Arquivo da categoria: Coluna do Torcedor

O Troféu Brasil de Natação e a concepção de Vasco

O TROFÉU BRASIL DE NATAÇÃO E A CONCEPÇÃO DE VASCO

Entre os próximos dias 09 e 12 de Dezembro, o Parque Aquático do Club de Regatas Vasco da Gama receberá o Campeonato Brasileiro Absoluto de Natação (Troféu Brasil), promovido pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). O evento marca o retorno das competições nacionais de forma presencial em 2020, reunindo os melhores nadadores do país. Ele também servirá como seletiva para a formação da seleção brasileira para o Campeonato Sul-Americano de Buenos Aires, no próximo ano. A transmissão do Troféu Brasil será realizada pela TV CBDA, que pode ser acessada pelo link: tvcbda.tvnsports.com.br. Diariamente, as eliminatórias ocorrerão às 9h30 e finais às 18h (de Brasília).

A escolha do Parque Aquático do Vasco, além de reafirmar a importância histórica do clube na promoção do desporto, ocorre na esteira do esvaziamento das instalações do Complexo Esportivo do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Desde que assumiu o governo do estado homônimo, em 2017, a gestão Dória vem sucateando e tornando o espaço inutilizável, em contrariedade ao interesse público e com objetivo entregar a área para atores privados (que pretendem, inclusive, destruir a estrutura voltada aos esportes aquáticos). Para tanto, o governador inviabilizou o uso pelo cidadão paulistano e não somente abandonou as políticas de fomento para formação de atletas e realização de eventos, mas passou a cobrar das federações para tais atividades. Nesse sentido, o governo de São Paulo havia cobrado R$ 33 mil da CBDA para realização do Troféu Brasil. O Vasco, por sua vez, cobrou R$ 15 mil da Confederação; um valor referente somente ao custo de uso do espaço, englobando energia elétrica, limpeza, segurança, manutenção, etc. Nesse sentido, o Clube reafirma sua vocação pública de promotor do esporte, em um cenário em que o Estado não cumpre suas obrigações sociais e está sequestrado por interesses mercadológicos.

Nesse contexto, contudo, é preciso compreender a importância histórica do Parque Aquático do Vasco, as ações recentes que procuraram resguardá-lo perante ameaças a sua existência e a filosofia que está por trás da manutenção deste importante espaço. O Vasco, como é de conhecimento geral, foi fundado como um clube de regatas, dedicado à prática do remo. Sendo assim, a vocação para desportes aquáticos sempre estiveram conosco. Os primeiros passos da instituição na natação ocorreram a partir de 1925, com participações em provas de maratona aquática. De início, reafirmando seu potencial voltado à vitória, o cruzmaltino sagrou-se tetracampeão da Travessia da Guanabara. As conquistas passaram às provas de piscina a partir da década de 1950, tendo como ponto central o Parque Aquático de São Januário. A estrutura foi inaugurada em meados de 1953, sendo a maior instalação deste tipo na América do Sul e a terceira maior do mundo; a piscina principal foi baseada no modelo utilizado nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952.

As décadas seguintes continuaram a ser de destaque para o Vasco na natação, sobretudo nas categorias de base, na formação de atletas e na promoção do desporto. Contudo, o ponto mais alto seria alcançado com o Projeto Olímpico vascaíno, na década de 1990, capitaneado pelo presidente Eurico Miranda. Diversos atletas conquistaram medalhas em Mundiais, Jogos Pan-Americanos e Olimpíadas. O cruzmaltino, inclusive, foi tricampeão do mesmo Troféu Brasil entre os anos de 1990 e 2001. Além disso, o Parque Aquático do Vasco foi sede do da Copa do Mundo de Natação, em 1998, e de diversos outros eventos nacionais e internacionais.

Apesar de sua relevância social e do histórico de conquistas, os esportes olímpicos do Vasco foram deixados de lado durante os anos de 2008 e 2014. Produto de uma visão de mundo tacanha, a administração do MUV contrariou as raízes históricas da instituição e trabalhou para reduzi-la a uma espécie de “Vasco Futebol Clube”. Nesse sentido, houve o abandono de diversas práticas esportivas, negligência com possibilidade de angariar recursos através de leis de incentivo ao esporte e a destruição do patrimônio do clube. No que diz respeito ao Parque Aquático de São Januário, as instalações foram completamente abandonadas, quase destruídas: não havia manutenção, piscinas sem água e expostas a depreciação causada pelo clima, e com o espaço funcionando, literalmente, como depósito de lixo.

Felizmente, a partir de 2015, com o retorno do presidente Eurico Miranda ao comando do clube, os esportes olímpicos foram retomados. O Parque Aquático do Vasco foi revitalizado, por intermédio de uma parceria com a Confederação Brasileira de Clubes, sendo reinaugurado em 2017 e passando a estar disponível para os atletas e paratletas cruzmaltinos. Contudo, a recuperação do espaço não foi fruto do acaso, mas produto de uma filosofia sobre o que deve ser o Vasco:

a) A visão de que o clube tem como missão incentivar diferentes modalidades do desporto e formar atletas;
b) O dever de promover a inclusão social e a cidadania através do esporte;
c) Construir e manter espaços que contribuam para formação de torcedores e atletas amadores identificados com a instituição, por intermédio da sociabilidade estabelecida nos espaços do clube;
d) A valorização do patrimônio do Vasco.

