que o Flamengo apresentou um time B contra o A do Vasco saiu-se vencedor. Temos como exemplo a Copa Rio de 1993, disputada em meio à segunda fase do Campeonato Brasileiro daquele ano. Pelo contrário, naquela competição oficial o Vasco não deu o benefício ao clube da Gávea de adiar duas partidas entre ambos por causa do calendário rubro-negro. Eles que se virassem. Se viraram e perderam os dois jogos. A taça está lá na sala de troféus de São Januário.

Em outra determinada oportunidade o Vasco já fora da disputa de um Torneio Quadrangular, em 1960, poderia em vencendo o Flamengo dar o título ao Campo Grande e o vice ao rubro-negro da Gávea. Até então, naquele torneio, os dois clubes haviam atuado com equipes juvenis, mas no último jogo, exatamente diante do seu principal rival, a equipe cruzmaltina surpreendeu com uma formação na qual constavam vários profissionais e derrotou o adversário por 3 x 0, placar construído na primeira etapa.

Não podemos chegar à conclusão em 2020 que os dirigentes de 1960 e 1993 estavam errados e devemos respeitar primordialmente a torcida vascaína, que depois de muitos anos se fez presente no Maracanã em maior número que a do rival ontem.

O movimento dos torcedores cruzmaltinos no fim de 2019 (associação em massa) teve foco no ocorrido, em termos principalmente de imagem e mídia, em favor do rubro-negro, como se fosse dito na entrelinhas que o adversário passara a ser hegemônico no Rio de Janeiro.

A resposta do clube à sua torcida, oportunizando a que o Flamengo tivesse uma chance muito maior que a do Vasco para vencer o primeiro confronto do ano entre ambos, ainda mais com um jejum de vitórias que segue desde 2016, é a prova cabal de que o clube e, mais especificamente, seu futebol estão sendo geridos por curiosos, inaptos ou vascaínos derivados, sazonais.

A partida, com uma pequena noção de divulgação, marketing e motivação do torcedor, deveria ter marcado a estreia de German Cano na equipe, deveria ter sido trabalhada para assustar o adversário e não tranquilizá-lo com a escalação apresentada, poderia ter dias antes ocorrido um refutar do Vasco à atitude do Flamengo, quanto à sua conduta no que diz respeito às transmissões de seus jogos, pois o fato prejudica a torcida do Vasco e, inclusive, os assinantes do pay-per-view.

O Vasco poderia, enfim, usar tudo a seu favor, marcar uma vitória contundente, quebrar um tabu e trazer seu torcedor a orgulhar-se e defrontar-se com seu rival nas ruas, da forma mais jocosa e deliciosa possível para arrefecer suas decepções últimas.

As crianças vascaínas chegariam no colégio mais alegres e, também, orgulhosas, o Vasco se aproximaria mais de uma classificação para a semifinal da Taça Guanabara e empurraria seu adversário para baixo na tabela, correndo o risco de não chegar aos play-offs do turno, o dia seguinte para todo e qualquer vascaíno seria, em suma, mais feliz.

A irresponsabilidade do que foi feito, expondo Vasco, torcida, atletas, todos ao ridículo, deu no que deu.

Da mesma forma que o Vasco há três meses escrevera uma das páginas mais bonitas da história do clássico diante do rival, neste último Vasco x Flamengo desenhou uma das mais vergonhosas com uma derrota justa (apesar do começo muito bom), chutando apenas uma vez em direção à meta adversária no segundo tempo.

Não é só lamentável, não é apenas um acinte aos torcedores do clube, mas, principalmente, a atitude tomada é uma cusparada na história do Vasco e dos que a construíram.

Estamos, talvez, na época da “evolução”, onde evoluir é seguir o caminho que a lógica rubro-negra manda percorrer.

O mesmo Vasco, que implodiu a I Liga em dois anos, recentemente, após tanto bater no Flamengo e levá-lo à lona por duas temporadas seguidas, no confronto direto, hoje era capaz de seguir o clube da Gávea em busca da extinção do Campeonato Carioca e até solicitar ao solícito (quem sabe) rubro-negro um convite para disputar a II Liga ou coisa que o valha.

