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Vasco hoje (29/05/1977 & 29/05/1988) – Uma data, dois títulos

 

O dia 29 de maio marca muitas vitórias do Vasco ao longo de sua jornada futebolística, mas dois títulos inesquecíveis, no espaço de 11 anos entre um e outro, merecem destaque hoje.

Primeiramente vamos falar do título conquistado de Bicampeão da Taça Guanabara em 1977.

A campanha do Vasco fora quase irrepreensível. Na quarta rodada uma inesperada derrota frente ao América por 1 x 0 (fruto de uma falta inexistente marcada a favor do diabo) seria o único dia de tristeza dos vascaínos naquele turno do Campeonato Carioca de 1977.

Nas outras 12 partidas disputadas a equipe de São Januário conquistou 12 vitórias. Derrotou nos clássicos o Flamengo por 3 x 0 e o Fluminense pela contagem mínima, goleou o Madureira por 7 x 1, o Bangu pelo placar de 6 x 0 e acumulou mais oito triunfos diante de Goytacaz, Campo Grande, Olaria, São Cristovão, Volta Redonda, Portuguesa, Bonsucesso e Americano. Trinta e oito gols marcados e quatro sofridos nos referidos jogos.

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O Globo (30/05/1977)

O Botafogo também mantinha uma performance exemplar no turno até tropeçar na quinta rodada diante do Flamengo (derrota por 2 x 1). Em seguida empates contra o Americano, em Campos, e Bangu no Maracanã. Nos outros 10 jogos, porém, nenhum ponto perdido.

Na estreia contra o bicampeão Fluminense, vitória por 2 x 0. A equipe despacharia também o América pelo mesmo placar, aplicaria impressionantes 8 x 0 no Campo Grande, 6 x 0 no Olaria, além de passar por Volta Redonda, Portuguesa, São Cristovão, Madureira, Bonsucesso e Goytacaz. Apenas naqueles 10 compromissos havia marcado 33 gols, sem sofrer um sequer.

Vasco, 38 gols marcados e 5 sofridos, contra Botafogo, 36 gols marcados e 4 sofridos. Ambos haviam perdido uma vez, ambos definiram partidas com gols no final. O Botafogo na Ilha, frente à Portuguesa, através de Dé, na terceira rodada (1 x 0), o Vasco com Roberto, diante do Bonsucesso, em São Januário, na 12ª rodada (2 x 1).

Além disso, uma dupla que brilhara nos últimos dois estaduais, Roberto e Dé, estava agora separada. Dé marcara até ali 11 gols pelo Botafogo, Roberto 14, pelo Vasco.

O goleiro alvinegro Zé Carlos não era vazado há 557 minutos e o alvinegro tinha naquele momento a melhor defesa da competição.

Junto a Zé Carlos, o Botafogo poderia contar também com Perivaldo na lateral direita e Rodrigues Neto na esquerda. Um meio campo de respeito no qual Carbone, Paulo César Caju e Mário Sérgio alimentavam o ponta de lança Manfrini, o extrema direita Gil e finalmente o oportunista Dé. A zaga, formada por Osmar e Odélio – que substituía desde o meio do turno o ex vascaíno Renê – não poderia ser muito contestada pela performance das seis últimas partidas, embora individualmente o quarto zagueiro fosse considerado o mais frágil do onze alvinegro.

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Já o Vasco tinha no gol Mazaropi, herói da conquista da mesma taça no ano anterior e que tentava fazer a torcida esquecer de Andrada, apesar de já ser titular do gol vascaíno há quase um ano e meio. Nas duas laterais a tenacidade de Orlando Lelé e a classe de Marco Antônio. Na zaga pouco virtuosismo, mas muita disposição. Abel e Geraldo impunham respeito aos adversários. No meio campo um trio que se encaixara com Zé Mário, Zanata e o motor da equipe, Dirceu. Na frente, cheio de ginga e dribles, Wilsinho levava à loucura os laterais adversários, Ramon, oriundo do futebol pernambucano, vivia grande fase, marcando gols (nove ao todo) e caindo no gosto da galera. Mas a figura de destaque permanecia mesmo sendo Roberto, decisivo como artilheiro ou mesmo garçom, tal qual foi na partida diante do Fluminense, quando pôs o companheiro Ramon na cara gol com um passe preciso. A fé da torcida cruzmaltina residia principalmente nele.

O Botafogo entrava em campo para impedir o título do Vasco. Uma vitória por qualquer placar levaria as duas equipes a decidir a Taça Guanabara numa partida extra. Já o Gigante da Colina, atuava pelo empate e mesmo derrotado ainda teria outra oportunidade para ser campeão.

