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Tudo Friamente Calculado

 

O engenheiro Horácio Nelson Wendel se dedica a encontrar erros e virtudes nas tabelas de campeonatos. Já fez várias sugestões de melhorias para diversos torneios. Foi um dos mentores das primeiras configurações do Brasileirão por pontos corridos, em 2003. Tentou como pôde alertar a turma da Primeira Liga para os equívocos deste ano. Já infernizou a Federação Paranaense de Futebol para ajustar falhas grostescas…

Mas desta vez, o catarinense Wendel ficou espantado. “A tabela do Brasileirão 2017 é toda feita para o Flamengo ser campeão. Um absurdo”, avisa ele. O engenheiro não se conforma com a falta de critérios da CBF para confeccionar a ordem dos jogos. “A tabela da Serie A 2017 tem parcialidade clubística flagrante, tem todos os ingredientes para um desinteresse técnico e comercial da competição”, avisa, indicando 73 erros no total.

Veja os erros achados por ele

1) Na parcialidade clubística, o Flamengo joga cinco vezes seguidas na cidade do Rio de Janeiro nas rodadas 21-22-23-24-25, proteção recorde “Onde estará o Flamengo em transmissão para o Rio em TV aberta durante 32 dias?”, questiona.

2) O Flamengo jogará três vezes seguidas no Rio nas rodadas 7-8-9 e mais três vezes seguidas no Rio nas rodadas 11-12-13. “Dá para acreditar que o Flamengo receberá um embalo de 6 jogos em casa e somente um jogo fora de casa, no início da competição, entre as rodadas 7 e 13?

3) O Flamengo fará 11 jogos em casa e 1 jogo fora de casa, em 2 períodos seguidos, de 12 rodadas. “Não há duvida nenhuma que a tabela foi feita, direcionada para o Flamengo ser campeão”, acusa.

Questões comerciais, claro, atormentam Horácio Nelson Wendel, pois ele oferece suas tabelas para os torneios. Diz inclusive que passou estes dados para Mario Celso Petraglia, do Atlético, e outros cartolas. Neste ponto, Wendel vê aberrações envolvendo o Corinthians, também com alguns benefícios.

1) O Corintians joga 4 vezes seguidas em São Paulo nas rodadas 11-12-13-14

2) No returno, o Corintians joga quatro vezes em São Paulo e uma vez fora de casa contra o Santos, entre as rodadas 21 e 25, o segundo clube mais beneficiado na tabela. “Onde estará o Corintians em transmissão para São Paulo em TV aberta, que não sai do estado de São Paulo durante 34 dias?”, reforça.

Também acha que a CBF desprezou princípios elementares, como critérios técnicos. “Nas 10 primeiras rodadas, os 10 melhores clubes de 2016 jogam contra os seis piores e os quatro vindos da Série B. Nas nove últimas rodadas, os 10 melhores jogam entre si, e os 10 piores jogam entre si”, levanta.

Veja outros apontamentos

  • O Fluminense joga 3 vezes seguidas no Rio de Janeiro nas rodadas 3-4-5
  • O Fluminense joga 3 vezes seguidas no Rio De Janeiro nas rodadas 27-28-29
  • O Atlético joga 3 vezes seguidas em Curitiba nas rodadas 2-3-4
  • O Bahia joga 3 vezes seguidas em Salvador nas rodadas 10-11-12
  • O Vasco joga 3 vezes seguidas no Rio de Janeiro nas rodadas 8-9-10
  • O Vasco joga 3 vezes seguidas no Rio de Janeiro nas rodadas 30-31-32
  • O Botafogo joga 3 vezes seguidas no Rio de Janeiro nas rodadas 12-13-14
  • O Botafogo joga 3 vezes seguidas no Rio de Janeiro nas rodadas 26-27-28
  • O Cruzeiro joga 3 vezes seguidas em Belo Horizonte nas rodadas 10-11-12
  • O Coritiba joga 3 vezes seguidas em Curitiba nas rodadas 21-22-23
  • O Atlético-MG joga 3 vezes seguidas em Belo horizonte nas rodadas 29-30-31
  • O Vitória joga 3 vezes seguidas em Salvador, nas rodadas 29-30-31

Fonte: Gazeta do Povo


As sequencias do Flamengo:

Da 7ª a 13ª rodada , das 7 partidas, 6 são no Rio.

Da 21ª a 25ª rodada , são 5 jogos seguidos no Rio.

Entre a 7ª e a 25ª rodada, de 19 jogos, o Flamengo joga 14 no Rio.

Em nenhuma momento eles jogam mais que 2 vezes seguidas fora de casa.

Isso acontece apenas 4 vezes (rodadas 2 e 3, 5 e 6,  17 e 18, 34 e 35)

O segundo mais beneficiado é o Corinthians, o outro queridinho da mídia, com duas sequências de jogos seguidos em São Paulo: 4  no 1º turno e 5  no 2º turno.

Em apenas três oportunidades a equipe paulista joga duas rodadas seguidas fora de casa ( 2ª e 3ª, 15ª e 16ª e 30ª e 31ª )

Nenhum outro clube teve tabela tão favorável quanto ambos, que com estas sequências jogando em seus respectivos estados, tem a possibilidade de conseguir uma arrancada no campeonato, se distanciando dos seus adversários.

O projeto de espanholização do futebol brasileiro, tão denunciado pelo presidente Eurico Miranda e pelo Casaca! desde a assinatura do pior contrato de TV pelo MUV,  continua a pleno vapor.

Tudo friamente calculado.

Rodrigo Alonso  

Meiões Listrados

    Vascaínos, 

 Muitas coisas mudaram, quer queiram, quer não, na condução administrativa do Vasco desde que Eurico voltou a ocupar a cadeira de presidente  do nosso clube.

Acertou os impostos, colocou os salários em dia, melhorou nítida e claramente as condições de todo o departamento de futebol, desde as categorias de base até os profissionais, criou o Caprees, fez um campo de treino anexo, recuperou as instalações da Pousada do Almirante saqueada na administração anterior, melhorou em muito o Colégio Vasco da Gama, voltou a fornecer refeições dignas aos atletas e funcionários (sem essa de salsicha com arroz), recuperou  o ginásio, voltou a ter um excelente time de basquete, e, agora, parte para a recuperação do parque aquático que é, sem dúvida, um dos orgulhos de qualquer Vascaíno.

Dentre tantos e elogiáveis feitos, pode parecer que não, aos meus olhos Eurico tomou outra grande iniciativa. Mandou retirar do uniforme de jogo aquele horroroso e sem nenhum nexo debrum branco que contornava a nossa tradicional Cruz de Malta. Parabéns, atitude nota 1.000.

 Agora, na minha modesta opinião, só falta para completar esse serviço dos uniformes mandar que se use o velho e tradicional meião listrado em preto e branco, símbolo das mais importantes conquistas do nosso Vasco que nos remete aos anos de 1940/50/60/70,…….. A Umbro haverá de compreender.

 Voltar a ver os times do meu querido Vasco usando os meiões listrados seria, pelo menos para mim, o retorno a gloriosos tempos do nosso clube. 

Fica sugerida a modesta ideia. Quem gostar que a apoie. Quem não gostar,que continue a apoiar sempre essa administração, que é, sem dúvida, a administração da recuperação financeira,política e institucional do meu,do seu,do nosso C.R. Vasco da Gama.

     Saudações Vascaínas.

     Paulo Pereira / Grande Benemérito 

FABULOSO VASCO

 

A recepção entusiasmada no Aeroporto Santos Dumont ao artilheiro Luis Fabiano teve requintes de festa de título: cânticos, bandeirões, povo transbordando praça, rua, saguão, laje, telhado e levando nos ombros não um mero jogador, mas um símbolo, um troféu. Os vascaínos que ali estavam não gritavam sangrando gargantas por um nome, mas sim pela grandeza do clube. Havia ali um silencioso contrato: estamos aqui em comunhão pelo Vasco, caro Fabuloso, e você é convidado de gala para ver de camarote o que representa a gigantesca torcida cruzmaltina. Faça simplesmente o que bem sabe dentro de campo e terá em retorno o mesmo carinho de hoje multiplicado.

Os sites de imprensa tentaram dar conta do que viam, atarantados que estavam com a presença maciça de cruzmaltinos saindo de todos os cantos da cidade. Numa hora jogaram 300 pessoas, aumentaram para 1.000, depois para 2.000, passearam bêbados para 3.000 e muitos presentes dizem que mais de 4.000 vozes foram ouvidas numa quente manhã de verão carioca.

Brados que sufocam quem ainda crê por má-fé ou estupidez que o clube se apequenou, isso ou aquilo. Balelas velhas já conhecidas de outros tempos escritas e reescritas pela imprensa rançosa de pele rubro-negra e ecoadas, infelizmente, por alguns envergonhados que se dizem vascaínos. Um gigante do porte do Club de Regatas Vasco da Gama continuará eternamente como sua essência desde a fundação o definiu: pioneiro, que supera adversidades impostas por elites, campeoníssimo no que desejar ser e verdadeiramente popular sem benesses governamentais para crescer. E sempre a pedra no sapato, o bico na porta da festa, a mosca na sopa do desejo de unanimidade.

Irão dizer os lógicos e racionais de antolhos: “Oras, mas vocês estão comemorando que feito? Por que essa pompa e circunstância para um veterano atacante? Deviam se envergonhar, abaixar a cabeça”.

Eles não sabem o que dizem, ou pior, sabem muito bem do alto das penas cafajestes. Há quase um século é tarefa diuturna dessa turma, seus pais, avôs e bisavôs, propalar a pequenez do clube do subúrbio, que não está no patamar dos grandes do Rio, que não pode jogar campeonato x ou y por contar com jogadores negros e operários, que não pode participar de certames sem possuir estádio próprio, que tudo que vem vestido com faixa diagonal no peito e sangrado de Cruz de Malta é menor, feio e mal gerido. Luis Fabiano representa o feito vascaíno da vez a ser menosprezado. Por isso e por outras razões, o AeroFabuloso de hoje (como a torcida bem apelidou o evento nas redes sociais) significa mais do que aparenta.

Trazer o bom centroavante da Seleção Brasileira da Copa de 2010 e de tantos momentos em grandes clubes não foi negociação das mais fáceis, costurada pacientemente por algumas mãos e olhares que insistiram por semanas a fio na resolução de conflitos burocráticos. Entraves ultrapassados, juntou-se às demais contratações do time para uma temporada que promete bons ventos, mesmo que os rabugentos contumazes de sempre murmurem entre dentes raivosos que não dará certo. O artilheiro com cerca de 400 gols na carreira é de longe o maior de todos goleadores na Série A do Brasileirão e junto à nau comandada pelo almirante Nenê deve seguir sua toada de marcar gols como quem bebe água. Se as chances criadas aos montes pelo time em campo já eram referendadas pelos sites especializados em estatísticas, o arremate final chegou.