Desastroso é o mínimo que se pode dizer do resultado obtido, diante daquilo que foi feito pela direção cruzmaltina e por outros gênios do departamento de futebol.

Pensar grande e agir como pequeno não é a senda do Vasco. Longe disso.

Sérgio Frias

Princípio administrativo ferido, consequências sofridas

Os salários do Vasco estão em atraso há 16 meses. Há 16 meses atrasa-se o pagamento de salários no Vasco.

Um atleta sai do Vasco com valor de venda ou liberação entrando no clube e é cobrado, posteriormente, salários e gratificações enormes, do próprio atleta, alvo da venda, como ocorreu com Desabato (3 milhões de grana recebida pela venda).

Até o Anderson Martins, que recebeu sua rescisão, cobra o clube sem que o jurídico venha a público e esclareça, até baseando-se na própria fala do atleta à época. Cheguem-se a quem sabe que houve o pagamento e converse-se sobre.

Quem recebe salário e não é do futebol convive há quase um ano com a realidade de três, quatro meses de salários atrasados.

Ajuda de custo no Vasco é devida, dependendo de quem a receba, por seis, oito, nove meses.

É claro que ia dar nisso. No que está dando.

Todo mundo leu que o Vasco pôs 150 mil sócios novos no clube, todo mundo viu que o dinheiro serviria para pagar salários, dito pelo presidente do clube.

O meio esportivo sabe que o Vasco ficou impedido de inscrever jogadores até ontem, porque não conseguiu algo que é menos de 0,5% do seu orçamento para 2020.

O Vasco ficou devendo o pagamento do Profut por 10 meses, fica notório que compra e não paga (areia, gente!), acorda e não cumpre e ainda sofre revelia em vários processos, como neste inacreditável do não pagamento de areia.

Também é notório que foi o clube que mais demitiu funcionários sem pagar seus direitos (mais de 95% dos 300 não receberam suas verbas rescisórias de pronto).

Além disso, mais de uma centena executou o clube por não cumprimento de acordo via sindicato e há muitas pessoas na fila para verem suas execuções saírem.

O valor devido, por exemplo, para um funcionário que saiu com o clube devendo a ele 30 mil reais há 18 meses, pode hoje ultrapassar o triplo disso com execução, multas, juros, correção, etc…

Claro que isso chegaria onde está chegando.

O clube está sendo tocado de maneira completamente irresponsável e é assim desde o princípio, quando não cumpriu o princípio da continuidade administrativa com mais de 60 milhões limpos recebidos nos primeiros três meses de gestão (56 milhões limpos só do Paulinho).

A lógica perversa de largar o débito do passado, os acordos do passado, algo que ficou por pagar, que é a lógica distinta do que fez a gestão anterior, leva a isso.

O público vascaíno tem que cobrar isso. Que o gestor cumpra esse princípio, porque se não cumprir vai dar problema. Não há como não dar.

Pode demorar um ano, dois, três, mas vai dar problema.

A teimosia de bater em quem fez o certo e absolver quem levou o Vasco para esse buraco sem fundo é o maior prejuízo que o torcedor do Vasco dá ao clube.

Ele próprio tenta, tira do bolso, se movimenta, doa, faz campanha, participa de crowdfunding, quer resolver o problema, se associa, divulga, mas não consegue ir para o ponto central porque está viciado num discurso que deveria ter morrido quando o polo desse discurso morreu, ou nem começado se ele próprio enxergasse baseado nos fatos e não nas versões sobre eles criadas pelos detratores do clube.

Não há mal nenhum em reconhecer que aquilo era o certo (entrar pagar os salários atrasados obter certidões, cumprir acordos, tapar buracos deixados) e que o feito por essa gestão foi errado, que o feito pelo MUV era errado e que se faça um exame de consciência geral, sem inverter, buscar inverter, querer inverter uma lógica que é óbvia.

Você assume o clube pagando o que ficou para trás e é mais premente, cumprindo o acordado e equilibrando seus gastos dentro daquela realidade. E, na esmagadora maioria das vezes, não vai ter dinheiro da venda de um Paulinho para receber em três meses, como esse completo incapaz e sua equipe de planilhas recebeu em 2018.

