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Vasco hoje (03/06/1945) – A virada que não veio

 

Em 21 de julho de 1940 o Botafogo obteve uma das mais sensacionais vitórias de sua história.

Dentro de São Januário, perdia o alvinegro por 3 x 0 com apenas 12 minutos de jogo e conseguiu uma virada quase inacreditável por 4 x 3. A partida memorável do alvinegro faria seus torcedores sonharem com um desfecho igual em dado momento daquele clássico disputado quase cinco anos depois.

O Vasco mantinha, após cinco das nove rodadas previstas no Torneio Municipal, 100% de aproveitamento. Já havia goleado Flamengo, São Cristovão e Bonsucesso, por 5 x 1, 6 x 1 e 6 x 0 respectivamente, batido o Bangu por 3 x 0 e derrotado o Canto do Rio por “apenas” 2 x 1.

O Botafogo, por sua vez, perdera três pontos no certame, mas vinha de um retumbante 8 x 1, em cima do Bangu. À frente do alvinegro estava o Fluminense, ainda invicto, e com dois pontos perdidos até ali.

O estádio das Laranjeiras recebeu numeroso público para prestigiar o duelo e uma briga nas “gerais” durante a partida era um símbolo do clima de vibração e tensão proporcionado pelo espetáculo dado pelas duas equipes.

Otávio e Heleno de Freitas eram as grandes preocupações do treinador Ondino Vieira, que tinha em Rafanelli e Sampaio os encarregados por pará-los. Mais recuados, Ademir e Jair seriam os responsáveis por construir as manobras ofensivas cruzmaltinas e também por concluí-las em várias oportunidades.

No setor defensivo cruzmaltino, Rubens, teoricamente escalado com half direito, atuaria como beque, enquanto Sampaio se posicionaria quase como um centro médio, para conter os avanços de Heleno. Enquanto isso Berascochea seria o responsável por cobrir o lado direito da defesa na tentativa de barrar as ações pelo setor esquerdo de ataque alvinegro protagonizadas pelo infatigável Tim.

Aos 19 minutos Ademir passou por três adversários, escapou de faltas tentadas pelos driblados no lance e na frente de Oswaldo  teve calma para colocar a pelota no arco botafoguense. Vasco 1 x 0.

Aos 28 Jair recebeu passe de Ademir e mesmo cercado por três marcadores conseguiu girar o corpo e de canhota chutar no único buraco possível entre o emaranhado de pernas dos defensores alvinegros e a meta defendida por Oswaldo Baliza, que nada pôde fazer para evitar o segundo gol vascaíno.

Aos 34 Chico passou a Jair, que chutou em direção à meta. Oswaldo rebateu como último recurso e Ademir, livre, completou para as redes.

O Botafogo ainda assim mostrava-se valente no gramado e não fosse duas belas intervenções de Barqueta, em conclusões de Heleno de Freitas e Renê, teria descontado pouco depois.

Aos 37, após falta de Jair em Lula na altura da linha média, cobrada por Ivan, Barqueta foi surpreendido com a confusão estabelecida dentro da área e a bola entrou direto em sua meta. Reduzia a diferença o Botafogo e pouco depois terminaria a etapa inicial. Para o jornal “Gazeta de Notícias” houvera a chamada “cama de gato” no arqueiro vascaíno na jogada do gol, mas nenhum outro diário se manifestou a respeito.

No segundo tempo, a queda de rendimento do médio Berascochea obrigou Argemiro a também recuar e o próprio Ademir andou tendo de auxiliar a retaguarda. O Botafogo acabou empurrando o Vasco para seu campo de defesa e com isso foi chegando cada vez mais perto do arco defendido por Barqueta.

Aos 4 minutos Octavio driblou três adversários e quando estava pronto para concluir foi derrubado por Rafanelli. O juiz mandou o jogo continuar, mas logo no lance seguinte, em cobrança de escanteio executada por Renê, o árbitro considerou um tranco normal de Rafanelli em Heleno como pênalti, errando novamente. Otávio bateu e diminuiu para o time de General Severiano.

Os atletas cruzmaltinos se mostraram um tanto descontrolados após a marcação do pênalti inexistente a favor do adversário e o empate já parecia iminente.

Quando eram decorridos 23 minutos, um empolgante “rush” de Heleno, após receber de Spinelli na meia direita, igualou tudo. O tiro do craque botafoguense, próximo à entrada da área, venceu Barqueta.

Muitos alvinegros devem ter se lembrado após o tento de empate na virada histórica de cinco anos antes, mas se o sonho foi acalentado por alguns, em dois minutos virou pesadelo para todos, quando Jair cobrou uma falta à quarenta metros do arco inimigo – cometida por Sarno sobre ele – com mais veneno que força. O quique da bola próximo a Oswaldo Baliza o atrapalhou na defesa. A pelota passou por debaixo de suas pernas e foi mansamente às redes. O Vasco desempatava: 4 x 3. O goleiro chorou ante à infelicidade no lance e o desânimo do time com o gol tomado era visível na feição dos próprios atletas.

Aos 34 minutos o Almirante aumentou com Chico, após cabecear sem chance de defesa para Oswaldo Baliza uma bola que iria para fora, não fosse a intervenção do ponteiro vascaíno.

Ainda em busca de uma reação o Botafogo teve outro pênalti a seu favor marcado, a um minuto e meio do fim, cometido por Sampaio, mas Otávio atirou na trave, encerrando de vez as chances alvinegras no clássico.

Com o placar definitivo de 5 x 3 seguia 100% o Expresso, rumo ao Bicampeonato Municipal.

Barqueta, Sampaio, Rubens e Berascochea, este último enquanto teve fôlego, se destacaram, mas Jair e Ademir foram de longe os melhores do Vasco. Pelo lado botafoguense Negrinhão, Laranjeira, Otávio e Spinelli fizeram um bom jogo, mas o grande nome do conjunto foi mesmo Heleno de Freitas, embora tivesse demorado a engrenar em campo.

A renda recorde do certame, mais de 91 mil cruzeiros, foi quebrada numa peleja digna da tradição dos dois clubes.

Felizes os que viram, saudosos os que relembram. Afinal ficou marcado na história do clássico aquele 5 x 3 de 1945.

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Jornal dos Sports (04/06/1945)

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O Globo (04/06/1945)

Outros jogos do Vasco em 03 de junho:

Vasco 3 x 2 Bangu (Carioca 1923)

Vasco 3 x 0 Flamengo (Carioca 1928)

Uberaba 0 x 1 Vasco (Amistoso 1951)

Espanyol-ESP 2 x 3 Vasco (Amistoso 1956)

Moto Club 0 x 2 Vasco (Amistoso 1960)

Vasco 5 x 1 Portuguesa (Carioca 1987)

Vasco 2 x 1 Bangu (Carioca 1989)

Boa Esporte-MG 0 x 2 Vasco (Brasileiro – 2ª Divisão 2014)

Casaca!

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