O Fabuloso adentra a família cruzmaltina numa semana em que a imprensa bate no tema Vasco x Flamengo à sua moda antiga: propagando belezas táticas e técnicas do lado de lá, entrevistando um centroavante baratinado rubro-negro que crê ser sempre favorito mesmo sem ter vencido sequer um dos clássicos que disputou e apimentando polêmicas onde não há quando fala sobre jogo com torcida única (nessas horas, ler o óbvio regulamento é secundário para os digníssimos). Por sorte e evolução dos tempos, as redes sociais e seus múltiplos ecos acabam com essas fumaças mais rapidamente do que décadas atrás quando uma “verdade impressa” se fosse negada apenas virava uma nota de rodapé de centímetros ou nem isso. E voam belos gracejos e piadas de volta relembrando os nove jogos de freguesia que, por algum tipo de amnésia, foram apagados das edições dos jornalões.

Porém, infelizmente, há uma nova espécie de vascaíno a ser estudada, que vem crescendo sutilmente na última década e meia: aquele que faz da insatisfação seu mote, sua assinatura. Um vascaíno com melancolia botafoguense, arrogância tricolor e desfaçatez flamengueira. Muitos apenas exalam a reles politicagem travestida de fetiche contra suspensórios e charuto, nem sequer escondem como mal embaralham uma instituição centenária com a ira bíblica a um cidadão. Outros por tolice descomunal se empoleiram feito papagaios na facilidade do discurso midiático de sempre por vergonha, paúra ou tibieza do que os outros vão dizer. Para o azar deles, não poderão dizer ao fim de 2017 os lemas apopléticos e apocalípticos “Eu avisei! Eu disse!”. Que o tempo faça o favor de incendiar as línguas ferinas de hoje. 

O que fica para a História é que o Vasco e Luis Fabiano hoje desfilaram triunfais sob olhares assustados e ressentidos dos mesmos de sempre, mas, sobretudo, se irmanaram a milhões de vascaínos que professam a mesma fé nesta comunidade de sentimento Gigante de Norte a Sul do Brasil.

O resto é paisagem.

Curiosidades sobre a nota do grupo político que ficou em terceiro nas últimas eleições

 

Destacamos 3 citações da nota publicada pelo grupo que ficou em terceiro nas últimas eleições, a fim de elucidar questões:

1.“Belaciano representa, na ação, os interesses de Fernando Roscio de Ávila, conhecido como Fernandão, ex-atleta de vôlei, sócio do Vasco e que nas últimas eleições apoiou a chapa Identidade Vasco.”

Belaciano, o advogado de Julio Brant e de seu grupo, advoga também para o senhor Fernandão, bastião do MUV, conforme afirma a nota. O grupo terceiro colocado nas últimas eleições, contudo, tenta se afastar de Fernandão, afirmando que este apenas o apoiou.

Falso.

Fernandão pleiteia uma fortuna junto ao Vasco tomando por base ter sido intermediário entre a Eletrobras e a administração Dinamite para a celebração de um contrato de patrocínio. Ou seja, requer a legalidade da função que efetivamente exerceu: lobista. Foi apoiador daquela administração da primeira à penúltima hora. Sim, penúltima. Porque, assim como outros, quando viu a água invadir o barco, pulou.

Exatamente assim como fez Roberto Monteiro, candidato terceiro colocado nas últimas eleições. Atuou ombreado a Fernandão. Foi braço político importante no primeiro mandato de Dinamite e, no segundo, tornou-se vice-presidente do Conselho Deliberativo. É inegável seu vínculo com Dinamite. É inegável seu vínculo com Fernandão. E por vínculo inegável, provavelmente o terceiro lugar nas últimas eleições, mesmo concorrendo com o fantoche amarelo, se explique.

2. “(…) o Identidade Vasco surgiu em 2011 como oposição a Eurico e ao então presidente Roberto Dinamite e sempre fomos e continuamos sendo, de forma unitária, absolutamente coerentes em relação a isso”.

Estranho que o grupo terceiro colocado nas últimas eleições tenha surgido “em oposição a Eurico” quando Eurico não possuía cargo executivo no clube. Oposição a quem lá não estava?

Estranho que o grupo terceiro colocado nas últimas eleições tenha surgido em 2011 em oposição a Dinamite, sabendo-se que sua liderança apoiava Dinamite, inclusive integrando e vencendo a eleição daquele ano para a mesa diretora do Conselho Deliberativo como chapa de situação.

Portanto, nada pode ser mais incoerente.

3. “Só assim será possível derrotarmos não só a gestão incompetente e ultrapassada da família Miranda, mas também os aventureiros de toda a espécie que enxergam no Vasco apenas boas oportunidades de negócios”.

Roberto Monteiro, candidato terceiro colocado nas últimas eleições, seu grupo, terceiro colocado nas últimas eleições, Fernandão, o lobista do MUV amigado com o grupo terceiro colocado e representado por Belaciano, o advogado de Brant, candidato amarelo, fantoche escolhido por Olavo Monteiro de Carvalho, são farinha do mesmo saco. Apoiaram até a penúltima hora a gestão catastrófica de Dinamite, que subtraiu o Vasco em todas as frentes possíveis e imagináveis.

Portanto, nenhum deles tem condição moral para falar a respeito de quem quer que seja. Se merecem porque não só abusam da mentira, como abusam das tentativas de sabotar o clube. Monteiro, que é Dinamite; Fernandão, que é MUV; e Julio Brant, que é preposto de Olavo, NUNCA MAIS!

CASACA!

Quase quarenta anos depois

Tinha lá uns sete, oito anos de idade. O jogo era contra o Bangu em São Januário, o Vasco venceu por 4 x 1 e me chamou a atenção o Dimas.

Era o meu debut em jogos do Vasco no estádio.

Meu tio, Manuel Teixeira Frias, era daqueles que vivia no Vasco, buscava ajudar no que fosse possível, chegou a chefiar a delegação vascaína em uma partida do Expresso da Vitória no ano de 1949 contra o Mogi-Mirim, no centenário da cidade paulista, e me levava vez por outra para ver os jogos do Vasco em vários campos do Rio de Janeiro. Tivera dois filhos, mas nenhum deles, incrivelmente, torcia pelo Vasco. Um era Flamengo e outro Fluminense. Nunca entendi aquilo. Com isso, o grande companheiro dele nos jogos era eu mesmo.

Meu pai, David, trabalhava muito e ligava bem menos que o irmão. Era Vasco, mas sem tanto entusiasmo. Meu tio, não, vibrava. Uma vez largou a minha tia no hospital, após breve melhora no quadro clínico para ir ver o Vasco jogar. Aquilo causou uma indignação na família forte, mas eu não me metia. Filho único, ficava na expectativa de que meu tio me levasse num outro jogo do Vasco em breve.

A final de 1950, no Maracanã, contra o América eu vi nas cadeiras especiais, um luxo que era raríssimo para quem viu Brasil x México de geral e Brasil x Espanha na Copa do Mundo com grande dificuldade de enxergar algo, diante de um Maracanã abarrotado de gente. O jogo, meu filho falou outro dia, não foi em 1950 e sim em 1951, no mês de janeiro. Não me lembrava disso, mas me recordo de um português, tradicionalíssimo, torcendo para o … América! Fiquei chocado. Todos os portugueses que conhecia, inclusive os da minha família, eram Vasco. E o Vasco ganhou com dois gols do Ademir, o segundo recebendo um passe de Ipojucan.

Mas os tempos próximos ao Vasco estavam por acabar. Desde os seis anos de idade eu, na condição de coroinha da Igreja do Sacramento, pagava a mensalidade do meu colégio, São Bento, ajudando em missas daquela igreja e de outras do centro da cidade (chegava a trabalhar em cinco missas num dia e também nos fins de semana), mas quando o curso primário acabou precisei tomar uma decisão que me permitisse concentrar mais nos estudos.

Em março de 1951, com 11 anos de idade, fui parar no seminário São José, ali no Rio Comprido, que era pago não por mim nem por minha família, mas sim pelas Obras Sacerdotais. Não sabia se queria ser padre, mas tinha certeza de que não queria ver meus pais apenas duas horas por mês no local onde estudava, como ocorreu por anos, com a benesse dada de estar também com eles entre os dias 26 e 31 de dezembro, antes da virada do Ano Novo, ou ainda numa comemoração em família como um casamento, bodas de prata ou bodas de ouro, quando por um dia inteiro poderia estar em casa, da manhã até a noite. Tornei-me um adolescente distante de meu clube, um adulto mais longe ainda, após sair do seminário e ter de ganhar a vida, tendo perdido meu pai pouco mais de cinco anos depois e com a obrigação de sustentar a minha mãe.

Casei-me e tive meu primeiro filho no ano em que o Vasco saiu da fila e voltou a ganhar um Campeonato Carioca. Parecia um sinal. Mas minha relação com o clube ainda era fria. Queria meu filho vascaíno, já minha esposa, flamenguista, pretendia o contrário, mas nunca teve chance, a começar por ele mesmo.

Quando o Vasco foi Campeão Brasileiro em 1974, um ano após o nascimento da Claudia, minha filha, dei uma bandeirinha do Vasco ao Sérgio. Já bebê ele recebera uma flâmula do clube, campeão de 1970. De uma hora para outra, entre 1976, 1977 o garoto se apaixonou de forma avassaladora por futebol e queria ir ver um jogo do Vasco.
Estive para levá-lo num Vasco x Botafogo, num dia em que a família toda, primos, tios foram ao Maracanã, mas ele ficou. Quando chegamos todos e ele soube do resultado (1 x 1), queria saber do primo Marco Aurélio detalhes do jogo, como fora o gol de Dé, parecia que não pararia nunca de falar ou perguntar.

Na semana seguinte o Vasco não jogaria no Maracanã. Era Fla-Flu. Como tínhamos duas cadeiras perpétuas no estádio – compradas por mim no ano do nascimento dele – deixei que o Juvenil, funcionário meu na época, esse que ele cumprimenta no programa das segundas-feiras, o levasse para o estádio.

Fiquei com um certo receio dessa ida dele ao jogo, afinal não era do Vasco. Ele chegou falando da cor das camisas dos goleiros (coloridas num mundo normalmente preto e branco para ele quando aparecia um jogo na TV), mas fui informado que se animara mesmo com cachorro quente, pipoca e matte leão em copo de papelão (só saía espuma naquilo!).

O Vasco entrou num período difícil e foi parar na repescagem do campeonato brasileiro da época, bem diferente desse de hoje, quando partidas contra Goiânias e Mixtos não eram sinal de fácil vitória. Estava em busca de um jogo sem risco, mas todos, naquela fase vivida pelo time, eram arriscados. Como aquele Fla-Flu de meses antes havia terminado empatado queria que a primeira vitória no estádio que ele visse fosse do Vasco.