E mais. A partir de 2021 a ordem é entrar quem capte, quem consiga mudar uma realidade que deveria ter sido modificada numa sequência lógica há mais de 10 anos, pois bastaria para o MUV dar continuidade ao trabalho de equacionamentos do clube, iniciado pós torniquete financeiro e de maneira definitiva em 2004, que já estava, portanto, no seu quarto ano quando chegamos a junho de 2008.

Mas a interrupção abrupta, com discursos de palanque, ações de picadeiro e soluções heterodoxas prevaleceu em nome de um posicionamento político e consequentes rebaixamentos moral, esportivo, financeiro e, por conseguinte, institucional do clube.

Pois é. Mas tinham que fazer diferente…

E na época era só continuar cumprindo o que se pagava, porque salários estavam em dia, acordos eram honrados, o clube não estava inundado em penhoras, como encontrado em 2014, vide receitas de bilheteira intactas, não havia título algum protestado, era partícipe do Ato Trabalhista, da Timemania, e funcionava.

Houve a troca de poder, a lição dada, mas quem sucede não aprende. Faz o mesmo, vai pelo mesmo caminho e um processo de reestruturação é jogado novamente no lixo agora para fazer política em cima de quem morreu (claro que não sabiam que ele iria morrer quando agiram da forma como fizeram nos primeiros meses de 2018).

Mas qual o resultado prático disso? O que se conseguiu com isso? Com ele, Eurico, vivo ou morto, o que adianta somente machucar uma gestão ou o gestor em detrimento do próprio clube? O que se ganha com isso?

Se não há reflexão, em nome da teimosia, haverá mais e mais prejuízos ao Vasco e todos vamos sofrer.

O princípio da continuidade administrativa é imperioso, já as soluções fora disso fadadas ao fracasso.

Sérgio Frias

Descumprimento e Desrespeito

Quem hoje imagina que a direção do Vasco vai à reunião do Conselho Deliberativo no intuito de discutir orçamento como algo primordial engana-se.

O presidente do clube e seus assessores jurídicos/políticos entenderam como um bom caminho para o futuro tentar na reunião de mais tarde votar contra a ata da reunião dos 150 a 1 (o hum era Alexandre Campello), usando de subterfúgios dos mais criativos e que tem como único objetivo não mostrar à comissão formada na reunião de outubro último o que foi pedido por ela (nove ofícios), aliás nenhum deles cumprido pelos responsáveis por fazê-lo, por determinação de Alexandre Campello.

A 20/12 o presidente do clube enviou carta aos conselheiros (clique aqui para ler) dizendo que o objeto da deliberação era díspar do conteúdo da convocação, o que não é verdade. Basta ler a convocação.

Disse, também, que a ata foi escrita de forma confusa a fim de confundir o Conselho Deliberativo.

A ata é uma mera expressão daquilo que foi dito e debatido no Conselho Deliberativo e não uma interpretação sobre o que foi dito e debatido. E as reuniões são gravadas.

A matéria deliberada está no edital de convocação, portanto não é estranha a ele.

A formação da comissão se dá justamente para, sem embaraços, poder averiguar o que o Conselho Deliberativo deliberou e deve ter ela, obviamente, amplo, geral e irrestrito acesso ao cadastro e poder, com isso, cumprir sua função.

A direção do clube desrespeitou a comissão formada quando não lhe deu acesso aos documentos exigidos nos ofícios protocolados, como também desrespeitou uma deliberação do próprio Conselho Deliberativo e, por extensão, de todos os conselheiros presentes que votaram pela abertura da sindicância nos moldes em que foi proposta e sem nenhuma contestação após o encaminhamento.

A risível desculpa de que a direção se preocupa com vazamento do cadastro para fora do clube nos faz pensar que há desconfiança prévia nos membros da comissão de algo ou que se quer pòr os conselheiros eleitos e natos sob desconfiança.

Quem está sob suspeita é a gestão e não os membros da comissão. A resistência em entregar documentos, além da busca de todas as formas de não aprovar uma ata com argumentos infantis, passa a permitir ser plausível ilações das mais diversas do que ela própria poderia ser capaz de fazer para continuar seu errático movimento quanto à questão em voga.