O primeiro tempo foi do Botafogo, que apesar do jogo truncado conseguiu chegar perto de marcar por três vezes.

Na primeira delas, aos 10 minutos, Mário Sérgio cobrou falta e Marco Antônio ao tentar cortar por pouco não marcou contra. A bola passou rente à trave de Mazaropi.

Aos 26 uma excelente oportunidade perdida por Dé. O centroavante recebeu ótimo lançamento de Paulo César e frente a frente com Mazaropi chutou em cima do goleiro vascaíno, para desespero da galera alvinegra, presente ao Maracanã.

Aos 31 foi a vez de Mário Sérgio errar um chute de esquerda, quando tinha condições de marcar.

Se na primeira etapa o Vasco foi ineficaz ofensivamente, logo no início do segundo tempo foi mortal.

Aos 2 minutos Orlando Lelé desceu pela direita, chegou próximo à linha de fundo e cruzou de curva para Roberto que com uma cabeçada fulminante vazou Zé Carlos, após 604 minutos de invencibilidade do arqueiro botafoguense. Vasco 1 x 0.

No minuto seguinte, quase o Vasco aumenta. Zanata avança até a intermediária adversária e entrega a Roberto, que devolve ao companheiro e se desloca para a direita. Zanata percebe o movimento do artilheiro e entrega limpa. Dinamite avança, mas na hora do arremate chuta fraco, para boa defesa de Zé Carlos.

Refeito do gol tomado o Botafogo volta à carga e Dé desperdiça mais uma oportunidade, após receber bom passe de Rodrigues Neto e invadir a área pela direita. Mazaropi, com muito arrojo, mergulha a seus pés, evitando o tento de empate alvinegro.

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Jornal do Brasil (30/05/1977)

O técnico Sebastião Leônidas dá sua última cartada. Tira Carbone, um volante mais recuado e põe outro meia, mais avançado e veloz, na sua vaga. Luisinho Rangel entra, acelera o jogo, e quase marca aos 26, não fosse boa intervenção de Mazaropi.

Mas se o Botafogo ganha força nas manobras ofensivas com a substituição, por outro lado sua defesa está cada vez mais exposta e aos 27 minutos tem o Vasco a chance de ampliar o marcador, após boa jogada de Roberto na esquerda, que tabela com Dirceu, invade, fica sem ângulo para o arremate e serve Wilsinho na direita. O ponteiro conclui fraco e permite a defesa segura de Zé Carlos.

Aos 29 nova carga cruzmaltina. Numa cobrança de falta mal executada por Mário Sérgio, no campo de ataque, próximo à área, a bola sobra nos pés de Zanata. Daí parte um lançamento na direita para Fumanchu, que substituíra Wilsinho um pouco antes. O ponta avança e cruza para Roberto. O centroavante toca mais atrás, na direção de Dirceu, livre, bem próximo à área. O meia chuta fraco, a pelota desvia em Osmar e quase engana Zé Carlos. Foi por pouco.

Aos 31 não houve jeito. Mário Sérgio perde a bola para Zé Mário, que faz excelente lançamento em profundidade para Roberto, deslocado pela esquerda. A defesa do Botafogo pára, pedindo impedimento (inexistente). Dinamite avança, corta para o meio, passa por Odélio e atira por baixo, sem defesa para Zé Carlos. Liquidada a fatura. Vasco 2 x 0.

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Torcida saúda a equipe vencedora com faixas e muita festa. O Globo (30/05/1977)

Os 14 minutos finais foram de festa da torcida cruzmaltina nas arquibancadas – maioria evidente entre os mais de 131 mil torcedores pagantes – e de aguardo do time dirigido por Orlando Fantoni pelo apito final.

Consumada a vitória o Vasco fazia a mais impressionante campanha de toda a história da Taça Guanabara até ali e vislumbrava até mesmo vencer o Campeonato Carioca direto, o que seria possível se viesse a conquistar também o segundo turno da competição. Seu vice na classificação final do turno, Flamengo, viria a ser o grande adversário no returno daquele certame.

………

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O Globo (30/05/1988)

Onze anos depois o time cruzmaltino se via diante de um incômodo tabu. Iria para a sua oitava decisão de taça contra o Fluminense, mas perdera as últimas sete. A única vitória ocorrera no distante ano de 1946, quando numa melhor de três o Expresso foi vitorioso e campeão, dentro de São Januário, vencendo por 1 x 0 o time de Ademir Menezes na ocasião, com um gol do ponteiro esquerdo Chico e se sagrando Tricampeão Municipal.

O Fluminense estava muito próximo de alcançar o título da Taça Rio, mas a perda de dois pontos nas duas rodadas anteriores contra a Cabofriense, fora de casa, e no clássico diante do Flamengo, ambos sem abertura da contagem, pôs o time das Laranjeiras em igualdade de condições com o Vasco, que perdera três pontos nas quatro primeiras rodadas, mas vencera posteriormente seis partidas seguidas.