Na casa de minha mãe, ouvindo o radinho de pilha disse a ele que se o Vasco passasse pelo Mixto em São Januário (jogo que classificaria o time para a fase seguinte, segundo ele me informou em consulta recente), eu o levaria ao Maracanã para ver o Vasco. Dito e feito. Na semana seguinte, um sábado à tarde (também segundo ele), estávamos lá. O adversário era o CRB, de Alagoas (disso eu me lembro) e o Vasco venceu por 1 x 0 com muita pipoca, matte no copinho de papelão e cachorro quente comprados antes do início do jogo, intervalo, saída.

Saímos felizes do estádio e ele animado com o Roberto, que fizera o gol único do jogo. Mas na chegada ao setor das cadeiras o fiz passar por uma prova de fogo. Dessas coisas que não tem explicação.

Ao descer para comprar o primeiro cachorro quente ou matte, encontramos com o Ademir Menezes, artilheiro do Expresso, que fazia comentários em uma rádio da época e estava próximo ao setor da imprensa. Falei: “Ademir! “, virei para o Sérgio e disse: “Esse aqui, meu filho, é o Ademir”, enquanto o Ademir abria um leve sorriso.
Meu filho me olhou meio espantado e aí eu voltei com mais ênfase, porém também com certo cuidado: “O Ademir, meu filho. Aquele do time que o papai fala com você”. Como é mesmo? “Barbosa, Augusto, Wilson…”. E o Sérgio emendou: “Barbosa, Augusto Wilson (parecia um nome só, Augusto Wilson), Eli, Danilo e Jorge, Friaça (não saiu assim mas algo parecido), Maneca, Ipojucan, Ademir e Chico”. O Ademir olhou, deu um novo sorriso e os olhos marejaram um pouco. Disse depois a ele apenas: “Tchau Ademir. Um abraço”. E fui comprar o cachorro quente com o Sérgio, realizado. Com uma sensação de dever cumprido.

Em 1977 foram vários jogos com ele, vimos o Vasco ganhar a Taça Guanabara com uma vitória sobre o Botafogo e comecei a resolver de forma simples um problema que ocorria a cada jogo ocorrido à noite. Ele acordava ansioso para me perguntar se o Vasco havia ganho e sentia tensão até que soubesse do resultado. Adotei então uma tática eficaz. Punha abaixo do quadro que ficava em cima da caminha dele o resultado do jogo e quem havia feito os gols. Junto a isso uma mensagem, sempre de otimismo, fosse qual fosse o resultado. Ele já me encontrava no café da manhã perguntando tudo sobre o jogo e queria porque queria que o levasse a São Januário.

Aí tomei uma das atitudes mais acertadas da minha vida. Comprei um título de sócio patrimonial do Vasco. Na época o Jorge Salgado, irmão do Pedro, companheiro de mercado de capitais, me sugeriu comprar também um camarote no estádio, que dava lugar a quatro pessoas. Não tive dúvidas. E já pus o restante da família como dependentes meus.
O primeiro jogo que vimos foi um Vasco e Remo (segundo ele me diz, porque disso não me lembrava mesmo). Outra vitória do Vasco por 1 x 0, gol de Paulinho (mérito para a memória dele). Passara um ano inteirinho e ele não havia visto o Vasco perder no estádio uma única vez.

A primeira decepção ocorreu depois do carnaval, em 1978. Com um público que eu jamais vi igual em São Januário perdemos para o Londrina, uma espécie de zebra da época, e fomos eliminados do Campeonato Brasileiro do ano anterior (é, do ano anterior). Ele é imenso hoje, mas na época deu pena vê-lo querendo assistir o jogo, com tanta gente na frente. Viu pouco, mas também não perdeu nada.

No mesmo ano, 1977, conheci, num desses jogos, o Sr. Rui Proença, que se sentava no Maracanã duas fileiras à nossa frente e era talvez o vascaíno mais entusiasmado do setor. Ao seu lado o saudoso Ferreira, que também não faltava a um jogo. A amizade foi sendo feita ao longo dos anos, havia uma coincidência de uma loja da Casa Cruz ter existido em frente ao local onde meu pai trabalhava e pela nossa diferença de idade havia uma possibilidade de os dois terem se encontrado por diversas vezes naquela região, perto do Parque Royale, que pegou fogo uma vez e deixou meu pai sem emprego (na época da guerra, se não me engano), para desespero da minha mãe e o consolo dele próprio a ela dizendo que não se abatesse porque havia sido feita a vontade de Deus. Mas isso é outra história. História de velho.

O Sérgio ria muito com as comemorações do Sr. Rui, que fazia coisas que lhe proporcionariam uma bronca se repetisse, como subir na cadeira após um gol, sair subindo e descendo a escada ao lado das cadeiras, abrir o guarda-chuva e rodá-lo (em dias de chuva, claro), entre outras que ele relembra até hoje.

Como sempre votei no Eurico e o Sr. Rui sabia disso, ele passou a me convidar para frequentar algumas reuniões organizadas pelo clube ou por grupos nos quais estava Eurico. O Sérgio se lembra de irmos juntos a várias a partir de 1988, ano no qual fomos bicampeões e ficamos na lateral do gramado esperando o jogo acabar, após o gol do Cocada.

Acostumado a ir aos jogos o Sérgio também se encantava com tais reuniões, afinal eram todos vascaínos e só se falava de Vasco. As pessoas mais velhas contavam passagens marcantes do clube, como o 7 x 0 de 1931, o Expresso da Vitória, a construção de São Januário, e numa daquelas vezes vi o Chico, melhor ponta-esquerda da história do Vasco, sentado numa das mesas. Não tive dúvida. Levei o Sérgio para lá e fui puxando uns assuntos de uns jogos dele do passado. Eu me recordo até hoje de um jogo contra o Corínthians, em que ele fez um gol faltando um minuto, que deu ao Vasco uma importante vitória na época (dia de bodas de prata do meu Tio Manuel com a minha tia Aurora, ocasião na qual demos uma escapulida e fomos juntos ao Maracanã).

Os olhos do Chico brilhavam com meu filho falando o que já tinha lido sobre aquele time (mérito meu de incentivá-lo também, é claro), do Campeonato Sul-Americano de 1948, da Copa de 1950, dos títulos invictos. À certa altura os dois não paravam mais de falar. Lembro até que o Eurico passou por perto e disse apontando para o Chico: ”Esse tem muita história pra contar”. E tinha mesmo. O Sérgio contava detalhes de jogos na conversa com o Chico naquele dia, que eu vi no estádio e nem me lembrava mais.

No dia da eleição de 1991, tive uma surpresa. Meu nome estava na chapa do Conselho Deliberativo. O Sr. Rui Proença havia me indicado e mais uma vez quem mais vibrou foi o Sérgio.

No primeiro mandato dei a sorte de ser Tricampeão Carioca como conselheiro do clube e assim fui seguindo nos outros anos, mas minha maior alegria foi quando surgiu o nome do Sérgio na chapa do Eurico (presidente) em 2000. Ele ficou entusiasmadíssimo. Já havia trabalhado na eleição de 1997, digladiando verbalmente com a turma do MUV durante todo o período pré-eleitoral, que naquele triênio, começou muito antes de 1997 e no dia da eleição fez questão de chegar no clube às oito e meia da manhã para ajudar, segundo disse (na época não morava conosco).

Ele ficou do lado de um senhor que depois descobriu ser o Álvaro, irmão do Eurico, fazendo boca de urna, e criou seu bordão contra a fala da oposição da época que argumentava ser a permanência de Calçada e Eurico um continuísmo inaceitável no Vasco. “Eurico e Calçada, Calçada e Eurico: continuísmo de vitórias”. Com a chapa azul na mão repetia aos que passavam até cansar, ou quem sabe cansá-los. Deve ter mudado o dia inteiro uma meia dúzia de votos, se muito, mas saiu todo feliz, após a apuração e a confirmação da vitória da chapa azul. Meses antes, comigo internado na Beneficência Portuguesa, após uma intervenção cirúrgica que sofri, falava como um suposto douto sobre o perigo que o Vasco corria caso a chapa azul perdesse. Caso Eurico saísse do Vasco.

Um ano antes Eurico me proporcionou uma grande alegria pessoal: o reconhecimento do título sul-americano de 1948. Sempre votei na chapa em que ele estava, desde 1980, vi brigar muito pelo Vasco, ajudar na conquista de títulos, mas jamais imaginaria que conseguiria aquilo. Ao lado do Sérgio, lendo a notícia do reconhecimento me emocionei e ele também. Como diz meu filho: “Se ele não tivesse feito absolutamente nada pelo Vasco, aquilo ali já seria muito”.

Em 2002 fui agraciado com um título de Benemérito. Havia sofrido uma fratura na rótula do joelho, a cirurgia não deu certo e permaneci de molho. No dia da entrega do diploma meu filho me representou. Fiquei extremamente feliz com isso, imaginando a cena.

Vimos muitos títulos, tivemos alegrias, tristezas, mas nada se compara em termos de decepção no clube, fora das quatro linhas, a aquele absurdo que foi a reunião do Conselho Deliberativo, na qual se pôs o despreparado Roberto Dinamite como presidente (imaginem!), presidente do Vasco.

Não pude votar porque ainda não era conselheiro nato, o Sérgio votou no nosso saudoso Amadeu, mas aquilo mais parecia um circo já armado. Vi a desolação do meu filho com a derrota e fiquei pacientemente ouvindo seus vaticínios, infelizmente confirmados com o tempo. De fato, era constrangedor imaginar um clube como o Vasco sendo conduzido por Roberto Dinamite, que foi um grande artilheiro, diga-se de passagem.

Mas dali por diante o Sérgio entrou para o grupo Casaca!, dileto grupo, e quando soube ele já escrevia texto, falava na Rádio Bandeirantes e parecia circunspecto e objetivo na missão de pôr o Eurico de volta no clube. Falava da sujeira que fora feita com ele, com razão, e tinha certeza de que ele voltaria, cedo ou tarde.

Fico com a sensação de que Eurico voltou tarde. Foi muito tempo de Dinamite no Vasco, de MUV, como o Sérgio diz, de muita tristeza com o clube abandonado e ainda uma reeleição do próprio Roberto Dinamite.

Mas, finalmente, em 2014 fomos todos votar no Eurico. O Sérgio botou como sócios a esposa, a tia, prima, irmã (a minha filha Claudia), a mãe (minha mulher) flamenguista, o nosso porteiro, alguns amigos, empolgado com o ressurgimento do nosso bom Eurico no Vasco novamente.