Já houve tentativa de aviltamento da lisura do processo eleitoral entre os meses de setembro e outubro deste ano, quando o presidente do clube ousou rasgar o estatuto do Vasco e considerar indeferidos pedidos de associação por um critério peculiar seu (número de fichas assinadas por proponente), caindo sua atitude deletéria no ridículo, junto à imprensa, às mídias sociais, o quadro social do clube e a ampla maioria dos torcedores vascaínos.

Agora o que se tenta é impedir acesso para que se vejam supostas irregularidades no cadastro do clube, o que se evidencia cada vez mais próximo de ter alguma razoabilidade, dada a forma como a direção atua na omissão de suas obrigações perante à comissão, que terminou seus trabalhos sem ter recebido nada, em mais uma infração estatutária clara de Alexandre Campello e seus subordinados.

Sérgio Frias

Copa Intercontinental x Mundial Interclubes

“Dois pesos e duas medidas”.

Em quantas ocasiões isso é ouvido quando o assunto da pauta na imprensa é o sucesso ou insucesso de Vasco e Flamengo?

Mais uma vez foi o visto após a justíssima e incontestável derrota rubro-negra há alguns dias, frente ao Liverpool.

Já houve comparação de manchetes dos órgãos globais, da época e de hoje, surgidas em mídias sociais.

Uma situação das mais embaraçosas foi criada para o grupo Globo, que mantém empregado seu diretor de esportes, após desfile dele, vestido de rubro-negro, na redação do jornal isento, e demite o fotógrafo, por ter mostrado não só o ridículo da cena, como a falta de compostura de quem supostamente comanda a área esportiva de um órgão imparcial.

Ainda chegará o dia em que o Extra publicará após uma vitória que leve o rubro-negro a uma final com o Vasco, a comemoração de um atleta do clube da Gávea em foto e um “Pintou o Vice”.

Talvez o jornal “O Globo” crie uma manchete igual para celebrar um título do Flamengo, como fez em 2003 com o Vasco.

Bastará, para tal, cremos, que o clube da Gávea vença um campeonato com brigas nas imediações do gramado no primeiro tempo da partida decisiva e duas expulsões (não em decorrência disso), independentemente do antológico gol da vitória ter valido o ingresso, tal a beleza do lance.

A manchete “Flamengo campeão na final da vergonha” virá mesmo assim. Vamos esperar (sentados).

Antes que outros debates constrangedores se deem em programas esportivos globais, com tentativas de se justificar o injustificável, fica uma sugestão:

Seria preferível que pedissem, em nome do grupo Globo, simplesmente sinceras desculpas (mesmo que não sejam sinceras as desculpas) à torcida vascaína, seu corpo funcional e diretor da época, admitindo uma parcialidade, que, temos todos certeza, deixará de existir a partir de agora.

Por outro lado, seria, também, de bom tom admitir ter sido um exagero dos mais primários afirmar ter o Flamengo jogado “de igual para igual” com o Liverpool de Firmino.

Mas, vamos ao incontestável e que trouxe em pesquisa recente a reação dos vascaínos nas mídias sociais, realizada sobre a maior atuação brasileira em decisões intercontinentais ou mundiais contra os europeus nos últimos 30 anos.

Diga-se de passagem a atuação do Vasco em 1998, só está abaixo daquelas protagonizadas pelo São Paulo contra o Barcelona (1992) e do Palmeiras frente ao Manchester United-ING (1999), em termos comparativos.

A atuação do Flamengo está bem abaixo das citadas acima, das outras duas decisões disputadas pelo São Paulo, da atuação do Grêmio em 1995 (que jogou mais de uma hora com 10 em campo), do Corinthians em 2012 e é mais parecida com a do Cruzeiro em 1997.

Sim, porque a equipe mineira perdeu na oportunidade boas chances de gol com o placar ainda em branco, mas sucumbiu, fundamentalmente, no segundo tempo, diante de uma equipe alemã mais coesa e organizada em campo.

É superior a atuação rubro-negra de 2019 apenas a do Grêmio em 2017, Internacional-RS em 2006 (ambos jogaram por uma bola e os colorados tiveram a sorte dela surgir e ser aproveitada), e a do Santos, em 2011, que tomou o maior passeio de um clube brasileiro, em confrontos decisivos, no decorrer de toda a história dos intercontinentais/mundiais.