A realização do Troféu Brasil de Natação no Parque Aquático do Vasco não é mera coincidência. Ela é fruto de uma concepção de Vasco e serve como um ponto de reafirmação do compromisso histórico da instituição. Tendo superado ataques de setores internos, que se diziam vascaínos, a promoção esportes olímpicos e da cidadania continuam como pontos norteadores da nau vascaína.

RAFAEL DE PAULA
Historiador
Sócio Geral do Vasco

As mídias e as tentativas de distorção histórica

Por: Marcelo Mosqueira Taveiros

Ano após ano, até completar, neste ano de dois mil e COVID, meio século de vida, observei absolutamente estarrecido as distorções de uma imprensa (hoje mídias), nem sempre comprometidas em informar, de forma acadêmica, certos fatos, como de fato se deram.

A inserção do negro no futebol é um tema, dentre tantos outros, que apenas aqueles que possuem a audácia de se aprofundar, conseguem discernir, enxergar, a escuridão imposta por certos interesses comerciais.

Comemorar o fato de que o Club de Regatas Vasco da Gama, talvez seja o único Club de futebol no mundo, que comprova a ousadia de não se coadunar com uma visão elitista, preconceituosa, (quer em termos de sociais ou de raça) não significa, eternamente condenar, os demais, aos holofotes da vergonha.

Não. Isso inclusive, é uma forma irresponsável de se tratar a história. É necessário sempre contextualizar o momento, e a visão de mundo de determinado tempo.

Entristeço-me apenas, quando deliberadamente, repetidas “reportagens” distorcem, o que de fato tornou o Club de Regatas Vasco da Gama, pioneiro.

Pouco importa saber (e esta discussão parece nunca ter fim), qual foi o primeiro clube de futebol a utilizar um atleta negro. No Rio de Janeiro, como que para diminuir o feito do Vasco da Gama, atribui-se ao Bangu tal honraria e é ai que só quem se aprofunda, só quem não se contenta com o que interesses comerciais pretendem, é capaz de compreender, sem condenar ou julgar, o tamanho do passo dado pelo nosso Gigante Club.

O que “ofendeu” os dirigentes dos Clubes do Rio de Janeiro, no longínquo ano de 1923, foi o título conquistado por um Club recém saído da segunda divisão.

Possuir este mesmo Club, negros e analfabetos em seu elenco, dava a tal ousadia o caráter de inaceitável.

Comemorar, etimologicamente falando, significa lembrarmos juntos. Aos amantes da História e a verdade dos fatos, que condenam os vascaínos como chatos por tamanho orgulho, é necessário insistir, ano após ano, que Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense, “aceitariam” a presença do Vasco da Gama nos campos, desde que, doze jogadores fossem excluídos de seu elenco.

Nosso posicionamento quanto a esta determinação, damos o nome de Resposta Histórica.

(…) “São esse doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de suas carreiras, e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa dos que os acolheram, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias”. (…)

O que interesses comerciais e midiáticos tentam distorcer, precisa ser refutado, sem ofensas, desaforos (tão próprio e característico dos que são insensatos).

Mais do que necessário, é dever dos historiadores, preservar, elucidar, dar verdadeira luz… que jamais podemos permitir, ser apagada.

Por: Marcelo Mosqueira Taveiros
Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2020.

“Ao Vasco tudo” ?

Realidade – Coração – Espírito

Dois mil e dezenove, um realismo frustrante para qualquer vascaíno acima dos 30 anos.

Lá se vão 19 anos do último brasileirão, certo que em 2011 tivemos a Copa do Brasil, um lampejo de luz na alma vascaína.

Qualquer vascaíno de fato sabe que é muito pouco, precisamos de mais e mais!

A luta atual é para não cair, pois se cair, pode fechar o clube e entregá-lo aos abutres que lá esperam ansiosos para o trágico fim em um picadeiro boçal.

Claro que acreditamos na força da instituição CRVG para nos mantermos de qualquer maneira na primeira divisão, espero que consigamos!

Mas o fato de viver nessa penumbra já é um rebaixamento moral, jamais pensado em épocas não muito distantes.

Fomos atingidos por um longo processo de apequenamento, onde o que menos importa é quem o criou, na atual crise o importante é todos darem as mãos e seguirem o grande Almirante.

Como sair disso sem encarar a realidade de que nossa marca se desvalorizou, nosso patrimônio se desvalorizou, e até nossos dirigentes não são mais os mesmos.

Mas o que nunca se desvalorizou foi a nossa torcida; com um espírito do grande navegador, continua com sua alma ilibada pronta para novos desafios e sempre exigindo que o CRVG continue na proeminência do futebol brasileiro.

É dever de todo vascaíno continuar na luta diária, alimentar sua alma com a nossa historia.

Tivemos grandes heróis vascaínos, dos mais conhecidos aos torcedores de “radinho”, que nunca saberemos os seus nomes, mas o Almirante certamente sabe, e são esses desconhecidos vascaínos que nesse momento de dor e de vergonha devem manter a instituição CRVG no seu mais alto patamar.

Jamais devemos aceitar menos do que somos!

Pouca importa se o dirigente que lá está é bom ou não, devemos nos importar com qual maneira podemos contribuir para o clube.

É nesse concerto harmônico, de fidalguia, de valentia e com muito amor no coração, que resgataremos nosso lugar no momento atual.

Óbvio que apenas com boas intenções não se muda a trajetória, o clube precisa se profissionalizar, se organizar administrativamente onde exista um departamento comercial forte e competente.

