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Recordar é viver, o Cocada acabou com você !

 

O dia 22 de junho de 1988 estava fadado a entrar para a história. Antes mesmo da bola rolar, já era possível fazer uma previsão de como seria a partida. Podendo jogar com o regulamento debaixo do braço, o Vasco não iria atacar com o ímpeto que lhe era característico. A responsabilidade de pressionar, atacar e fazer gols era toda do Flamengo. Ou seja, era um jogo daqueles de roer até o último tasquinho de unha. Desde o apito inicial, o que se viu foi o esperado. O Flamengo pressionava de todas as maneiras e o Vasco raramente tentava assustar o adversário nos contra-ataques. O coração dos vascaínos estava a prova. Era Renato Gaúcho chegando com velocidade, bola no travessão, o goleirão Acácio fazendo um milagre, Bebeto levando perigo, chute passando raspando, mais uma defesaça de Acácio, outra bola no travessão… Não dava pra piscar os dois olhos ao mesmo tempo. O Vasco muito recuado deixou o Flamengo crescer, colocando muitas pitadas de pimenta no jogo. Faltando aproximadamente 10 minutos para o final da partida, a torcida do Vasco começou a extravasar o nervosismo. “Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Vasco, seremos campeões”. A pressão não havia acabado, mas o torcedor precisava se libertar daquela prisão de nervos. Foi aí que entrou em cena o libertador. Para conter os avanços do lateral-esquerdo rubro-negro Leonardo, Sebastião Lazaroni optou por colocar o lateral reserva Cocada no lugar do ponta Vivinho. Mesmo tendo feito parte do time do Flamengo campeão brasileiro de 1983, Cocada era mais conhecido por ser irmão de Muller, aquele mesmo atacante são-paulino já citado anteriormente. Ele nem imaginava que sua vida estava prestes a mudar, que ele estava a minutos da história.

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Jornal do Brasil (23/06/1988)

Após a entrada de Cocada, aos 41 minutos do 2º tempo, lances importantes se sucederam com impressionante velocidade. O Flamengo colocava suas últimas forças em campo quando, em um ataque vascaíno, Cocada arrancou com a bola desde antes do meio campo, até alcançar a marcação de Edinho. Com uma ginga de corpo e um drible, o lateral vascaíno puxou a bola para sua perna esquerda e, mesmo com Romário entrando pelo meio da área, resolveu mandar a bomba. Golaço! Golaço histórico! Cocada alucinado tira a camisa e corre em direção ao banco flamenguista, para mostrar ao treinador rubro-negro Carlinhos, que o havia dispensado anos antes do Flamengo, do que ele era capaz. O seu golaço e sua atitude deram início a uma pancadaria digna de filme de Jackie Chan. Chute pra lá, tapa na cara pra cá e, acreditem, voadoras. Torcedores, dirigentes e repórteres invadiram o campo e tudo que se imagina foi falado nos microfones. O volante do Flamengo Andrade dizia que o Vasco não estava acostumado a ganhar títulos, Cocada mandava na lata: “É uma resposta ao Carlinhos!” e Romário chamava Renato Gaúcho de muleque e safado. Quando acabou toda a estupidez dos jogadores, uma atitude coerente: o árbitro mandou pra fora do jogo os flamenguistas Renato Gaúcho e Alcindo e os vascaínos Cocada, Romário e Paulo César ( goleiro reserva ). O jogo reiniciou, mas já nem era necessário. A torcida cruzmaltina aguardava o apito final com o grito de “Bi-campeão! Bi-campeão!”. Fim de jogo. A valorosa geração vascaína coloca mais um título no currículo e Cocada seu nome na história. “Daqui a 20 anos meu nome estará sendo lembrado como o jogador que fez o gol do título.” – disse o herói. Bem Cocada, você se enganou. Vinte anos foi muito pouco tempo pra torcida vascaína esquecer do seu golaço.

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O Globo (23/06/1988)

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O Globo (23/06/1988)

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O Globo (23/06/1988)

Vasco 1 x 0 Flamengo
22 de junho de 1988
Maracanã – Público: 31816 pagantes
Gols: 2º tempo: Cocada ( Vas ) aos 44´
Flamengo: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton (Julio César) e Alcindo; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho.
Vasco: Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Zé do Carmo, Geovani e Henrique; Vivinho (Cocada), Romário e Bismark.

Fonte: Futebola RJ

Outras vitórias do Vasco em 22 de junho:

River 2 x 8 Vasco (Carioca – 2ª Divisão 1919)

Madureira 0 x 1 Vasco (Carioca 1941)

Bahia 0 x 2 Vasco (Amistoso 1948)

Corínthians de Sobradinho-DF 0 x 1 Vasco (Amistoso 1978)

Sergipe 0 x 1 Vasco (Amistoso 1983)

Vasco 2 x 1 Flamengo (Amistoso 1986)

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