Sérgio Frias
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Passamento de um campeão

Se há uma patente no Vasco que lembra atleta específico do clube, esta não é Soldado, Cabo, Sargento, Tenente, Capitão (aí lembramos de muitos atletas), Major, General, Marechal (neste caso temos até uma pessoa específica, mas fora de campo).

O quatiense Coronel, Antônio Evanil da Silva, nome de batismo, patenteou para si não só o epíteto, como também a simbologia de aguerrimento linkada a ele.

Quem acompanhou o Vasco entre os anos 50 e 60 do século passado viu atuar pela lateral esquerda do time juvenil e profissional – fosse no já ultrapassado WM, ou no 4-2-4, ou ainda no 4-3-3 – um atleta com bom senso de marcação, firme, resoluto, que chegaria, inclusive, à Seleção Brasileira.

Pela seleção nacional disputou um Campeonato Sul-americano, realizado na Argentina, chegando ao vice daquele certame, e o Troféu O`Higgins, contra o Chile, conquistado pelo Brasil, em dois jogos.

Na ocasião foi ele o substituto de Nilton Santos, entrando no lugar do lateral botafoguense já na primeira partida do certame continental e atuando como titular nos jogos seguintes. Foram oito vezes, ao todo, vestindo a camisa da Seleção Brasileira, com seis vitórias e dois empates obtidos. Todos os jogos disputados em 1959.

Pelo Vasco, Coronel foi, inicialmente, Campeão Carioca Juvenil em 1954. Fazia ele parte do time dirigido por Eduardo Pellegrini, na condição de titular à época. Marcou três gols na campanha vitoriosa da equipe cruzmaltina naquele ano.

Antes disso, sagrou-se Campeão Brasileiro Juvenil pela Seleção do Distrito Federal (Torneio Paulo Goulart de Oliveira), em março de 1953. Já havia, também, participado de vários jogos com equipes mistas formadas pelo clube, no mesmo ano. Entre 1953 e 1954 foram 26 partidas amistosas realizadas em times alternativos do Vasco.

O atleta, descoberto pelo Vasco quando jogava em Barra Mansa, defendeu as cores de sua paixão como amador, depois profissional, entre 1952 e 1963, atuando nas conquistas de um Torneio Rio-São Paulo (1958), dois Campeonatos Cariocas (1956, 1958) e duas competições internacionais, uma delas realizada no Chile (1957) e outra tendo como local o México (1963).

Entre 1955, quando começou a brigar por vaga na equipe titular do Vasco, até 1963, foram 318 jogos com a camisa cruzmaltina. Participou ainda de três partidas válidas pelo Torneio Início, disputa que, embora oficial, constava de jogos mais curtos, portanto não computados dentro da lógica estatística convencional.

O atleta estreou, em partidas oficiais, na equipe principal a 07/05/1955, numa derrota frente ao Flamengo por 2 x 1, em jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Coronel entrou em campo substituindo a Dario, machucado, quando eram decorridos 21 minutos de jogo e o Vasco já perdia por 2 x 0.

Antes disso ele já havia sido escalado como titular da lateral esquerda num torneio amistoso (General Cordeiro de Farias), realizado em Pernambuco, com as presenças de Vasco, Bahia, Santa Cruz e Sport. Em seu debut Coronel participou da vitória cruzmaltina sobre a equipe tricolor pernambucana por 3 x 1, a 13 de março.

Em seu primeiro ano como titular absoluto da equipe (1956) Coronel foi Campeão Carioca.

Sua primeira assistência a gol ocorreu na derrota vascaína diante do Real Madrid-ESP por 5 x 2, estreia da equipe brasileira na Pequena Taça do Mundo da Venezuela, em 1956. Coronel serviu a Laerte, que marcou o tento inaugural daquela partida.

No mesmo torneio, diante da Roma-ITA, o lateral deu assistência a Vavá para que o centroavante marcasse o primeiro gol vascaíno na vitória por 3 x 1 sobre os italianos.