Hoje quem cuida do comercial é o marketing, fato administrativo bizarro para qualquer profissional júnior.

Um clube com o tamanho de arrecadação de valores que em números supera muitos municípios pelo Brasil, não saber se organizar administrativamente é uma vergonha, a ADMINISTRAÇÃO DO CRVG É JUNIOR!

Devemos também ter em nossos quadros dirigentes profissionais e estatutários que não busquem a fama. Caso a queiram, coloquem uma melancia no pescoço, ou façam vídeos amadores com suas respectivas esposas para canais adequados.

O Vasco é o ator principal. Precisamos de anônimos compromissados com o único objetivo de reerguer o Almirante, para isso só com trabalho e mais trabalho.

Onde existe o amor, a mentira jamais poderá permanecer, muito menos um fundo do Aladdin para um clube cristão.

Viva o Vasco!

Hugo Leonardo Cabral

Descanse em paz Guerreiro

Um dos Vascaínos mais ilustres e mais injustiçados que o Vasco produziu. Trabalhou incansavelmente pelo Vasco. Acertou infinitamente mais do que errou. Fez o Vasco voltar a ser respeitado.

Eu peguei uma ocasião no tempo de Aghartino Gomes que o Vasco passou doze anos sem campeonato carioca, desprezado, humilhado, tempo em que a dupla urubu x flor era a queridinha da midia. Eurico Miranda acabou com isso. Entregou sua vida e saúde para o Vasco e até a família ele colocava em segundo plano pelo Vasco.

Nos seus tempos de glória podia fazer uma pesquisa que 100% dos torcedores adversários desejavam ter um Eurico Miranda em seus Clubes. Pessoa de palavra em que a palavra dada valia tanto quanto um documento assinado (quem trabalhou com ele diz isso). Os netos das pessoas que brigaram, criticaram e repudiaram Eurico Miranda enquanto vivo serão aqueles que no futuro erguerão em São Januário uma estátua em homenagem a memória de Eurico Miranda. Palavra profética que se cumprirá.

Descanse em paz Guerreiro.

Sérgio Durço

Eterna gratidão

Lá pelo início dos anos 90, minha irmã deveria ter uns 12 anos e praticava basquete na escolinha do Vasco. Os meus pais, trabalhavam na Tijuca e depois do expediente passavam em São Januário para busca-la após os treinos. Ela fazia basquete junto com uma menina que também era nossa vizinha. Então, os respectivos pais das duas se revezavam na tarefa de ir ao clube para buscá-las nos dias de treino.

Um certo dia, a mãe da menina que era nossa vizinha não pôde ir buscá-las no dia da sua escala. Ela não foi, não avisou meus pais e nem a sua própria filha. Meus pais estavam em casa e tranquilos porque não era o dia deles de ir pega-las. Minha irmã sempre chegava em casa entre 19h e 20h. As duas acabaram o treino e, normalmente, ficaram esperando a mãe da outra menina, que não chegou! Em casa ficamos preocupados com a demora da minha irmã. Quando foi umas 21:30, minha irmã ligou para nossa casa avisando o que havia acontecido. Era tarde para ela sair sozinha de São Januário a pé.

Ela relatou que ambas haviam tentado ir embora indo para o ponto pegar um ônibus, que não passava, enquanto o local foi ficando deserto. Então, as duas acharam melhor voltar para o Vasco, tentar ligar para casa e ficar aguardando algum adulto ir buscá-las.  Quando voltaram para o clube, este já estava fechado. Elas então explicaram a situação para os seguranças, que imediatamente ligaram para o Eurico. Ele não estava mais no clube mas fez questão de regressar. Ele orientou os seguranças para que deixassem as meninas entrarem e disse que estava a caminho. Quando chegou, foi muito cortês com minha irmã e sua amiga, conversou com elas, dando toda atenção e lhes entregou fichas de telefone, as orientando para ligarem do orelhão de dentro do Vasco para suas casas. E ficou aguardando no clube até a chegada dos meus pais.

Já passava das 22h quando meu pai chegou ao clube para buscá-las. Então, minha família ficou muito grata ao Eurico por ter sido responsável por duas crianças. Contei essa história para te dizer que sempre procurei enxergar o homem por detrás do grande dirigente. Sou muito grato ao Eurico por ter ajudado minha irmã. Sou muito grato ao Eurico por ser vascaíno e ter visto meu time vencer conquistas maravilhosas e inesquecíveis e por toda dedicação dele de que fui testemunha. E, graças à Deus, pude manifestar minha gratidão a ele através do meu apoio.

O que dei ao Eurico foi muito pouco em relação a tudo que ele me deu. Mas meu sentimento é sincero! Estamos todos tristes hoje como se tivéssemos perdido um ente familiar. Que Deus o abençoe e possa conceder a paz ao espírito do Eurico nesta nova jornada. Farei minhas orações para ele e serei eternamente grato por tudo.