Dito isso, comparemos, então, Vasco x Real Madrid (1998) e Flamengo x Liverpool (2019).

Primeiro a decisão da Copa Intercontinental de 1998.

Chances claras de gols:

Vasco 6 x 5 Real Madrid (considerando os gols marcados).

O Vasco dominou o segundo tempo, a partir do gol de empate assinalado por Juninho Pernambucano (que na época era só Juninho).

O Real Madrid criou três de suas cinco reais chances (incluindo o gol) antes de o Vasco empatar.

Depois do gol de empate cruzmaltino o time brasileiro criou mais cinco chances reais de marcar, uma delas com Mauro Galvão, assinalando um gol com a mão (a pelota ultrapassou a linha fatal), mas sem a paralisação do lance, porque nem bandeirinha nem árbitro viram o toque irregular do zagueiro vascaíno ou a bola entrar.

As outras chances foram com Felipe (três) e Ramon (uma), esta última já com o Real Madrid vencendo por 2 x 1.

Vinte e um anos depois tivemos a decisão do Mundial Interclubes, protagonizada por Flamengo e Liverpool.

Como foi a diferença de produção das duas equipes?

Chances claras de gols:

Liverpool 9 x 3 Flamengo (considerando o gol marcado).

O Flamengo teve domínio territorial durante parte do primeiro tempo, sem criar uma única chance real de gol, após início estonteante do Liverpool.

As três chances rubro-negras se deram uma no segundo tempo (defesa do goleiro para escanteio num chute de Gabriel) e duas no segundo tempo da prorrogação (Gabriel e Lincoln).

O Liverpool teve 9 chances claras.
Duas no primeiro tempo.
Quatro no segundo tempo.
Duas no primeiro tempo da prorrogação.
Uma no segundo tempo da prorrogação.

Saliente-se que uma outra chance do Liverpool foi perdida no primeiro tempo da prorrogação. O jogo seguiu, pois a bola sobrou para o Flamengo, mas com a emissora considerando ter havido impedimento e vantagem dada ao time rubro-negro, por isso tal oportunidade não foi contabilizada aqui (confiando no olho clínico da Globo sobre o lance, sem criar polêmica).

Ressalte-se ainda que o Liverpool teve duas faltas frontais, próximas à risca da área, em seu favor, não marcadas. Uma no primeiro tempo e outra no lance que ensejaria a expulsão do Rafinha, já nos acréscimos da etapa final, caso fosse assinalada.

Não consideremos aí, nos dois jogos citados, chutes para fora (de fora da área), chutes prensados pela zaga, chutes de fora ou dentro da área nos quais o goleiro agarra firme, o que sugere (nos casos vistos), que se deixasse a bola passar seria frango (chute de fora da área do Ramon contra o Real Madrid, em 1998, bicicleta do Gabriel e chute de Arnold da meia direita da área, amortecido pela zaga, antes de chegar às mãos do goleiro, em 2019).

Também não há como dizer que houve uma chance real de gol sem complemento da jogada, o que ocorreu várias vezes no confronto de sábado último, com as duas equipes, como também aconteceu em ataque do Vasco contra o Real Madrid em 1998.

Nove a três é o triplo de chances criadas de uma equipe em comparação à outra e dois terços das chances reais do Flamengo vieram com o time atrás do marcador.

A maioria das chances do Vasco se deram quando o jogo diante do Real Madrid estava empatado.

O Vasco de 1998, se comparado ao Flamengo de 2019, mostrou-se em outro patamar no confronto intercontinental. Algo inquestionável.

E olha que nem há menção nesse texto a Vasco x Manchester United-ING de 2000, com Romário e Edmundo em campo.

Aí já é outra dimensão.

Sérgio Frias

Passamento de um campeão

Se há uma patente no Vasco que lembra atleta específico do clube, esta não é Soldado, Cabo, Sargento, Tenente, Capitão (aí lembramos de muitos atletas), Major, General, Marechal (neste caso temos até uma pessoa específica, mas fora de campo).

O quatiense Coronel, Antônio Evanil da Silva, nome de batismo, patenteou para si não só o epíteto, como também a simbologia de aguerrimento linkada a ele.