Passaram-se dois anos, o Sérgio permanece irrequieto e com o assunto Vasco permeando nossas conversas, meu neto nasceu e fiz questão de com meu filho irmos ao Maracanã (eu após 13 anos ausente) para vermos a decisão contra o Botafogo este ano. Acabou o jogo, abracei meu filho e gritei: “Meu neto é Bicampeão. Bicampeão invicto”. Eu que vi com 8 e 10 anos o Vasco ser campeão invicto, que fui com o meu filho no estádio de São Januário no dia do título invicto de 1992 contra o Flamengo, desta vez senti algo diferente. Era o primeiro título do meu neto, que meu filho pôs como sócio proprietário do Vasco no mesmo dia ou no dia seguinte que nasceu.

Quase no fim de 2016 me chegam duas notícias de uma só vez: a de que seria agraciado com o título de Grande Benemérito do Vasco era uma e agradeço pela lembrança e pelo carinho para comigo. Mas a Grande notícia mesmo foi a indicação de meu filho para Benemérito do Vasco. Ele que me fez voltar a frequentar estádios, a lembrar de minha infância neles, enquanto o levava aos jogos, que no café da manhã queria detalhes dos mais diversos do jogo disputado pelo Vasco na noite anterior, que viveu comigo tantos momentos felizes, que acreditou no que poucos acreditavam, que escreveu um livro falando de Vasco e de quem considera seu maior emblema vivo (no que concordo), que ouviu, acreditou e pesquisou sobre as histórias que eu lhe contava, para recontá-las a mim com mais detalhes ainda, e que, tenho certeza, pode ajudar mais e muito mais o Vasco.

No livro que escreveu (já está em tempo de acabar com tanta pesquisa e lançar o próximo), uma grande homenagem fez a mim e resume, realmente, o seu sentimento em relação ao clube. Diz mais ou menos assim: “Meu pai não me fez apenas ser Vasco, mas sim me fez ter orgulho de ser Vasco”.

Orgulho é o que sinto. Por meu filho.

Saudações Vascaínas a todos!

Casaca!

Raymundo Frias

OBS: Muitas das histórias meu filho as reavivou para mim. Se quiserem mais detalhes, aí é com ele mesmo.

O pagador (de promessas alheias)

Em tempo de contratações no clube e inúmeras especulações descabidas, o Vasco permanece em busca de atletas que possam reforçar o time para 2017.

Ao mesmo tempo, a direção dá uma enxugada no elenco, deixando claro não contar com jogadores que ficaram aquém do esperado no ano passado, ao longo de grande parte da temporada.

Dentre as especulações há alguns devaneios impossíveis de concretização, os quais a oposição do Vasco em mídias sociais e nos espaços próprios incitam serem os reforços que “valeriam à pena”.

Mas por qual razão fazem isso? São idiotas, vivem no mundo da lua? Longe disso! Eles querem que Eurico Miranda faça exatamente da maneira como fizeram. Contrate, não pague e a conta bata nele próprio, mais à frente.

Quando estiveram no Vasco, na linha de frente ou auxiliar, esses grupos – que hoje se multiplicam em nomes, slogans e tabelas de Excell para no fim todos se juntarem contra Eurico Miranda – fizeram exatamente isso. Gastaram sem lastro, foram fazendo experiências caras até 2011, quando montaram um time competitivo, tendo-o perdido durante a temporada de 2012. Para quem ficou a conta? Para a tia?

E qual era o discursinho lamurioso deles, uma vez no poder. “Temos jogadores de 2000 para pagar”. “O problema nosso é o pagamento aos atletas olímpicos”. Distorciam a situação com gosto, entendendo ser o torcedor do Vasco dado a pastar na grama verdinha que essa turma encomendava para os cruzmaltinos, sem pagar é claro o fornecedor. Isso também ficou por conta do Eurico saldar.

Como é sabido por muitos que acompanham um pouco mais atentamente o clube, as execuções trabalhistas (oriundas da década de 90 até os primeiros anos do século XXI) estavam sendo impedidas pelo fato de o Vasco ter acertado um acordo em 2004 com a Justiça do Trabalho para fazer um pagamento mensal e um mínimo anual, a fim de satisfazer credores.

O clube, em dezembro de 2007, assinou outro acordo, mais benéfico que o anterior e também mais brando no pagamento, se comparado ao exigido nos casos de Fluminense e Botafogo (Ato 837/07).

A gestão subsequente assumiu o clube em julho de 2008 e no dia 14 de agosto ratificou a participação do Vasco no Ato, nas mesmas condições as quais o clube estava submetido, desde dezembro de 2007. Ela, portanto, não faria novidade alguma. Apenas continuaria a executar pagamentos mensais da mesma forma como o clube procedia há cerca de quatro anos. Assumiu o Vasco sabedora disso e prometendo no discurso uma fila de investidores para o clube.

http://www.casaca.com.br/home/2010/08/03/os-irresponsaveis-pelas-penhoras/

Fora isso o Vasco, até junho de 2008, mantinha acordos com pessoas físicas e jurídicas, com parcelas pagas mensalmente, antes da troca de gestão (Antônio Lopes, Hélio Rubens, Edmundo, Romário, Donizete, Simi {Futsal}, Giovane Gávio {Vôlei}, Torben Grael {Iatismo}, Marcelo Ferreira {Iatismo}, Vasco-Barra…), além de outras dívidas constarem em balanço e os credores saberem da disposição do clube em pagá-los.

Mas o que os novos gestores fizeram?

Além de abolir o pagamento de vários compromissos antes firmados, descumpriram o acordo no TRT e foram excluídos do Ato Trabalhista em julho de 2010. E assim permaneceu a situação por meses a fio. Com isso as consequências da irresponsabilidade foram vistas. Vários credores tentando sair da fila e alguns conseguiram executar o clube em função disso.

A gestão MUV/Dinamite/Amarela continuava contratando, como se não houvesse amanhã. Sim, não pagava a parcela do Ato, mas trazia no mesmo mês Jadson Vieira, Douglas, Fellipe Bastos, Felipe, Éder Luís, Zé Roberto, além de renovar com Carlos Alberto por mais três anos.

Pagaram Romário? Não. Pagaram Edmundo? Não. Pagaram os atletas do basquete? Não. Pagaram impostos? Não. Honraram os acordos que já haviam sido estabelecidos antes? Não. Honraram o acordo, que punha o Vasco no Ato Trabalhista, sem poder ser penhorado em função disso? Não. Pagaram a água? Não. Pagaram a maioria dos fornecedores? Não. Pagaram acordos que eles próprios fizeram? Não. Deram calote.

Mas, por outro lado, pagaram fundos de investidores? Sim. Deixaram dezenas de confissões de dívida para a gestão seguinte? Sim.

Por que não deixaram acordos regiamente pagos até a gestão de Eurico Miranda assumir? Porque acordavam com o credor, pagavam uma ou duas parcelas e depois largavam. Este credor ficava satisfeito, porque o valor devido pelo clube aumentava, com multas contratuais, juros, etc…, a gestão “profissional” daquele chamado “novo Vasco” da mesma forma, porque além de deixar de pagar mais uma coisa já havia jogado para o público que firmara acordo com ex-atleta A ou B, e era por isso que não conseguia pagar seus compromissos, como água, salários, corte da grama, aluguel de campos, fornecedores, gasolina do posto, conserto de ônibus e kombis, por isso não podia ter Remo forte, não podia ter Basquete adulto, não podia ter ar condicionados em todas as salas do Colégio Vasco da Gama, por isso fornecia arroz com salsicha para atletas da base em refeições, por isso não conseguia pagar taxas comezinhas, por isso teve que abandonar o patrimônio.

Há um caso, então, que só rindo para não chorar. Além de não terem continuado, logo no primeiro mês de gestão, o pagamento mensal feito a Romário, que já chegava a 48 parcelas (quatro anos), uma vez acionados na Justiça pelo ex-atleta (Romário cobrava todo o valor devido pela quebra contratual a partir de julho de 2008 e não foi até o fim em sua exigência, por interferência direta do atual presidente do Vasco, Eurico Miranda, à época oposição no clube), ainda deram um percentual pela economia, após o acordo feito, àqueles que aconselharam a manutenção do descumprimento do devido ao credor, ao longo dos anos, porque o valor não seria devido, segundo eles próprios, advogados, assim entendiam.

E quanto às pendências na área cível? O Vasco tinha algumas poucas em fase de execução, como por exemplo no caso da Cambuci, briga que durava mais de 10 anos, iniciada após o clube rescindir unilateralmente o contrato com a Penalty, por questionamentos quanto à qualidade dos produtos. Mas este problema, por exemplo, foi resolvido pela gestão MUV/Dinamite/Amarela com novo acordo junto à empresa para que voltasse a fornecer material ao clube. Logo no anúncio, outro capaz de fazer os incautos imaginarem estar o clube vivendo um conto de fadas com Bob Dinamite e os revolucionários do MUV, foi dito que o contrato traria ao Vasco 64 milhões de reais em quatro anos. Isso mesmo. Sessenta e quatro milhões.

Observem também que o discurso dos novos gestores enquanto oposição era muito focado no fato de o clube não ter um patrocínio e por consequência não ter como fazer isso ou aquilo. Pois bem, o Vasco saiu de um patrocínio máster de 3,6 milhões, celebrado pela gestão de Eurico Miranda em fevereiro de 2008, para outro conseguido com ajuda do governador à época Sérgio Cabral Filho, de 14 milhões de reais, em 2009. Mas diferentemente do que fazia até junho de 2008, não conseguiu manter salários em dia, foi em 2009 despejado do Vasco-Barra, atrasou salários, deixou de cumprir acordos, parou de pagar impostos e os acordos anteriormente feitos com a Receita Federal (regiamente pagos pela gestão anterior àquela até junho de 2008, após inclusão do Vasco na Timemania em novembro de 2007).

Mas o negócio era o futebol. Vamos montar times e que se dane o avião porque quando outro assumir o clube ele é quem será o piloto e não eu.

E o Vasco teve um belo time após um gastadouro desenfreado entre 2009 e 2011, usando os créditos de que dispunha, patrocínios, direitos televisivos, vendas de atletas da base, realizando uma série de negócios, satisfazendo através deles fundos criados e devidamente pagos em 2012, após o clube ter no espaço de 12 meses recebido 60 milhões de reais extras da Rede Globo (junho de 2011 e junho de 2012), mais cerca de 12 milhões de reais com negociação de atletas, mas mesmo assim permanecido com salários atrasados, sem água poucos meses depois, sem time no fim da temporada e com várias ações trabalhistas ajuizadas contra ele.

No final de 2014, enquanto a nova gestão pagava 14 milhões para obter as certidões que a gestão caloteira não tinha mais condições de arrumar, o Cruzeiro negociava para pagar por Arrascaeta, craque uruguaio, 12 milhões de reais por seus direitos econômicos.