O Vasco contava com Acácio, Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho na defesa, o brilho de Geovani no meio, a imprevisibilidade de Vivinho na direita do ataque e a impetuosidade do artilheiro Romário na frente.

Já o Fluminense, do experiente goleiro Paulo Victor, tinha do lado esquerdo da defesa seus maiores nomes no setor, Ricardo Gomes e Eduardo, trouxera Jorginho Putinacci, meia de destaque no Palmeiras por oito anos, mas trazido do Corínthians, após uma temporada na equipe do Parque São Jorge, além de dois remanescentes, na parte ofensiva, do time Tricampeão Carioca e Campeão Brasileiro, entre os anos de 1983 e 1985: Washington e Tato.

O tricolor começa melhor a partida.

Logo aos 3 minutos, Jorginho toca a Edinho na direita. O lateral cruza, João Santos briga com a zaga vascaína e a bola sobra para Jorginho, que dentro da área tenta o toque por cobertura, mas erra o alvo.

Aos 4 Washington é lançado na esquerda. Tal qual um ponta ele dribla Donato e cruza na área. Jorginho chuta forte de esquerda, mas Acácio faz grande defesa. No rebote Mazinho sofre falta e o Vasco escapa de levar o primeiro.

Aos 8 a primeira estocada cruzmaltina. Henrique dá curto para Romário na intermediária. O baixinho encara a marcação de dois adversários e no bate rebate a pelota sobra na frente entre Vica e o insistente Romário, que na tentativa da passagem pelo beque tricolor vê a bola repicar e se apresentar a William. O meia avança e bate de esquerda. Paulo Victor rebate e a sobra fica para Vivinho na direita. O cruzamento sai, mas Eduardo desvia à escanteio.

Aos 10 Jorginho cobra córner da esquerda por baixo e no primeiro pau. Tato desvia para o meio da área e Leomir complementa sem muita força, possibilitando a defesa de Acácio para córner.

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Jornal do Brasil (30/05/1988)

A proposta das duas equipes é clara. O Flu toma a iniciativa do jogo e busca o lado esquerdo de seu ataque para as manobras ofensivas, enquanto o Vasco usa a velocidade de Vivinho nos contragolpes, contando também com a explosão de Romário nas arrancadas.

Aos 26 Fernando parte do meio campo, mais pelo lado esquerdo, cheio de disposição, tabela com Romário e recebe na área para marcar, mas o bandeira marca impedimento no lance, frustrando a comemoração da galera vascaína e do próprio zagueiro, após o juiz já ter dado o gol como válido. A marcação do auxiliar, entretanto, fora correta.

Aos 38 Jorginho toca para João Santos na direita, se desloca, recebe de volta e tenta novamente um passe ao companheiro, já posicionado no meio da área. João Santos divide com a zaga e a bola sobra para Tato. O chute, próximo à marca do pênalti, é desviado por Mazinho de leve e impede a defesa de Acácio. Flu 1 x 0.

Aos 49 minutos o primeiro tempo é encerrado com muito mais catimba que futebol após o gol tricolor.

A partida recomeça com o Vasco mais avançado e o Fluminense optando pela cadência em campo.

Aos 8 minutos, Paulo Roberto cobra falta com violência próximo ao bico direito da área, Paulo Vitor rebate e a bola sobra na esquerda para Mazinho, que tenta o cruzamento, mas é travado por Washington, ganhando apenas o escanteio.

O Vasco é só pressão e aos 15 minutos Paulo Roberto, muito acionado na segunda etapa, cruza para William, que faz o giro de corpo sobre o zagueiro Ricardo Gomes e bate de direita. Paulo Victor estica os braços e faz a defesa, mandando à córner.

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Aos 20 minutos o técnico Sebastião Lazaroni promove uma alteração no time que mudaria a história da decisão. Bismarck, de 18 anos, entraria no lugar de William, apenas 11 meses mais velho e também bom de bola. Parecia uma troca de seis por meia dúzia.

A partida seguia indefinida. Tato, várias vezes lançado nas costas de Paulo Roberto, parava na cobertura ao lateral, enquanto o vascaíno alçava bolas na área, mas sem resultado. O Flu parecia mais cansado, o Vasco mais tenso. E o relógio andava cada vez mais rápido para um e lento para outro.

Aos 31, em mais um avanço de Paulo Roberto pela direita – marcado por Tato – o cruzamento sai à meia altura. Henrique tenta a cabeçada, mas a bola passa por ele, que acaba involuntariamente fazendo um corta luz no lance. A pelota chega ao peito de Romário. O baixinho mata a bola e toca curto a Bismarck. Sem possibilidade de chute o meia devolve ao artilheiro, que bate desequilibrado pela linha de fundo.