André Vinicius Senra

A Torcida que Faz Gol

A resiliência da torcida do Vasco ontem foi incrível. Me fez lembrar daqueles suburbanos e pretos pobres que foram agredidos nos arredores das Laranjeiras em 1923 por torcedores do Flu (e Fla!) depois do título. E que, no ano seguinte, voltaram lá e levaram mais um caneco pra Colina. E que, depois, quando seu clube, vitorioso, foi impedido de disputar o campeonato por conta de seus jogadores pobres e negros, seguiu o apoiando incondicionalmente. E que, quando o requisito exigido pelos rivais da Zona Sul para a presença na competição foi a propriedade, um estádio, ajudou a construir o maior deles até então, São Januário. E que, nos anos 1970, quase que como uma necessidade de autodefesa, apoiou o nascimento da Força Jovem. E que, nos anos 1980 e 1990, não se curvou à imprensa rubro negra com seu menosprezo aos títulos vascaínos e suas insistentes propostas de criação de ligas alternativas – sem o Vasco, claro. E que, no fim do século passado, empurrou o time nas conquistas nacionais e internacionais. E que, com o troféu da Libertadores em mãos, a caminho de São Januário, decidiu dar uma passada na Gávea para exibi-lo. E que, ontem, foi para um estádio no qual não se sabia se poderia entrar. Foi assistir a um jogo que não saberia se poderia assistir.

Mas foi mesmo assim, e de lá não arredou pé. Uma torcida que enfrentou a polícia com seus cavalos, gás, bombas e covardia, e que se dispersou apenas para se reagrupar novamente. E que colocou de joelhos a desembargadora dondoca, o MP, a imprensa, a polícia e o bispo de olhos vermelhos. E que, uma vez no seu lugar de direito, clamou por uma marcação pressão que resultou numa roubada de bola e em uma falta próxima à área tricolor.

As imagens ficaram sendo observadas por diferentes ângulos pra saber se a bola havia tocado em alguém antes de ganhar as redes. A autoria do gol ficou em suspenso. Ela foi tocada sim, mas quem o fez não foi o garoto Marrone. Quem a desviou para o gol foram os resistentes torcedores vascaínos, os de ontem e os de 1923.

Felipe Demier

A VELHA PARCIALIDADE DA MÍDIA BUGADA

 

No dia 07/05/2017, Flamengo e Fluminense faziam o segundo jogo da final do Carioca daquele ano, vencida pelo rubro-negro e decretando o título de campeão a equipe da Gávea.

O Flamengo foi campeão estadual daquele ano, mesmo sem ter vencido um turno sequer do certame, na medida em que o Fluminense ganhara a Taça Guanabara, e o Vasco a Taça Rio.

A final de hoje reflete situação semelhante à do ano passado. Vasco e Botafogo decidem a competição sem que ambas conquistassem um turno.

Mas o que me causa mais estranheza é a maneira pela qual o Jornal Extra noticiou ambas as matérias. Em 2017, não houve qualquer menção sobre esse “fato curioso”. Duvida? Segue abaixo:

2017

2018

Por: Caio Hasche

Portões Fechados

Portões fechados.

Eis o fato que será percebido por grande parte dos vascaínos no jogo de hoje. Fato este que não se exaure em si mesmo.

Outros portões foram batidos à face do tal do direito. Foram sistematicamente fechados, a partir do momento em que uma, dentre tantas ações, prosperou em uma determinada Vara. Sim, o direito de petição é garantido. Entretanto, também o são o direito à ampla defesa e ao contraditório, como, analogamente, deveria ser o devido processo legal.

Ainda assim, tentou-se que os portões fossem abertos.  Apelamos aos semideuses guardiões das chaves, numa oração longa, bem feita e, sobretudo, muito bem fundamentada. A resposta foi um trovão que não durou mais do que algumas linhas no processador de texto. Semideuses são assim. Não são deuses. Se lhes abunda a onipotência, falta-lhes a onisciência. E a isso se deve toda sorte de atropelos ora vivenciados.

Rafael Furtado

Doutrinando otários, fazendo deles bovinos

Mais de oito mil invadindo o estádio sem ingresso, nas ruas idosos caindo, crianças chorando, atropelamento, saque, roubo e pancadaria generalizada, tudo ao mesmo tempo e na tevê os apresentadores, repórteres e comentaristas não pediam punição imediata, não, nem se mostravam indignados contra um clube específico, nem contra um dirigente, muito menos contra um estádio. Concordavam todos, isto sim, que aquelas cenas lamentáveis, envolvendo milhares de pessoas com a camisa de um mesmo time, eram um problema grave, mas de toda a sociedade.

Passada a onda do cheirinho, sem mais possibilidades de título para o queridinho no campeonato, a mídia viu no fim do ano passado a chance de uma felicidade ainda maior, com o possível não acesso do Vasco. Só que não. A mídia então entrou 2017 enfatizando sempre que podia, com números, tentando até ironia, a diferença abissal que havia no momento entre o queridinho dela lá em cima, favorito a todos os títulos, inclusive Libertadores, e o Vasco, que lutaria única e exclusivamente, o ano todo, pra não ser rebaixado.

Não importava muito que ali, no comecinho de 2017, o Vasco estivesse há nove jogos sem perder para o rival, com seis vitórias e três empates, tendo eliminado o queridinho da mídia em dois mata-matas num mesmo ano, no Carioca e na Copa do Brasil. Não, nada disso importava e passou a importar menos ainda depois do fim do jejum do Flamengo contra o rival mais odiado, logo antes do carnaval, na semifinal da Taça Guanabara, numa vitória que, pro lado deles, na história do confronto, pode ser considerada clássica: um a zero com gol de pênalti duvidoso, maroto.