Entre o final de 2014 e meados de 2015 o Vasco sanou todas as dívidas deixadas pela gestão anterior com relação ao não pagamento de atletas (salários e direitos de imagem) e funcionários. Algo em torno de 12 milhões. Poderia o Vasco ter investido para trazer, por exemplo, Lucas Pratto no início do ano seguinte por 10,9 milhões de reais, com tranquilidade.

No período de 2015 e 2016, enquanto o Vasco pagava por ordem da FIFA cerca de 21 milhões de reais por atletas, os quais a gestão anterior comprou, mas não honrou, o Palmeiras contratou Dudu, do Dínamo de Kiev-RUS, pagando pelos direitos econômicos 18,7 milhões de reais.

Em agosto de 2008 a nova gestão antecipou pela primeira vez cotas de TV em sua gestão, pois o pagamento quase integral das despesas do clube no mês de julho havia sido garantido com a primeira parcela da venda de Phillippe Coutinho para a Internazionale-ITA, absorvida toda pela ainda incipiente turma da Oportunidade de Ouro. O Vasco tinha o direito de antecipar cotas concernentes ao segundo trimestre de 2009 para frente, num contrato que terminaria em 2011 apenas. Na época o clube recebia cerca de 30 milhões ano da TV.

Quando Eurico Miranda chegou ao Vasco, em dezembro de 2014, o clube não tinha o direito de receber nada referente aos anos de 2015 e 2016 da TV, pois tudo já havia sido antecipado ou estava comprometido por dívidas deixadas pela gestão anterior. O valor das cotas de TV dos dois anos girava em torno de 130 milhões. Caso a situação fosse rigorosamente igual a deixada pelo próprio Eurico em 2008, o Vasco teria tido disponíveis ao longo de 2015 e 2016, cerca de 80 milhões de reais. Se todo esse valor fosse absorvido pelo futebol, a folha salarial do clube poderia aumentar em cerca de 3 milhões de reais entre salários e encargos. Quantos atletas de maior quilate poderíamos ter no elenco desde o ano passado?

Do plantel cruzmaltino, Campeão da Copa do Brasil e Vice-Campeão Brasileiro em 2011, por conta do apito inimigo, havia simplesmente nove atletas os quais o Vasco ainda deve e ficou para Eurico pagar a conta. Fernando Prass, Fágner, Dedé, Rômulo, Fellipe Bastos, Felipe, Juninho (muitos salários mínimos), Diego Souza e Éder Luís. Fora isso, comissões a serem pagas a empresários, procuradores, intermediadores de vários atletas também não foram feitas, o que levou o Vasco hoje a ter de ainda se virar para honrar tais compromissos. Só o procurador de Juninho, José Fuentes, cobra mais de 600 mil reais na Justiça por comissionamento referente a contratos celebrados pelo atleta com o Vasco, entre os anos de 2011 e 2013.

É recorrente o torcedor lembrar daquele time e dizer que o Eurico não montou outro igual, desde 2003 (o de 2002 com Helton, Leonardo Moura, Géder, João Carlos, Alex Oliveira; Donizete, Jamir, Léo Lima, Felipe; Euller, Romário era um time melhor que o de 2011 indiscutivelmente em cinco posições e com Felipe nove anos mais novo, embora nada tenha ganho naquela temporada, até o fim do primeiro semestre, quando se desfez).

De fato, enquanto ele, Eurico, equacionava o clube, por opção, entre 2004 e junho de 2008, mantendo o Vasco na disputa por títulos estaduais, nacionais e até mesmo com uma boa participação numa competição internacional – 2004 (Campeão da Taça Rio e finalista do Estadual), 2006 (finalista da Copa do Brasil e melhor do Rio de Janeiro no Campeonato Brasileiro), 2007 (19 rodadas na zona da Libertadores e sexto colocado na Copa Sul-Americana), 2008 (Semifinalista da Copa do Brasil, com derrota nos pênaltis para aquele queria o campeão daquela edição) – mas com sérias limitações orçamentárias, a gestão seguinte o fizera cair em 2008 – após pegá-lo em nono, com salários em dia, 108 rodadas sem frequentar a zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro e já tendo figurado na zona da Libertadores numa delas naquele mesmo ano – e danara a gastar desmedidamente entre 2009 e 2011 para conseguir enfim montar um time competitivo e comprometer o Vasco financeiramente menos de um ano depois disso, já completamente destroçado institucionalmente.

Eurico Miranda não assumiu o Vasco em dezembro de 2014 com queixas, mas sim com muito trabalho. Prometeu reestruturar o clube e está fazendo isso; disse que o Vasco nunca cairia de divisão com ele à frente, mas também afirmaria por certo que jamais o clube seria garfado numa competição em 14 pontos (trata-se, de um recorde, de fato); proporcionou mais dois títulos estaduais para a torcida vascaína (agora são 16 no currículo entre os oficiais, desde Estaduais), que no século, até 2014, havia visto o Vasco ganhar apenas um; obteve um feito que ficará registrado na história do clube em sua gestão (maior sequência de jogos oficiais invictos de todos os tempos); fez ressurgir das cinzas o Basquete adulto; manteve em todos os meses de sua gestão, mesmo numa situação catastrófica encontrada, salários em dia; reforçará o Vasco para a temporada de 2017, investindo mais no futebol, mas também ciente do compromisso institucional firmado por ele, como diretriz de governança.

Aos do contra, especulem, esperneiem, distorçam, mintam.

Aos desinformados, informem-se melhor.

Aos vascaínos de raiz, sabedores da situação encontrada ao final de 2014, tenham certeza que no Vasco trabalha-se todos os dias para reverter o quadro – algo já feito em parte – com o objetivo de ver o clube mais forte, mais independente, mais sólido financeiramente, mais vitorioso e mais vezes campeão.

Casaca!

Papo com o Leitor – Promessas

Claudio escreveu:

Só espero que em 2017 vocês não façam o Vasco passar vergonha como vem acontecendo desde 2008. Esse ano foi triste demais e só vejo Eurico fazendo cagada. O que credencia Euriquinho? Isso é um nepotismo vergonhoso. Falavam do Dinamite e fazem o mesmo. A política no Vasco é uma bosta como em Brasília.

P.s – Como é que se justifica a renovação de contrato dessa velharia?

PAREM DE FAZER VERGONHA PELO AMOR DE DEUS!!!
_____
Claro, prometemos.

Aqui no Flamengo, juramos que não vamos ser saco de pancadas do Vasco.

Eu também não aceitei aqueles 7 meses de invencibilidade do clube. Enquanto nós fazíamos o papelão de perder para o Confiança com 11 contra 10 por 80 minutos. Aquela eliminação diante do Fortaleza, da Série C, com duas derrotas, uma fora de casa e outra na casa do Volta Redonda.

E essa diretoria babaca e irresponsável. Brigou para jogar a Copa Sul-Minas, foi eliminada pelo Atlético-PR, o mesmo time montado pelo Cristóvão Borges e ainda pagou mico no Estadual.

Não vou esquecer aquela derrota para o Volta Redonda na casa que às vezes eles nos emprestam.

E nunca mais esqueceremos (fingiremos, mas não esqueceremos) a vergonhosa atitude de fincar a bandeira em Manaus, deixando nossas crianças pelo caminho para tentar intimidar quem na verdade nos intimida, o Vasco! Que papelão! Fomos obrigados a ouvir do Eurico Miranda, a quem DETESTAMOS, que quem demarca território e não cumpre é cachorro. Ou seja, por culpa da brilhante ideia de algum idiota da direção do clube, restou-nos latir apenas.

Fico eu imaginando o que seria de nós se as arbitragens não roubassem nosso rival em 14 pontos no Campeonato Brasileiro de 2015. Aqui na Gávea nós sabemos perfeitamente que com a metade dos garfos o rebaixado seríamos nós em 2015.

Mesmo com essa proteção absurda que recebemos ano a ano, como ocorreu no Campeonato Brasileiro de 2016 outra vez (enquanto vocês tomaram outro grafo na Copa do Brasil diante do Santos), mesmo com o valor de ganho que acumulamos após a passagem da oposição atual do Vasco no poder, quando o humilhamos com 10 vitórias contra três em 22 jogos, com cinco títulos oficiais contra um apenas do rival, com quatro turnos ganhos contra nenhum deles (9 x 1 no total), ainda não aprendemos que o Vasco com Eurico é outra coisa. Não é um ódio gratuito. Há motivo. E como há.

E no Basquete? Como é possível? O Basquete estava dominado! Vem esse porcaria do Eurico e acaba com nossa festa? Como assim? Agora para ganhar Campeonato Carioca tem que contar com Federação, polícia, impunidade, porque na quadra mesmo, mais derrotas do que vitórias na temporada. Onde nós estamos?

Ficamos preocupados quando o Eurico voltou a assumir o Vasco, mas não imaginávamos que o nosso calvário seria tão doloroso.

O cara conseguiu bater seu próprio recorde de invencibilidade nos jogos nossos contra o Vasco. Diferentemente de você não vimos como cagada do Eurico a primeira vitória do ano no estádio onde quando entramos, percebemos quem é, de fato, superior. Havíamos sido eliminados de duas competições no ano passado pelo Vasco e temíamos (é incrível, mas voltamos a temer o Vasco, após fazê-los de gato e sapato por mais de seis anos) o pior. Nosso enterro em Manaus com o Rodrigo nos sacaneando foi muito, mas muito humilhante.

E por falar em invencibilidade, é claro que a imprensa não se manifestou, é claro que ficamos quietinhos, fingindo não ter acontecido, mas o Vasco este ano bateu o recorde de invencibilidade da nossa história, com 34 jogos. Nós ficamos 33 em 1978/1979 (embora tivéssemos 19 amistosos junto, para dar volume). Isso aí eu achei que vocês jamais conseguiriam superar. Malditos!

Não ganhamos qualquer título nesses dois anos. Os caras ganharam dois estaduais em dois anos. E nós temos o Rodrigo Caetano, cheio de credenciais, dadas por vocês aí do Vasco mesmo.

Tivemos um trabalhão para empatar com eles em campeonatos invictos. Lembro-me da raiva que tive após ter de aturar um Campeonato Carioca, o de 1992, na torcida visitante em São Januário, onde com a perda de um turno e a invencibilidade garantida ao final do outro fui testemunha ocular de duas festas daqueles vascaínos.

E logo depois esse desgraçado do Eurico manda pôr na parte de fora das cabines de rádio “Pentacampeão Carioca Invicto” só para nos humilhar, afinal nós não éramos penta de nada. Mas sabe por que? Esse mesmo desgraçado falou que nós fôramos campeões brasileiros, antes da disputa do quadrangular previsto para 1988 (assinado por ele o cruzamento em nome do Clube dos 13), mas depois que a Justiça Comum deu o título ao Sport passou a defender isso, nos fazendo de otários.