Envolvido intimamente com o clube, Coronel era garra em campo e um torcedor vascaíno fora dele. Após a conquista do Super Super Campeonato Carioca de 1958, o lateral cumpriu a promessa feita antes pelo título e raspou sua cabeça.

Ferrenho marcador de Garrincha, Coronel protagonizou lances duros contra o ponteiro, que levaram a confusões em campo nos clássicos entre Vasco e Botafogo.

O lateral perdeu várias disputas, ganhou outras, mas teve seu momento de gáudio em uma partida entre as equipes, válida pelo Torneio Rio-São Paulo de 1959, vencida pelo Vasco por 2 x 0.

Na ocasião, perante os aplausos da torcida cruzmaltina, fez de Garrincha seu “João”, após driblar por duas vezes consecutivas o ponta, algo raro, mas inesquecível para os vascaínos da época.

A fibra de Coronel por vezes lhe fazia sofrer duras consequências, como quando salvou um gol certo do corintiano Rafael, após este driblar o arqueiro Ita, em partida disputada no Pacaembu, válida pelo quadrangular final do Torneio Rio-São Paulo de 1961. Naquela oportunidade sofreu uma séria distensão muscular, mas ajudou a que o Vasco vencesse pelo placar de 2 x 0.

A última partida oficial disputada por Coronel com a camisa cruzmaltina ocorreu na rodada derradeira do Campeonato Carioca de 1962, contra o Campo Grande, no Maracanã (empate por 3 x 3). O placar se repetiu, também, no último jogo do atleta pelo Vasco, um amistoso contra o Grêmio Estrela, de Juiz de Fora, realizado a 23/07/1963 na cidade mineira.

Era o fim de uma trajetória vitoriosa no clube de São Januário, marcada não pelos grandes lances ofensivos (apenas cinco assistências e nenhum gol marcado) e sim pela fibra defensiva e superação reinante a cada grande embate do Vasco nas mais diversas competições.

Do Vasco Coronel saiu para o Náutico em setembro de 1963. Lá participou da conquista do título que abriria uma série inesquecível para os alvirrubros, até o Hexacampeonato Pernambucano em 1968.

Atuaria ainda pela Ferroviária, de Araraquara, Nacional, da capital paulista, chegando, também, a jogar no futebol colombiano, defendendo o União Magdalena. Em maio de 1968 partiu para o futebol venezuelano a fim de defender o Lara F.C., mas sofreu por lá uma fratura no pé esquerdo, que o deixou parado por meses e precipitou seu fim de carreira aos 33 anos de idade.

Por anos era visto nas sociais do Vasco ao lado do companheiro de time Orlando Peçanha.

Chegou ele a treinar a equipe cruzmaltina de profissionais em algumas partidas amistosas nos anos 70, mas sua satisfação era mesmo acompanhar o time em campo como mais um dentre os milhares de vascaínos presentes em inúmeros jogos realizados em São Januário.

Coronel nos deixou ontem, mas fica patente sua identificação com o Vasco. Todos lhe aplaudem de pé pelos serviços prestados ao clube, tal qual fizeram os torcedores cruzmaltinos presentes naquele 30/04/1959, quando o lateral inovou, fazendo Mané Garrincha de “João”.

Sérgio Frias

2 comentários sobre “Passamento de um campeão

  1. CORONEL, DAVA PRAZER VÊ-LO JOGAR, PELO EMPENHO, DEDICAÇÃO E, PRINCIPALMENTE, PELO AMOR AO CR VASCO DA GAMA. ESTAVA SEMPRE PRESENTE EM SÃO JANUÁRIO, ATÉ PORQUE , ASSIM COMO ELE MUITOS OUTROS CRAQUES DA ÉPOCA MORAVAM NOS APOSENTOS QUE FICAVAM EM CIMA DO DEPARTAMENTO MÉDICO . BONS TEMPOS E OUTROS COMPORTAMENTOS DOS JOGADORES SEM A MALDIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS QUE SÓ LEVAM VANTAGEM. MAS CORONEL MERECE TODAS AS HONRAS E HOMENAGENS, PELO TANTO QUE HONROU, ORGULHOSAMENTE, NOSSAS CORES
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