Mas não pra mídia, claro, que além de ratificar, garantir a nitidez do pênalti maroto, inovou na final da Taça, na primeira mostra dada pelo queridinho no ano de que mesmo com o supertime de supercraques superfavoritos a tudo, sem a ajudinha extra de sempre, não dava. Tendo ao fundo a imagem dos jogadores do Fluminense comemorando a vitória nos pênaltis, a emissora detentora de todos os direitos de transmissão, de todos os campeonatos à base, diz o FBI, de muita propina, não exibiu o escudo do time com a inscrição esperada, de campeão, não. Em vez disso exibiu na tela a lista de todos os campeões da Taça, por ordem de número de títulos, que mostrava em primeiro, em cima, altaneiro, o time que acabava de ser vice pela primeira vez no ano, no caso, o Flamengo.

A eliminação diante do Vasco na semifinal da Taça Rio, em meio à Libertadores, foi considerada quase benéfica para o queridinho, ainda mais com o 0 a 0, sem derrota. E na final ainda mais desvalorizada pelo absurdo do regulamento, com a vitória cruzmaltina sobre o Botafogo dentro da casa deles, nem antes nem depois de Luis Fabiano, tendo desencantado fazendo o gol do título, erguer o troféu, em nenhum momento a emissora investigada exibiu a lista de todos os campeões da Taça, que mostraria em primeiro, no alto, o Vasco, e em segundo, o Flamengo.

E na final do campeonato, depois de ter quase ignorado a simulação de um árbitro, assunto no mundo inteiro, pra gritar sobre um pênalti que nada valia, a mídia fez vista grossa a outro daqueles fatos inacreditáveis que só acontecem com o Flamengo. Com a vitória de 1 a 0 do Fluminense, o jogo se encaminhava pra decisão por pênaltis quando, lá pelos quarenta do segundo tempo, Réver subiu fazendo falta escandalosa no adversário, pra cabecear a bola que redundou no gol de Guerrero. O juiz não só não marcou nada, como vibrou com o gol ilegal validado por ele, cerrando e balançando o punho rapidinho no calor do momento, sem conseguir se conter com a bola estufando a rede.

Enquanto isso, sem dar a menor importância aos sentimentos indisfarçáveis do árbitro, a mídia comemorava, repetia confiante, feliz, o que já havia feito seis, sete vezes antes de eliminações quase todas vexaminosas de seu queridinho na Libertadores. E de novo não deu outra. Gol do San Lorenzo no último minuto, gol de Casalbé pro Furacão no solo sagrado do Chile, e o Flamengo estava eliminado na fase de grupos do torneio pela terceira vez seguida, a quinta no total, recordista absoluto, entre os brasileiros, neste quesito.

Nisso o jornal com o mesmo nome da emissora suspeita de corrupção, sonegação e otras cositas más já tinha publicado o guia do Campeonato Brasileiro, iniciado havia menos de duas semanas. E além das previsões alvissareiras, de favoritismo absoluto para o seu queridinho, o guia do jornal falava também até em título e disputa lá em cima, mirando a Libertadores, pelo menos nos subtítulos das páginas destinadas ao Botafogo e ao Fluminense. Quanto ao Vasco, só se falava de briga contra nova queda, de dificuldades à vista, muitas, de rebaixamento.

Por si só histórica, tal edição do guia do jornal movido a passaralhos tem ainda uma sutil alteração em relação às de campeonatos anteriores, pero muy significativa. Como se sabe, pela milionésima vez a Justiça decidiu que um time que correu da decisão não pode ser declarado campeão só porque a imprensa diz isso. Depois de pleitear o título só pra ele esgotando todos os recursos, o queridinho da mídia perdeu o último recurso pra pleitear a divisão do título. A não ser que o clube peça agora à Justiça assim, na boa, pelo menos um terço do campeonato, só pra dizer por aí que é hexa, sabe cumé…, se isso não acontecer, acabou, finito.

Terminou a contenda na Justiça e sumiu, assim, o asterisco na lista de campeões nacionais publicada anualmente no guia. Não há mais a explicação em letra miúda, lá embaixo, sobre o motivo de num ano haver dois campeões assinalados, mas a lista continua com os dois campeões de sempre, o queridinho ainda hexa por birra, desejo irrefreável ou demagogia, e danem-se os fatos, a fuga do quadrangular final, a Justiça.

O asterisco agora aparece em outra lista, a dos campeões sulamericanos, ou da Libertadores, como prefere colocar a mídia em geral, inclusive o citado jornal, que se apega à nomenclatura diversa dos torneios (como se o Brasileirão já não tivesse sido João Havelange, Taça de Prata, Ouro, Copa Brasil ou Robertão) e à ordem alfabética pra manter o Flamengo acima do Vasco, cada qual com um título. E embaixo, ele, o asterisco, a avisar em letra pequenininha que o Vasco foi campeão dos campeões sulamericanos em 1948.

Em 1996, a Conmebol reconheceu oficialmente o campeonato sulamericano de 48 do Vasco e como mostra cabal de que o nível do título não ficava um milímetro abaixo da principal competição do continente (historicamente, como primeiro campeonato continental da história, 48 vale mais que qualquer Champions League da vida), incluiu o clube entre os participantes da Supercopa dos Campeões da Libertadores, um ano antes de o Vasco conquistar também a Taça e com ela o bicampeonato continental, sem ajuda do juiz e no ano do centenário.

O curioso é que, ao contrário do asterisco da lista dos campeões brasileiros, referente a 87, que sempre transformou o três do Flamengo em quatro, depois o quatro em cinco e por fim o cinco em seis, o asterisco de 48 não transforma o 1 do Vasco na lista de campeões continentais em 2. Imagina, botar o queridinho embaixo, o desavisado que fizesse isso certamente estaria sujeito a broncas do editor ou até quem sabe, já que por lá se manda tanta gente embora, a toda hora, a uma demissão, quiçá por justa causa.