Olha, eu tenho muita bronca desse Eurico. E digo mais. Tenho também desse tal de Cristóvão. No Vasco ele nos eliminou de dois turnos em 2012, mas no Flamengo perdeu duas vezes para eles, ano passado, nas duas partidas que dirigiu o nosso time. Esse cara, dirigindo o Atlético-PR, depois de sair da Gávea, aplicou 3 x 0 em nós. Em 2016, já no Corínthians, nos fez cair de quatro. Detesto também essa figura. Queríamos que vocês trouxessem o Luxemburgo, Ney Franco, Abel Braga, caras que como treinadores fizeram história na Gávea ou lá com o nosso papai, Fluminense.

Fiquei também envergonhado quando após cair de quatro nosso presidente reclamou da arbitragem contra o Corínthians. Mas essa pressão que fazemos todo ano por parte da nossa torcida é o que impulsiona o “roubado é mais gostoso”. Sabe como é, né? Nossa cara de pau é infinita. Nós dizemos que o Eurico isso, que o Eurico aquilo, mas quem arma mesmo somos nós. Desde as papeletas amarelas em 1986.

Se esse câncer para o Flamengo não aparece, nós continuaríamos fingindo que éramos a gestão exemplar. Mas o encosto começou a pagar salários de atletas e funcionários em dia, inclusive os atrasados da outra gestão, a fazer e cumprir acordos, pagar impostos após a turma amarelona passar pelo nosso rival e deixar 400 milhões a mais de dívidas em seis anos e meio quase. Aí não tivemos mais como sustentar o discurso, afinal atrasamos um mês de salário em 2015, um mês em 2016, chegamos a ficar devendo 10 meses de direito de imagem ao Mugni e nosso ex-técnico Dorival Júnior (outra que poderia ter vindo para vocês) cobra 12 milhões na Justiça porque o demitimos irresponsavelmente em 2013. Gostaríamos que esse gordo nos desse uma pequena chance de mostrar como é incompetente para podermos ter como argumentar por aqui, mas não adianta. O cara acabou com o nosso discurso. Valha-me imprensa! Nos resta ela e também a oposição do Vasco para fingir que isso não está acontecendo.

Não posso, entretanto, prometer a você que deixaremos de fazer mais fiascos no campo do adversário. Já temos a nossa vergonha particular de não ter campo próprio para atuar, mas nosso presidente teve ainda que engolir e seguir com o rabinho entre as pernas para o maior estádio particular do Rio de Janeiro no Estadual deste ano. Aliás, para nós, São Januário é estádio apenas para jogos contra pequenos no Campeonato Carioca, embora estejamos sendo menos que pequenos quando enfrentamos o Vasco.

Posso dizer que torci muito contra o Vasco na Série B, já no final. Aqueles últimos 11 jogos, quase dois meses, não apagaram todas as humilhações sofridas por nós ao longo dos anos, mas foram um sopro de esperança para 2017. Foi também um delírio para todo rubro-negro ver a torcida do Vasco, em coro, xingando seu presidente na partida contra o Ceará. Diante dos micos intermináveis que estamos pagando em 2016, inclusive o cheirinho de fedor, fruto dos nossos sonhos cândidos de conquista, aquilo foi um alento.

Mas essa realidade vista no final do ano também não foi boa para nós. Se o Vasco simplesmente se mantém por mais 10 rodadas em primeiro na Série B, que liderou por 28, os problemas de produção vistos em vários atletas seriam obscurecidos pelos resultados. Nós levamos bailes em sequência daquilo que aqui na Gávea ficou conhecido como “velharia predadora de urubus” e vibramos com a queda de rendimento de vários trintões do Vasco ao fim da temporada. Mas e agora? Ficou nítido o problema, diagnosticado, e quem está arriscado a pagar o pato novamente no ano que vem? Pois é. Nós. Outra vez.

Em 2017 contamos com vocês, vascaínos com cheirinho de intolerância ao presidente. Afinal fomos parceiros por mais de seis anos na gestão MUV/Amarela. Parceria que deu muitos frutos a nós, enquanto pintávamos e bordávamos com o Vasco e o ridicularizávamos, porque no enfrentamento vocês eram fichinha.

Resumindo, prometemos não fazer a mesma vergonha de 2016 em 2017. Teremos duas oportunidades para igualar o Vasco no ano que vem. Buscaremos o hexacampeonato invicto no Estadual, título que só o clube de vocês possui e o Bicampeonato Sul-Americano, que aqui no Rio também é privilégio só do Vasco. Mas vencer uma partida ao menos do nosso algoz é prioridade na Gávea. Nós disfarçamos, estamos em silêncio, mas não engolimos essa situação.

Gostaria de poder dizer saudações hexas, mas até na despedida o Eurico nos ferrou. Os hexas são vocês, sem discussão. Contamos com a oposição do Vasco para virar esse jogo a nosso favor.

Vicentino Eterno (mais conhecido como vicezinho)

Sinal Fechado – Encontros E Despedidas

“Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe…
Quanto tempo… pois é…
Quanto tempo…”

O tempo parou, o avião caiu, a garganta fechou. Saindo de casa às 7 pra levar filha na escola como no cotidiano do pão-com-manteiga de sempre, o porteiro chama de sopetão e esbaforido: “caiu… o avião da Chapecoense caiu!”. Vou ver um pouco da tv com ele, recebo as primeiras notícias gravíssimas e fico num misto de perplexidade e tristeza relembrando a fábula da pequena equipe que alça voo rapidamente em busca de títulos impossíveis.

Esposa desce de elevador, seguimos para o carro, rapidez pra chegar ao destino, rádios aos montes (não) dão conta do acidente aéreo. Vou catando os nomes jogados por locutores catatônicos: Caio Júnior, Bruno Rangel, Kempes, Josimar, Thiego, Cleber Santana, Mário Sérgio, Deva, Paulo Julio Clement, Victorino Chermont, vários da imprensa, convidados,… Eis que surge um nome aparentemente vivo no meio da consternação radiofônica: Danilo. Sorrio com a compensação pouca, falo de lado: “baita goleiro, ele que defendeu a bola que os levou pra final”. Penso no meu pai com câncer, operado há poucos dias, criado no Oeste de Santa Catarina. Lembro por alguns segundos num sinal fechado qualquer do trânsito do nosso papo no hospital sobre o timaço do Torino que teve seu drama aéreo na Colina de Superga, em 49. O nome do goleiro deles, Bacigalupo (quando moleque, adorava esse nome das histórias paternas; quando ia pro gol nas peladas, me imaginava o tal italiano do esquadrão). Faço uma ponte entre os dois arqueiros. A mistura clássica inconsciente faz das suas e sigo viagem liquidificando imagens infantis às atuais.

O dia passa com buscas vastas por notícias, papos melancólicos em grupos de Whatsapp, olhadelas no Facebook, indicador subindo e descendo tela do Twitter. O choro é geral e em várias tonalidades. Fala-se do conto de fadas espatifado ao meio, do Davi contra Golias, de como aquele time catarinense era tão simpático aos olhos de todos. Na hora do almoço, as esquinas vão jorrando bocados da tragédia sem lá muita ordenação e temperando as teorias de engenharia sobre como ocorreu a queda. Todos falavam sobre futebol, destroços, pane seca, companhia pequena, Bolívia, Venezuela, a morte ou não de Danilo, da grandeza do Nacional de Medellín em desejar dar o título à Chape. Não havia piada, uma mísera piada. Para um povo tão ligado à zoeira como esporte em quaisquer áreas, era assombrosa a capacidade de lidar com o assunto de um modo novo e cuidadoso. Entre grupos, se pedia para que não se colocassem fotos da tragédia como abutres fizeram tantas outras vezes (em redes diferentes de comunicação): Mamonas, Onze de Setembro, atos terroristas outros e qualquer banalidade diária carioca. Houve um respeito por horas, dias. Nenhum meme deu as caras na era da comunicação cada vez mais onomatopeica e primária em que escrever textos além de três frases é quase um acinte.

“Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe?
Quanto tempo… pois é… (pois é… quanto tempo…)”

Os minutos foram céleres na terça melancólica. Danilo foi dado como morto, os sobreviventes e suas lesões foram sendo nomeados com mais precisão, notícias de homenagens dos quatro cantos do mundo nasciam aos borbotões. Minutos de silêncio, “todos somos chape”, “força chape”, escudos brasileiros todos em luto e identificados como um só: Associação Chapecoense de Futebol, em preto e branco. As redes sociais fizeram a vez da praça pública, do encontro entre abraços chorosos de antigamente. Enquanto isso, na Arena Condá, em Chapecó, território marcado pelos feitos da equipe quase toda extinta no voo para Medellín, os torcedores, simpatizantes e familiares das vítimas iam se unindo para o velho rezar de velas na mão em meio a cânticos.

Bailavam na mente vários significantes como “morte”, “futebol”, “fim” e “lenda”. Em poucas horas, percebi que estava diante de algo gigantesco. Passaram terça, quarta, quinta,… Coberturas com especialistas em acidentes aéreos, comentaristas esportivos lamentando a morte de colegas de profissão, âncoras tentando extrair o máximo de entrevistas, boletins médicos de sobreviventes e mortos, postagens nas aceleradas redes sociais de inúmeras celebridades do mundo do futebol, um palavrório sem fim para dar conta do indizível do corte abrupto do sonho. A metáfora mais repetida era de que “iriam conquistar a América e acabaram por conquistar o Mundo”.
Talvez o momento mais generoso e simbólico dessa suspensão do tempo que vivemos foi a incrível celebração confeccionada com um capricho e um cuidado admiráveis pela cidade de Medellín no Estádio Atanasio Girardot que seria palco do primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana entre o time da casa, Atletico Nacional de Medellín e a briosa Chapecoense, na quarta-feira. Todos que pagaram por um ingresso para aquilo que seria mais uma partida de futebol acabaram assistindo a uma cerimônia fúnebre de poesia única por unir povos, culturas e dores. Velas e flores entrelaçadas às mãos, camisas brancas, bandeiras verdes tanto do time local quanto do catarinense pintavam o quadro da noite de comunhão de uma humanidade perdida há tempos num baú qualquer empoeirado da civilização.

Foi uma semana inteira daquela angustiazinha dolorida a tomar o ofício diário e as tarefas mais comezinhas. Só pensava no voo da famigerada Lamia, no antes, no durante, no depois que não é mais depois. No tempo que parou. Conversei com toda sorte de gente para compartilhar figurinhas: “troca aqui minha ansiedade carimbada por uma náusea repetida?”. Todos, sem exceção, falavam da Chapecoense.