Aos 34 um resumo do fôlego das duas equipes em campo. Paulo Roberto avança desde o meio campo, recebe, chega ao fundo sem marcação e centra na área. A bola é cortada pela zaga tricolor e Vica estica a Tato na esquerda. Ele avança e tenta o drible ainda no seu campo. Donato rebate e Paulo Roberto se esforça num carrinho para evitar a saída da bola pela linha lateral.

Aos 35 Bismarck faz jogada individual na direita, é tocado por Jandir e cava a falta. Na cobrança Paulo Roberto levanta na área, Bismarck cabeceia entre os beques, Paulo Victor defende parcialmente e Vivinho surge no rebote para marcar, empatando o jogo.

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A igualdade no marcador levaria à disputa de um jogo extra, três dias depois, mas se Paulo Roberto não se conformava com a derrota, Romário não aceitava o empate. Na primeira retomada de bola do Vasco, após uma blitz do ataque tricolor de quase dois minutos, iniciada a partir da nova saída dada, o baixinho recebeu de Geovani antes da intermediária do campo defensivo cruzmaltino e como se não houvesse marcação à sua frente foi avançando. Passou por Jandir, que tentou agarrá-lo, sem sucesso, dividiu com Vica e a bola sobrou para Vivinho na direita. O ponta avançou e deu de esquerda para o companheiro próximo à entrada da área. O artilheiro furou na primeira tentativa, mas mesmo assim recolheu a pelota e passou com um drible entre Leomir e Tato, tocando em seguida na saída de Paulo Victor. O goleiro fez milagre, esticando as mãos para evitar o tento, mas no rebote Bismarck empurrou para o gol vazio, virando o placar. Vasco 2 x 1.

Dali por diante o Fluminense, atordoado, não teve mais forças para reagir. O Vasco passou a tocar a bola e esperar o fim do jogo, da escrita e da Taça Rio.

O apito final do árbitro seria o início de um novo tabu. O Vasco ficaria sem perder uma decisão direta de taça para o Fluminense por mais de duas décadas.

Quanto aos maiores personagens da partida, Paulo Roberto teria coroado seu esforço com o título carioca menos de um mês depois, Bismarck se tornaria uma realidade para o futebol brasileiro ainda em 1988, Romário teria de esperar 12 anos para fazer um gol contra o Fluminense com a camisa do Vasco, mas marcaria muitos contra o adversário até o fim da carreira. E o tricolor Tato? Ele trocaria de lado na temporada seguinte, sagrando-se no Vasco Campeão Brasileiro pela segunda vez em sua carreira.

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Jornal do Brasil (30/05/1988)

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O Globo (30/05/1988)

Outros jogos do Vasco em 29 de maio:

29/05 – Vasco 6 x 1 Andarahy (Carioca 1927)

29/05 – Uberlândia 3 x 7 Vasco (Amistoso 1949)

29/05 – Deportivo La Coruña-ESP 1 x 6 Vasco (Amistoso 1955)

29/05 – Vasco 4 x 2 São Paulo (Amistoso 1960)

29/05 – Seleção da Nigéria 1 x 2 Vasco (Amistoso 1963)

29/05 – Vasco 1 x 0 Avaí (Brasileiro 1974)

29/05 – Nacional-AM 1 x 3 Vasco (Amistoso 1980)

29/05 – Vasco 3 x 1 Santos (Torneio dos Campeões 1982)

29/05 – Cruzeiro 1 x 2 Vasco (Taça Cidade Juiz de Fora 1987)

29/05 – Itaperuna 0 x 1 Vasco (Carioca 1996)

29/05 – Vasco 3 x 0 América-MG (Brasileiro 2011)

Casaca!

One thought on “Vasco hoje (29/05/1977 & 29/05/1988) – Uma data, dois títulos

  1. pois é e hoje estamos assistindo ao roubo descarado, sem contraposição, apenas do Casaca e de alguns poucos libertos do sistema de desinformação global sobre o timinho dos bilinários irmãos marinho…uma vergonha!!!!!!!

    no basquete no sabado um assalto a mão armada nos segundos finais, no domingo com nosso conhecido DARONCO no apito amigo um gol em impedimento escancarado que nenhum veiculo de midia relatou, pois até agora não apareceu ninguem da midia pra contestar!!!!!!!

    UMA VERGONHA, o ESCARNIO CONTINUA!!!! dos 7 pontos da mulambada, 5 foram na mão grande!!!!!! e ninguem contesta o circo global!!!!!!!

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