Mas falávamos do guia, sobre o Vasco lutando só pra não ser rebaixado, e como mostra o texto anterior publicado aqui neste blog, as previsões sombrias do jornal começaram a se tornar furadas cedo, na primeira metade do primeiro turno do campeonato, com o time com aproveitamento de campeão em casa, arrecadando, enchendo São Januário homenageado na camisa, pelos seus noventa anos. Aí veio o jogo contra o queridinho da mídia e o atentado ao nosso caldeirão, com a mídia indignada, fazendo cara de raiva não pra quem incitou a violência nas redes sociais, com objetivos eleitoreiros, muito menos para o policial que postou nas mesmas redes a foto dele com a camisa do Flamengo, ao lado do vídeo dele se divertindo a valer no gramado de São Januário, deixando o pau comer solto e dando tiros a esmo no meio da arquibancada lotada.

A revolta dos apresentadores, editores, repórteres e comentaristas, as fisionomias sérias, pedindo punição severa, eram todas destinadas ao Vasco, ou na figura do presidente do clube, ou na de seu estádio, cuja segurança era questionada a cada parágrafo do noticiário. Mas mesmo com tudo isso, mesmo sem torcida, sem estádio, sem pênalti marcado o Vasco com Martin Silva no gol e Anderson Martins na zaga voltou a brigar pela vaga na Libertadores, estilhaçando de vez, já na primeira metade do returno, as bolas de cristal que só viam rebaixamento.

Os mesmos especialistas que previam antes pro Vasco a luta ferrenha contra a queda passaram a dizer que só com G9 o time chegaria a Libertadores, e alguns deles criticavam abertamente o excesso de vagas pra principal competição do continente, como se a Conmebol estivesse deixando entrar qualquer um. Um deles, ao vivo, citou por duas ou três vezes, no mínimo, na reta final e depois de terminado o campeonato, o aproveitamento de menos de 50% do Vasco como exemplo da tal banalização do torneio.

O Vasco tem menos de 50% de aproveitamento e está na Pré-Libertadores, dizia o especialista, e nas três ou quatro vezes em que disse isso o jornalista não lembrou que com aproveitamento idêntico, e isso somente graças a mais um pênalti estranho, no último minuto, aliás parecido com aquele cometido por Everton Ribeiro em São Januário, obviamente não marcado, com o mesmo número de pontos e de vitórias que o Vasco, o Flamengo não está na Pré-Libertadores, mas na fase de grupos.

Vice-campeão da Copa do Brasil profissional e da Copa do Brasil sub 20 no mesmo ano, o queridinho da mídia favorito a todos os títulos terminava o campeonato com a mesma pontuação do futuro virtual rebaixado, e os jogadores rubro-negros se abraçavam, comemorando efusivamente o pênalti caído do céu, estranho, muito estranho, que lhes garantia o sexto lugar e a calma necessária, diziam, pra vencer, enfim, pela primeira vez na história, uma final continental contra um grande clube estrangeiro. Só que não.

O Flamengo perdeu para o Independiente a decisão da Copa Sulamericana e se tornou o maior vice de copas secundárias da América, vice da Supercopa dos Campeões da Libertadores em 93 e 95, vice da Mercosul em 2001 e, agora, vice da Sulamericana, vice de todos os tipos de torneios secundários já inventados no continente, tetra vice, assim como na Copa do Brasil. E na noite da final, no entorno das modernas e semiabandonadas instalações do Novo Maracanã, o que se viu foi a barbárie, algo muito, mas muito além do caos orquestrado no velho e querido São Januário. Mais de oito mil invadindo o estádio sem ingresso, nas ruas idosos caindo, crianças chorando, atropelamento, saque, roubo e pancadaria generalizada, tudo ao mesmo tempo e na tevê os apresentadores, repórteres e comentaristas não pediam punição imediata, não, nem se mostravam indignados contra um clube específico, nem contra um dirigente, muito menos contra um estádio. Concordavam todos, isto sim, que aquelas cenas lamentáveis, envolvendo milhares de pessoas com a camisa de um mesmo time, eram um problema grave, mas de toda a sociedade.

Quanto ao Vasco, depois de prever rebaixamento e ver o time conquistar uma impensável, pra ela, vaga na Libertadores, a mídia não exaltou o feito conquistado com São Januário em sua melhor forma após a punição, abarrotado, feito extraordinário segundo os próprios prognósticos dela. Em vez disso tem preferido concentrar o noticiário sobre o clube na política, a mostrar o quanto será difícil, muito difícil a trajetória do time em torneio tão complicado, em meio ao imbróglio eleitoral que jamais poderia prosperar sem a ajuda providencial dela, a mídia.