Todos, sem exceção, de repente, sabiam quem era Alan Ruschel, Jackson Follmann e Neto, sobreviventes da tragédia, o goleiro Danilo e sua defesa milagrosa na semifinal que virou poema e destino, a paternidade recente do Thiaguinho, dos que não voaram por problemas banais e choravam agora nas tvs. Todos eram torcedores do Verdão do Oeste Catarinense, já sabiam de cor sobre a mística da Arena Condá e o pequeno mascote Indiozinho.

No sábado pela manhã, chuva torrencial em Chapecó a receber dezenas de caixões vindos da Colômbia. O momento nevrálgico da devastação iniciava: o velório com os corpos de cinquenta pessoas no campo da Arena Condá lotada. Tvs, rádios, sites mostravam cada quilômetro percorrido pelas carretas e os esquifes. Narrações, comentários e ofício profissional do jornalismo à beira das lágrimas frente ao microfone de trabalho. Não foram poucos os exemplos de repórteres que embargaram a voz, gaguejaram, choraram, se humanizaram. Estávamos diante de algo inédito: um episódio que chocava até os mais veteranos no papel de contar uma história, qualquer que fosse. Antes do sábado, a cena mais emblemática da cobertura da mídia e do caso em si foi o abraço maternal de Dona Ilaíde, mãe do goleiro Danilo, no repórter da SporTv, Guido Nunes. Num amparo que destruía qualquer lógica, a mãe sem filho consolava um representante da imprensa por seus vinte mortos. Rodou o mundo o abraço generoso, símbolo de uma semana única, triste, plena de ruínas, mas demasiadamente humana.
Entravam no estádio, então, os mortos de Chapecó e do mundo. Não eram só os heróis da Chape. Eram mais, muito mais. Cinquenta idas e vindas de oficiais carregando féretros às famílias e o mundo assistindo boquiaberto uma sucessão de angústias, berros, aflições, choros desbragados, cânticos entoados pelas arquibancadas, discursos aos microfones, quadros com fotos de jogadores levantados como troféus a dar volta olímpica e um sentimento inenarrável de empatia, compaixão. Conquistaram a América e o mundo. Por uma semana, nos compadecemos, nos entregamos a tentar entender o outro, o mínimo que fosse.

“Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal …
Eu procuro você
Vai abrir…
Por favor, não esqueça,
Adeus…”

Passou o sábado, a noite escureceu sobre os caixões que restaram ali na Arena Condá. Alguns já tinham voado para serem velados e passar por rituais fúnebres em suas cidades. Passou domingo, segunda e uma semana inteira desde o choque. Todos sepultados, chorados, arranhados, tocados com mãos crispadas a desejar que não fossem para sempre. Enquanto isso, aqui e ali, jornais impressos, mesas-redondas já entoavam a mesma ladainha num misto de tristeza com faxina de serpentinas de fim de carnaval. O “Vida que segue” de João Saldanha virou vírgula pro bem e pro mal. Para se falar de vida, morte, na crença religiosa de cada um ou para desabotoar as falas guardadas por dias sobre Brasileirão, rebaixamento, quem vai para a Libertadores, novos técnicos, como fica 2017 e os ingredientes batidos de sempre. Os encontros com a humanidade, essa vizinha desaparecida, foram escoando pelo ralo pouco a pouco. Enquanto escrevo essas letras, começa um Grêmio x Atlético-MG valendo a Copa do Brasil de 2016. Dizem que o show deve continuar, mas as despedidas solenes, lindas, inesquecíveis da semana que passou não mereciam ser tão fugazes.

Escutando “Sinal Fechado” e seu desconforto desde os primeiros acordes, silêncios cirúrgicos, seu encontro à beira do desencontro, achei a trilha sonora pra angústia que sobrou dos destroços. Enquanto muitos parecem seguir a vida e deixar as vestes do luto ao chão, pois é preciso “seguir a vida”, penso na tensão da música, no desencontro inevitável, nessa relação contemporânea cada vez mais ensimesmada e que de vez em quando tem seus soluços, seus sinais fechados, para abraçar, velar, escrever obituários e chorar. Lágrimas com prazo de validade. Afinal, já se passaram oito dias e as buzinas já estão bufando ali atrás. Não há “timing” para se escrever sobre isso. Porém, a pena aqui se deita no papel de teimosa, o tempo dela nada tem de cronológico. Sou um atrasado crônico, meu tempo é outro.

Diante de tantos aprendizados na última semana, desse eterno vai-e-vem e a plataforma da Estação como metáfora da vida, como na genial música do Milton, só nos cabe ter tempo de calar, chorar, vivenciar as perdas, acalentar feridas abertas, abraçar quem (se) perdeu, sorrir pela generosidade de tantos. Sabermos de que há sim, por mais que o mundo contradiga diariamente, um tempo de espera, de suspiro, de bálsamo, da escuta curiosa e detalhada, do cuidar do outro. Há o outro.

Não tampemos como máquinas ditadas por um relógio tirânico a tampa dos caixões, não devolvamos aos lenços as lágrimas choradas por viúvas, não pensemos em campeonatos, escalações, em rebaixamentos, em tapetões e vilezas. Isso haverá, é da humanidade seguir ao tropeções. Uns seguem sem parar um segundo para olhar para trás, outros demoram um bocadinho mais à beira do jazigo confortando-se com uma prece ou uma conversa amena.

Contudo, que tudo que se fizer por dias, meses, anos a fio sejam crivados por saudade e solidariedade no mundo do futebol e fora dele. Que o luto e a memória do que ocorreu nos últimos oito dias não sejam enterrados na cova rasa dos indigentes.

“Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai
Pra nunca mais… A hora do encontro
(…)
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida…”

Rafael Fabro

Pré-Conceito

Inicialmente solicito ao novo treinador do Vasco, Cristóvão Borges, que ignore os urubus de plantão.

A repulsa a seu nome como novo técnico cruzmaltino por parte de muitos torcedores é ato dos mais ilógicos, não tem respaldo em resultados obtidos por ele no próprio clube, enquanto manifestações de alguns “ditos” entendidos na mídia a seu respeito beiram a intolerância.

Cristóvão é técnico de futebol profissional há apenas cinco anos, dirigiu tão somente equipes de primeira divisão (Vasco, Bahia, Fluminense, Flamengo, Atlético-PR, Corínthians) e suas passagens por elas, principalmente no decorrer de Campeonatos Brasileiros, não deixam dúvida de que incompetente não é.

No Vasco só não conquistou o Campeonato Brasileiro de 2011 em função da arbitragem, porque se no turno a equipe comandada por Ricardo Gomes teve um equilíbrio entre ganhos e perdas de pontos oriundas dela, no returno foi indecente o feito contra o time de São Januário. Um benefício, curiosamente diante do Corínthians, e vários prejuízos, contra Figueirense, Internacional-RS, São Paulo, Santos, Palmeiras e Flamengo, fora outros em jogos nos quais o Vasco venceu.

Era na ocasião um treinador inexperiente e diante disso alguns erros claros cometeu, mas também teve méritos em partidas nas quais o Vasco engoliu seus adversários. Justiça seja feita também ao presidente Eurico Miranda, que na época defendeu por diversas vezes o treinador no programa Casaca! no Rádio, citando inclusive como mérito de Cristóvão a vitória sobre o Fluminense na penúltima rodada do Brasileiro, pela participação de Alecsandro no gol assinalado por Bernardo, como fruto de orientação técnica/treinamento para tal jogada ter saído.

Era evidente que a concentração e união da equipe cruzmaltina, sentindo-se motivada a dar o título a Ricardo Gomes após seu grave problema de saúde, ajudou muito a que o trabalho fosse feito por todos sem grandes problemas, mas no ano seguinte, diante de um quadro extremamente difícil, o treinador conseguiu durante cerca de oito meses manter o Vasco num patamar digno de sua grandeza.

Na Taça Guanabara daquele ano, o Gigante da Colina venceu todas as partidas, até perder na decisão para o Fluminense, que viria a ser o Campeão Carioca e Brasileiro da temporada. No returno (Taça Rio) nova derrota na final, desta vez para o Botafogo, atuando fora de casa e com participação da gandula alvinegra no primeiro gol da partida. Duas das três vitórias vascaínas contra o Flamengo em 22 jogos do período do MUV no clube foram obtidas naquele ano, ambas em jogos de mata-mata.

Em 2012 O atleta Bernardo foi comprado e logo após entrou na Justiça do Trabalho contra o clube, os atletas se rebelaram e aboliram a ideia de se concentrar na véspera da estreia na Taça Libertadores da América, em nenhum momento naquela temporada os salários foram pagos em dia (motivo pelo qual não houve concentração do plantel na ocasião citada acima), e chegou a faltar água em São Januário no mês de setembro daquele ano, oito dias após o treinador ter pedido demissão.

Depois de o Vasco chegar à semifinal da Copa Sul-Americana em 2011, o clube parou no Corínthians, nas quartas-de-final da Taça Libertadores do ano seguinte em confronto dos mais equilibrados. O adversário, por sinal, conquistaria não só aquela competição, como o Mundial Interclubes no fim da temporada.

O começo da equipe vascaína no Campeonato Brasileiro de 2012 foi exemplar e as negociações sequenciais de Allan, após a terceira rodada, Rômulo, após a sétima, Fágner e Diego Souza, após a décima primeira, mais a insatisfação geral do grupo, que parou de acreditar nas lorotas ditas pela direção do clube a Juninho e reverberadas por este na imprensa e para companheiros sobre acertos salariais, principalmente após a saída de quatro dos principais atletas do elenco, levaram o time a uma queda nítida de produção.

Cristóvão assumiu a direção técnica do elenco em quarto lugar na tabela de classificação, um ponto à frente do quinto, após a virada do turno em 2011, e deixou o Vasco também em quarto, dois pontos à frente do quinto, após quatro rodadas disputadas no returno de 2012, tendo sido líder o próprio Vasco em 8 rodadas no somatório das duas edições. Na sequência do Campeonato Brasileiro de 2012, Marcelo Oliveira, técnico Bicampeão Brasileiro pelo Cruzeiro em 2013/14, suportou apenas 11 jogos no comando, enquanto o interino Gaúcho dirigiu o clube por mais quatro partidas no fim do certame, terminando o Vasco na quinta colocação, a 8 pontos do quarto colocado, São Paulo.

Tudo o aqui narrado deveria ser suficiente para uma saudação otimista em seu retorno à casa de origem como treinador, afinal não é fácil dirigir um clube no campo, com tantos problemas fora dele e acúmulos de insatisfação coletiva no plantel.