Quem acompanhou o Vasco entre os anos 50 e 60 do século passado viu atuar pela lateral esquerda do time juvenil e profissional – fosse no já ultrapassado WM, ou no 4-2-4, ou ainda no 4-3-3 – um atleta com bom senso de marcação, firme, resoluto, que chegaria, inclusive, à Seleção Brasileira.

Pela seleção nacional disputou um Campeonato Sul-americano, realizado na Argentina, chegando ao vice daquele certame, e o Troféu O`Higgins, contra o Chile, conquistado pelo Brasil, em dois jogos.

Na ocasião foi ele o substituto de Nilton Santos, entrando no lugar do lateral botafoguense já na primeira partida do certame continental e atuando como titular nos jogos seguintes. Foram oito vezes, ao todo, vestindo a camisa da Seleção Brasileira, com seis vitórias e dois empates obtidos. Todos os jogos disputados em 1959.

Pelo Vasco, Coronel foi, inicialmente, Campeão Carioca Juvenil em 1954. Fazia ele parte do time dirigido por Eduardo Pellegrini, na condição de titular à época. Marcou três gols na campanha vitoriosa da equipe cruzmaltina naquele ano.

Antes disso, sagrou-se Campeão Brasileiro Juvenil pela Seleção do Distrito Federal (Torneio Paulo Goulart de Oliveira), em março de 1953. Já havia, também, participado de vários jogos com equipes mistas formadas pelo clube, no mesmo ano. Entre 1953 e 1954 foram 26 partidas amistosas realizadas em times alternativos do Vasco.

O atleta, descoberto pelo Vasco quando jogava em Barra Mansa, defendeu as cores de sua paixão como amador, depois profissional, entre 1952 e 1963, atuando nas conquistas de um Torneio Rio-São Paulo (1958), dois Campeonatos Cariocas (1956, 1958) e duas competições internacionais, uma delas realizada no Chile (1957) e outra tendo como local o México (1963).

Entre 1955, quando começou a brigar por vaga na equipe titular do Vasco, até 1963, foram 318 jogos com a camisa cruzmaltina. Participou ainda de três partidas válidas pelo Torneio Início, disputa que, embora oficial, constava de jogos mais curtos, portanto não computados dentro da lógica estatística convencional.

O atleta estreou, em partidas oficiais, na equipe principal a 07/05/1955, numa derrota frente ao Flamengo por 2 x 1, em jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Coronel entrou em campo substituindo a Dario, machucado, quando eram decorridos 21 minutos de jogo e o Vasco já perdia por 2 x 0.

Antes disso ele já havia sido escalado como titular da lateral esquerda num torneio amistoso (General Cordeiro de Farias), realizado em Pernambuco, com as presenças de Vasco, Bahia, Santa Cruz e Sport. Em seu debut Coronel participou da vitória cruzmaltina sobre a equipe tricolor pernambucana por 3 x 1, a 13 de março.

Em seu primeiro ano como titular absoluto da equipe (1956) Coronel foi Campeão Carioca.

Sua primeira assistência a gol ocorreu na derrota vascaína diante do Real Madrid-ESP por 5 x 2, estreia da equipe brasileira na Pequena Taça do Mundo da Venezuela, em 1956. Coronel serviu a Laerte, que marcou o tento inaugural daquela partida.

No mesmo torneio, diante da Roma-ITA, o lateral deu assistência a Vavá para que o centroavante marcasse o primeiro gol vascaíno na vitória por 3 x 1 sobre os italianos.

Envolvido intimamente com o clube, Coronel era garra em campo e um torcedor vascaíno fora dele. Após a conquista do Super Super Campeonato Carioca de 1958, o lateral cumpriu a promessa feita antes pelo título e raspou sua cabeça.

Ferrenho marcador de Garrincha, Coronel protagonizou lances duros contra o ponteiro, que levaram a confusões em campo nos clássicos entre Vasco e Botafogo.

O lateral perdeu várias disputas, ganhou outras, mas teve seu momento de gáudio em uma partida entre as equipes, válida pelo Torneio Rio-São Paulo de 1959, vencida pelo Vasco por 2 x 0.