E se existe mesmo alguém que sinceramente torça para o Vasco e não está feliz com o ano terminado, com essa campanha desde já histórica, por todos os obstáculos criados, por todas as previsões furadas, pelos pênaltis não marcados; se vascaínos de fato preferem seguir a pauta da mídia e acham que tá tudo errado com o time de volta à Libertadores com Martin Silva no gol, Breno e Anderson Martins na zaga, Paulinho prestes a estourar, já tendo decidido muito mais este ano do que a nova joia superfaturada da Gávea, e ainda Evander, Mateus Vital, Guilherme etc, com Nenê de maestro e cia; se tantos e tantos torcedores comentam nas redes, alguns até que não são fakes, preocupados mesmo em tirar o presidente pra botar no lugar o grupo político que deixou o clube insolvente, rebaixado duas vezes, fazendo dessa forma, direitinho, a vontade da mídia anti-vascaína; se há torcedores do Club de Regatas Vasco da Gama que querem o bem do time e ainda assim não perceberam o momento, a iminência de disputar a Libertadores com um bom técnico, uma boa equipe, e iniciando a caminhada, setenta anos depois da primeira conquista, no mesmo Chile; se esse tipo de torcedor prefere reclamar, acreditando na tal da mídia, então, com todo o respeito, só se pode chegar à conclusão de que este sincero vascaíno é um otário, e de otário pra bovino, só falta o mugido.

Fonte: pautaevasco.blogspot.com.br

Sobre bolas de cristal estilhaçadas

Setenta anos depois de 1948, vinte anos depois de 1998, o Vasco estará de volta à Libertadores em 2018. Torcida, jogadores, dirigentes e comissão técnica se abraçaram ao apito final contra a Macaca, num São Januário com recorde de público, mais de 22 mil pessoas celebrando e a mídia, alguns especialistas que previram a luta ferrenha contra o rebaixamento já lançavam ali seus prognósticos, dizendo que o time precisaria de muitos, muitos reforços, que o elenco, pra disputar uma Libertadores, era limitado.

No início, no primeiro minuto do campeonato teve o pênalti marcado contra o Vasco, estreando contra o campeão e fora de casa. Jomar não tocou no adversário, mas narrador, comentarista, repórter, todos concordaram que tinha sido pênalti mesmo, assim como o puxão que Yago Pikachu levou dentro da área uns dez minutos depois, este não marcado e logo esquecido, porque o time levou o segundo, o terceiro e o quarto. Quatro a zero Palmeiras e toda a mídia esportiva afirmava, em unanimidade rodrigueana: o Vasco vai brigar pra não ser rebaixado.

A declaração do presidente do clube, de que o time iria pras cabeças, virou meme e fez a festa de especialistas, mas não por muito tempo, porque logo na segunda rodada, contra o Bahia, entrou em campo um senhor nonagenário. Homenageado na camisa, pelos 90 anos completados neste 2017, São Januário, lotado, viu a vitória sobre o Tricolor baiano com gols do mesmo Pikachu do pênalti não marcado e de Luis Fabiano, fazendo o seu de número 400.

No jogo seguinte, ainda mais abarrotado, o velho e elegante estádio que, espero, jamais virará arena viu novo gol do Fabuloso, abrindo o placar, depois o festival de pênaltis pro Fluminense virar e então o petardo de Manga Escobar, que em seu jogo de glória com a camisa cruzmaltina deu ainda o passe pra que Nenê, no minuto final, virasse de novo o placar. Êxtase, delírio, loucura em São Januário que, depois da derrota maluca para o futuro campeão, veria ainda o time ganhar do Sport com Fabuloso marcando o primeiro, de novo ele, e o segundo de Douglas Luiz, mais recente joia milionária da base.

Contra o Avaí, Nenê arrancou pela esquerda pra dar o gol da vitória a Pikachu, na pequena área, e no jogo seguinte em São Januário, contra o Atlético Goianiense, o camisa 10 garantiu os três pontos em cobrança perfeita de falta. Em seis jogos, o Vasco conseguia a quinta vitória no gramado inigualável em história do estádio que não é só templo, nem somente caldeirão ou solo sagrado, é tapa na cara. Somado ao primeiro ponto fora, contra o Coritiba, esse desempenho em casa levou o Vasco, na décima primeira rodada, à sexta colocação, dentro da pré-Libertadores.

Então veio o jogo contra o Flamengo em São Januário, mas antes vieram as mensagens nas redes sociais incitando a violência dentro do estádio, e os ensaios de protestos contra o Corinthians e o Avaí. A política de sempre, a divisão criada, incitada e alimentada pela mídia que sempre torceu contra, sempre torcerá, não importa o presidente. Um grupo político quer voltar a presidir o Vasco, o mesmo grupo que em seis anos e meio de administração deixou o clube com dívidas triplicadas, água cortada, ginásio abandonado, alojamentos da base destruídos e duas vezes, como nunca antes deles na história, rebaixado.

Seis anos e meio porque tal grupo político, com o mesmo candidato atual, simplesmente não marcou as eleições no tempo determinado. Protelou o próprio mandato com a ajuda do Judiciário estadual por seis meses e, nesse período, assinou confissões e mais confissões de dívidas milionárias. A mídia soube disso e chegou a divulgar, sim, mas não nos títulos das matérias, porque na mesma entrevista coletiva sobre o estado em que o clube foi deixado, o atual presidente anunciou a candidatura à reeleição. Motivo dado, portanto, pra que a mídia varresse as denúncias pra debaixo do tapete de seus comentários e continuasse a apoiar incondicionalmente o grupo político que deixou o Vasco em tal estado lastimável, pré-falimentar, e que agora, de novo nos tribunais, quer voltar.

Ninguém na mídia achou estranho o comportamento dos policiais militares, que costumam partir pro confronto munidos de cassetetes, escudo e gás de pimenta, distribuindo cacetadas pra debelar logo qualquer confronto na arquibancada, mas não em São Januário. No estádio nonagenário homenageado na camisa, a PM ficou no meio do gramado, olhando e lançando suas bombas, deixando o pau cantar livre na arquibancada e só aumentando o barulho de guerra, de bomba, o terror descrito pelas fisionomias sérias dos apresentadores, não direcionadas à Polícia Militar nem à oposição, claro que não, mas à vítima de tudo aquilo, ao Vasco.