Cristóvão treinou o Bahia no ano seguinte, terminando o Campeonato Brasileiro na décima segunda colocação. O tricolor baiano não mantinha um mesmo técnico durante toda a competição desde 2001 e o novo treinador teve de lidar com uma briga política interna pelo poder das mais renhidas, com direito a uma intervenção na presidência do clube baiano. Com ele, pela primeira vez a equipe de Salvador ficou uma rodada no G4 na era dos pontos corridos e apesar de inúmeros problemas vividos conseguiu o comandante impedir o rebaixamento do clube à segunda divisão, obtendo 43,7% dos pontos possíveis na competição. A garantia da permanência na Série A se deu matematicamente na penúltima rodada, após vitória sobre o Cruzeiro, já campeão, num Mineirão quase lotado (pouco menos de 50 mil pagantes), no jogo da entrega da taça, por 2 x 1.

Em 2014 assumiu o Fluminense semanas antes do início do Campeonato Brasileiro e terminou o principal certame nacional com o time em sexto lugar e a renovação do contrato garantida para o ano seguinte, durando seu vínculo com o tricolor até março, quando foi demitido após campanha irregular no Estadual.

Em 2015 pegou o Flamengo na quarta rodada da competição, após a equipe ter somado até ali apenas um ponto em três partidas. Sua performance não agradou, com 8 vitórias, 1 empate e 9 derrotas entre Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil (competição na qual obteve uma vitória e uma derrota). Seu substituto, entretanto, o elogiadíssimo Oswaldo de Oliveira, teve rendimento parecido. Somou 8 vitórias, 3 empates e 9 derrotas (na Copa do Brasil apenas um empate).

Nas últimas nove rodadas do Brasileirão 2015 dirigiu o Atlético-PR e colheu 3 vitórias, 4 empates e 2 derrotas, derrotando, inclusive, o Flamengo de Oswaldo de Oliveira por 3 x 0, motivando a que a equipe paranaense o mantivesse para o início da temporada de 2016 pela performance alcançada. Mesmo com média de aproveitamento superior a 50% dos pontos conquistados, em 20 jogos disputados, foi demitido do Furacão em março, após quatro partidas sem vitória.

Finalmente em junho deste ano coube a ele a duríssima missão de substituir o técnico da Seleção Brasileira Tite, que já havia fracassado em seu trabalho no Corínthians tanto na Taça Libertadores, como no Campeonato Estadual. Cristóvão assumiu o plantel na décima rodada do certame (em quarto lugar), mas não ficou três meses no comando da equipe paulista (7 vitórias, 4 empates e 6 derrotas, mais um empate em 1 x 1 contra o Fluminense, fora de casa, pelo jogo de ida das oitavas-de-final da Copa do Brasil) e a deixou em quinto na tabela. Hoje o time do Parque São Jorge está em sétimo.

Contabilizando apenas jogos em Campeonatos Brasileiros, dirigindo os seis clubes nos quais esteve, são no total 66 vitórias, 43 empates e 51 derrotas, ou seja, 50,2% dos pontos disputados. Considerando o aproveitamento dos clubes no Campeonato Brasileiro de 2016 na primeira divisão, o sétimo colocado na competição possui 49,5% de aproveitamento, enquanto o quinto e sexto colocados obtiveram até aqui 50,5% dos pontos disputados.

O clima criado contra Cristóvão Borges fora do clube, fomentado por politiqueiros de plantão, é na verdade o único problema do treinador. Nada tem a ver com sua competência ou seus resultados, mas sim com o pessimismo disfarçado de uns e crônico de outros. Muita análise psicanalítica a todos e a certeza de que uma frase ouvida por mim e rapidamente absorvida este ano, tem tudo a ver com o comportamento de diversos em vários momentos: “É muito mais fácil empurrar para baixo do que puxar para cima”. E podem ter certeza, isso não tem nada a ver com rebaixamento ou subida de divisão.

Boa sorte, Cristóvão. Que venha o primeiro título de muitos no Vasco. Que você possa fazer um belo papel no nosso clube e tenha tranquilidade interior para exercê-lo. De nossa parte fica uma mensagem de apoio e confiança no seu trabalho.

Sérgio Frias

Jogando contra

Nada justifica as matérias em sequência veiculadas pelos sites O Globo.com e Extra no assunto Copa do Brasil anteontem.

A primeira estatística que serviu como enredo para uma publicação diz respeito à dificuldade de o Vasco reverter placares desfavoráveis nos jogos de volta da Copa do Brasil.

Em 16 oportunidades nas quais perdemos o jogo de ida, obtivemos a classificação no jogo de volta quatro vezes, diante de Santa Cruz (1994), Atlético-MG (1995), CSA (2002) e Bahia (2003).

Noutras três vezes devolvemos o placar do jogo de ida, mas perdemos a vaga nos pênaltis ou no chamado “gol qualificado”, marcado fora de casa contra nós, fato ocorrido contra Sport (2008), Vitória-BA (2010) e Goiás (2013).

O poder de reação do Vasco, mesmo insuficiente para a obtenção de classificação, também se fez presente em 1997 e 1999, ocasiões nas quais após perder o primeiro jogo por diferença de 2 gols o clube obteve na partida de volta uma vitória por um gol de vantagem.

Em cinco oportunidades o Vasco, após perder a primeira partida, empatou a segunda, fatos ocorridos contra o Cruzeiro (1993, 1996, 1998, 2003) e São Paulo no ano passado. Apenas duas vezes a equipe perdeu os dois confrontos, em toda a história, contra o Corínthians em 1995 e o Flamengo em 2006.

Ressalte-se que nas tais disputas (e isso daria uma boa matéria) o Vasco foi prejudicado em lances capitais por cinco vezes e foi beneficiado numa ocasião apenas.

Se em 1994 o Santa Cruz teve um gol mal anulado em São Januário e o Vasco outro, o que não alteraria em nada a classificação cruzmaltina, por quatro vezes a vaga, a possibilidade de levar a disputa para os pênaltis, ou mesmo o impedimento de duas derrotas nos dois embates teve na arbitragem um fator de desequilíbrio.

No ano de 2003 um pênalti claro sobre Edmundo aos 24 minutos do 2º tempo foi ignorado pela arbitragem, quando o placar de 1 x 1 (que seria o resultado final) permanecia. No jogo de ida a equipe mineira havia vencido por 2 x 1.

Em 2006, na segunda partida da decisão, aos 41 minutos do 1º tempo Wagner Diniz sofreu pênalti não assinalado, quando o Vasco perdia para o Flamengo por 1 x 0, o que seria o placar final da partida. No jogo de ida o rubro-negro vencera por 2 x 0.

Em 2008 um gol mal anulado, marcado por Leandro Amaral diante do Sport, quando o confronto estava empatado em 0 x 0, seria decisivo para a classificação do Vasco, visto que a equipe faria ainda 2 x 0 no marcador mais adiante e com o placar de 3 x 0 chegaria à final da competição.

Finalmente em 2013, após derrota para o Goiás por 2 x 1 no jogo de ida, o Vasco vencia pelo mesmo marcador no embate da volta, ainda na primeira etapa, e um gol de Luan foi mal anulado na ocasião. No segundo tempo cada equipe faria mais um gol e o Vasco se veria eliminado da competição por ter levado em casa dois gols e feito fora apenas um. Caso a vitória se desse por 4 x 2, considerando a validação do gol legal marcado por Luan, a vaga seria vascaína.

Um outro dado garimpado, desta vez pelo site oglobo.com, diz respeito ao número de vezes em que o Vasco venceu por dois gols de diferença seus adversários neste ano, o mínimo necessário para obter a vaga às quartas-de-final hoje contra o Santos (dependendo é claro do número de gols que tome do oponente).

Para levar o vascaíno a imaginar ser a diferença de dois gols algo difícil de se acreditar como possível pegou-se como referência a Série B e ignorou-se por exemplo, o Estadual.

Em primeiro lugar, ganhar de 2 x 0 e ter que ganhar de 2 x 0 são coisas distintas. Se basta muitas vezes ao clube ganhar, pouca diferença faz o saldo de gols da partida.

O Vasco este ano venceu 32 das 51 partidas que disputou. Para começar marcou ao menos um gol em 49 delas.

Fora isso, o clube venceu por dois gols ou mais de diferença 11 das 32 partidas nas quais conquistou vitórias. Uma a cada três, arredondando.

E vale destacar que nas partidas nas quais venceu o adversário por um gol de diferença (21 vezes), construiu a vantagem mínima por cinco vezes na primeira etapa. Ou seja, em metade das 32 partidas vencidas pelo Vasco no ano ou o clube obteve a vantagem de dois ou mais gols de diferença ou já teve metade do caminho percorrido antes do intervalo. Convenhamos que se a matéria do oglobo.com fosse mais rica em detalhes a motivação dada ao torcedor vascaíno seria lógica.

Finalmente a infelicidade completa se deu numa matéria veiculada segunda-feira à tarde, num dos sítios eletrônicos ligados às Organizações Globo que tinha como título a seguinte frase: “Bilheterias vazias” e uma foto referendando a manchete.

Mas a torcida vascaína, desfazendo de tudo isso e do comentário absolutamente infeliz do ex-atleta Edmundo no canal Fox Sports sobre o comportamento da massa cruzmaltina (não nos interessa as outras torcidas) em momentos ruins do time e nos momentos bons, encherá São Januário hoje para torcer pelo Bicampeão Carioca Invicto, pelo time que permaneceu sete meses invicto, entre 2015/ 2016, pela equipe do craque Nenê, do craque Andrezinho, da melhor zaga do Rio de Janeiro, da revelação Douglas Luiz, do veloz Madson, do imprevisível, Yago Pikachu, do seguro Martin Silva, do experiente Julio Cesar, que poderá eventualmente ser substituído pela promessa Allan Cardoso, do eficiente Éderson, de volantes e atacantes outros instáveis, mas que podem crescer na hora certa, como todos nós torcemos.

Por outro lado, torcemos também para que o Vasco hoje não experimente qualquer prejuízo de arbitragem capaz de retirá-lo da Copa do Brasil, pois na competição até aqui dois erros capitais foram cometidos contra o clube, em fases anteriores, mas diferentemente do Campeonato Brasileiro, quando para fazer o clube cair foram necessários 14 pontos de tunga (até nos garfando em 11 não cairíamos), na Copa do Brasil um único erro capital pode pôr tudo a perder e nós torcedores estaremos no estádio cobrando de quem é neutro, neutralidade, afinal a arbitragem é regiamente paga exatamente para demonstrar isso em campo, cumprindo as regras do jogo. Nada mais.

Em oposição à maré midiática novamente jogamos contra. Contra o pessimismo e um quase “já perdeu”, exposto de forma quase desavergonhada em textos nos quais o fomento ao desânimo dos vascaínos mostra-se evidente e incoerente, levando-se em conta matérias entusiasmadas a favor de quem este ano foi eliminado da mesma competição pelo Fortaleza, no Estadual pelo seu carrasco Vasco (por 2 x 0), e mesmo com cinco pontos a mais na balança por conta de arbitragens jamais liderou o Campeonato Brasileiro, que tem cheiro verde.

Sérgio Frias