Na ocasião, perante os aplausos da torcida cruzmaltina, fez de Garrincha seu “João”, após driblar por duas vezes consecutivas o ponta, algo raro, mas inesquecível para os vascaínos da época.

A fibra de Coronel por vezes lhe fazia sofrer duras consequências, como quando salvou um gol certo do corintiano Rafael, após este driblar o arqueiro Ita, em partida disputada no Pacaembu, válida pelo quadrangular final do Torneio Rio-São Paulo de 1961. Naquela oportunidade sofreu uma séria distensão muscular, mas ajudou a que o Vasco vencesse pelo placar de 2 x 0.

A última partida oficial disputada por Coronel com a camisa cruzmaltina ocorreu na rodada derradeira do Campeonato Carioca de 1962, contra o Campo Grande, no Maracanã (empate por 3 x 3). O placar se repetiu, também, no último jogo do atleta pelo Vasco, um amistoso contra o Grêmio Estrela, de Juiz de Fora, realizado a 23/07/1963 na cidade mineira.

Era o fim de uma trajetória vitoriosa no clube de São Januário, marcada não pelos grandes lances ofensivos (apenas cinco assistências e nenhum gol marcado) e sim pela fibra defensiva e superação reinante a cada grande embate do Vasco nas mais diversas competições.

Do Vasco Coronel saiu para o Náutico em setembro de 1963. Lá participou da conquista do título que abriria uma série inesquecível para os alvirrubros, até o Hexacampeonato Pernambucano em 1968.

Atuaria ainda pela Ferroviária, de Araraquara, Nacional, da capital paulista, chegando, também, a jogar no futebol colombiano, defendendo o União Magdalena. Em maio de 1968 partiu para o futebol venezuelano a fim de defender o Lara F.C., mas sofreu por lá uma fratura no pé esquerdo, que o deixou parado por meses e precipitou seu fim de carreira aos 33 anos de idade.

Por anos era visto nas sociais do Vasco ao lado do companheiro de time Orlando Peçanha.

Chegou ele a treinar a equipe cruzmaltina de profissionais em algumas partidas amistosas nos anos 70, mas sua satisfação era mesmo acompanhar o time em campo como mais um dentre os milhares de vascaínos presentes em inúmeros jogos realizados em São Januário.

Coronel nos deixou ontem, mas fica patente sua identificação com o Vasco. Todos lhe aplaudem de pé pelos serviços prestados ao clube, tal qual fizeram os torcedores cruzmaltinos presentes naquele 30/04/1959, quando o lateral inovou, fazendo Mané Garrincha de “João”.

Sérgio Frias

A torcida de brunos henriques

Dia de clássico, num palco desfigurado pela volúpia da corrupção e pela politicagem mais abjeta.

Ainda assim, um resquício do espírito do velho Maracanã, acuado em seu limbo forçado, teimosamente esgueirou-se para assistir à apresentação de uma camisa gloriosa, envergada por jogadores briosos, cientes da força da Cruz de Malta.

Apoiados por 2 mil valentes, representantes da melhor tradição vascaína, foram nossos jogadores a campo ministrar uma inesquecível lição aos neo torcedores de uma grande farsa, aos bobalhões que julgam a história por aquilo que seus olhos viram e suas cabeças não entenderam, uma lição aos que, a despeito das dificuldades passadas que lhes deveriam moldar os caracteres, optaram pelo livre arbítrio da ignorância, enveredando-se por caminhos incertos.

Foi uma aula institucional e de valores, um freio à insanidade midiática.

Excelente ver comentaristas mal humorados, bicudos, contorcendo-se como pequenos vermes que se alojam nos cérebros menos afortunados e nos corações menos puros.

Foi, sim, uma lição, com a didática de quem tem bagagem e História para ser contada.

Merecíamos a vitória, mas as reações, o medo e a confusão estampadas nas faces dos 40 mil brunos henriques valeu muito mais do que três meros pontos.

Isto é o Vasco. Suor, superação, resistência, resiliência e respeito.

O emblemático clássico, numa noite mágica, encerrou lições a todos. Para fora e para dentro do clube.

Queira Deus que se faça bom proveito das verdades impostas pela Cruz.

Rafael Furtado