Nenhum jornalista incomodou o autor das mensagens incitando a violência em São Januário, nenhum repórter ou editor sequer se preocupou com o policial que postou nas redes sociais o vídeo dele mesmo se divertindo à beça atirando, do gramado, bombas de efeito moral no meio da arquibancada lotada. Não houve pena ou voz que cogitasse a possibilidade de todo o ocorrido em São Januário naquele Vasco x Flamengo ter sido provocado pelo grupo político que teria sérias dificuldades eleitorais no fim do ano, se o time continuasse daquele jeito e acabasse, imagina só, na Libertadores.

Não, nem uma suspeita foi levantada contra os aliados enquanto a mídia montava sua tese com a firmeza de um andaime enferrujado, engolindo de um talo, sem pestanejar nem questionar, as denúncias mastigadinhas dos órgãos oficiais. E logo apareceu um promotor parceiro, aliás, um que aparece a toda hora, o mesmo que há dez, onze anos, pediu a destituição da mesma diretoria atual do Vasco por um motivo muito importante, no caso a quantidade de pontos de venda de ingressos. Surgiu esse promotor em cena pedindo de novo a destituição da mesma diretoria, e junto pedindo a interdição de São Januário para todo o sempre, o que nos leva a imaginar qual seria o próximo passo de tão dileto promotor, onipresente nas páginas e telas da imprensa. Pediria ele, por algum motivo tão importante quanto a quantidade certa de pontos de venda de ingresso, pediria ele a demolição do estádio?

O STJD não agasalhou os desejos do promotor, mas impôs pena dura ao Vasco, que primeiro ficou sem seu estádio e empatou com o Santos no Nilton Santos vazio, empatou com o Palmeiras e perdeu do Atlético Paranaense e do Cruzeiro jogando em Volta Redonda. Depois voltou a São Januário vazio pra ganhar do Grêmio com show da torcida do lado de fora, ela que repetiu a dose contra a Chapecoense, no empate com gol espírita que hoje, com a classificação deles pra Liberta e também a nossa, faz todo o sentido.

Nesse tempo difícil o time perdeu também Luis Fabiano, lesionado até o fim do campeonato, e chegou a ficar perto da zona de rebaixamento. Relegada à primeira rodada, e mais nada, a bola de cristal unânime da mídia prevendo a luta contra o descenso esteve a dois, três pontos de voltar a fazer sentido. Os especialistas, com certo ar de alívio, retomavam com força as projeções sombrias para o time, que não vencia há cinco jogos quando Ramon acertou no ângulo pra decretar a segunda das duas vitórias, no turno e no returno, contra o velho freguês das Laranjeiras.

Em seguida veio o show da torcida do lado de fora de São Januário vazio contra o Grêmio, com o gol da vitória de Mateus Vital pra confirmar a ascensão da base vascaína, que se fez presente no momento mais difícil da campanha. Thalles, com um golaço, seu segundo e último no campeonato, teve seu canto do cisne na vitória inédita sobre o Vitória no Barradão, antes de se perder de vez na vida, abandonando um talento nato de goleador pelos prazeres da carne, do “crime”. No mesmo jogo Paulo Vítor fez o terceiro e Guilherme, além da jogada para o gol de Thalles, fez o quarto, sacramentando a única goleada do time, solitária vitória por mais de um gol de diferença em 38 jogos.

Contra o Galo, no Horto, quem brilhou foi Paulinho, que no primeiro gol recebeu bela enfiada de Escudero e no segundo, passe perfeito depois de arrancada fenomenal de Guilherme. E ungido pela sábia simplicidade de Valdir Bigode, Nenê deixou as vaidades de lado pra guiar a garotada na reta final, sendo ele, o veterano de 36 anos, o jogador mais decisivo. Nenê fez o gol da vitória contra o Botafogo, deu as assistências, batendo falta ou escanteio, para os gols de Paulão contra o Cruzeiro, de Breno contra o Vitória e do gol contra do Coritiba, e cobrou com perfeição mais uma falta pra dar a vitória contra o Santos na Vila Belmiro, depois do golaço de empate de Evander.

No jogo final, nosso maestro ainda teve a classe de dispensar o único pênalti marcado para o time em todo o campeonato, porque depois de cinco, seis não assinalados, ali já não precisava, já era tarde. Nenê jogou na trave e deixou os gols da vitória contra a Ponte Preta para o futuro, primeiro pra Paulinho, e depois pra Mateus Vital, ambos com a participação do melhor em campo na última rodada, o mesmo Pikachu do pênalti ignorado contra o Palmeiras, autor do gol inaugural da campanha contra o Bahia, no gramado inigualável em história de São Januário.

Setenta anos depois de 1948, vinte anos depois de 1998, o Vasco estará de volta à Libertadores em 2018. Torcida, jogadores, dirigentes e comissão técnica se abraçaram ao apito final contra a Macaca, num São Januário com recorde de público, mais de 22 mil pessoas celebrando e a mídia, alguns especialistas que previram a luta ferrenha contra o rebaixamento já lançavam ali seus prognósticos, dizendo que o time precisaria de muitos, muitos reforços, que o elenco, pra disputar uma Libertadores, era limitado.

Fonte: pautaevasco.blogspot.com.br